12

Quando chegámos ao hospital vimos um caos enorme. Eu já estava mais do que habituado,mas olhei para o Kayo e vi que ele estava um pouco chocado: havia só ambulâncias a chegarem, médicos e enfermeiras a ajudarem os bombeiros a tirarem as macas de dentro das ambulâncias. Famílias das vitimas enlutadas a chorarem nos passeios. Era um caos total.

Perto das famílias enlutadas estavam as almas a serem recolhidas, todos confusos, muitos gritavam na tentativa de serem ouvidos, mas não obtinham respostas,pois ninguém os via e nem ninguém ouvia os gritos deles desesperados.

Vamos. - disse Kira a Kayo.

Eu fico aqui, tenho aqui alguns para recolher, vou ver se estão na lista no livro.- disse a eles enquanto puxava o meu caderno e começava a chamar por alguns nomes. Kayo disse a Kira que ia ficar comigo.

Não quero atrapalhar. Só quero ver.

Dois dos nomes que estavam na lista meteram a mão no ar.

Cheguem à frente. - pedi tentando ser o mais amável possível. Antes que tentem falar: vocês morreram no acidente do metro. Não vale a pena tentarem falar com a vossa família, porque eles não vos ouvem e não vos vêem. O meu trabalho aqui neste momento é apenas acompanhar-vos até ao vosso destino final. Não vos posso conceder mais tempo com os vossos familiares, não é a minha área, não tenho esse poder.

Mas eu ia para a universidade!!!- gritou uma rapariga que vinha acompanhada por Kira, mais uma senhora já idosa.

Risca a Chloe da lista, esta é minha.- disse ele ao passar por mim.

Certo.- olhei para o caderno e risquei um nome. Depois olhei para os carninhas que ali estavam a fiz sinal para que me seguissem.

São muito silenciosos eles.- comentou Kayo.

Estão em choque,devem ter acabado de chegar,porque quando passa o choque eles são ali como aqueles daquele lado.- apontei com a cabeça. Kayo olhou e acenou com a cabeça.

Próximo passo?

O Horn deve estar quase a vir buscar eles. Fica atento a algum portal que vejas abrir. Eu vou ver naquele grupo se tenho mais alguma alma lá para ir recolher.

Kayo ficou sentado num banco de jardim em modo radar a olhar para todo o lado à espera de ver Horn aparecer, mas nada. Eu, acabei por ficar com o grupo barulhento.

Todos diziam que não passava de um engano, que ainda não tinha chegado a vez deles e que eu tinha de verificar mais do que uma vez,porque depois eu ia ter problemas.

Era aquele o discurso que eu ouvia sempre que ia recolher alguma alma. Umas vezes havia alguns insultos pelo meio, em outras eu tinha de me desviar para não ser agredido por alguma alma ainda em negação, mas o que me custava nesmo era quando chegava a vez das crianças: elas procuravam sempre pelas mães, sentiam-se perdidas e quando acabavam por encontrar as mães elas não as viam, e era aí que o meu coração ficava apertado e tinha vontade de as reconfortar, mas ia dizer o quê? Que a vida delas tinha acabado, que a morte delas tinha acabado de trazer um enorme sofrimento à família? Que eles iam ficar bem quando era mentira? Eu não conseguia.

Horn apareceu vindo de um portal, completamente desgrenhado e já a arrastar os pés.

É esta a última fornada?- perguntou olhando para a lista enorme que tinha na prancheta que trazia com ele.

Sim, os do acidente estão despachados.- disse-lhe enquanto fazia sinal aos ex carninhas para avançarem.

Dia demasiado longo. Mas obrigado pela ajuda. Isto estava a ficar mal parado quando me disseram que vinhas ajudar.- disse Horn enquanto se encaminhava para o portal junto com as almas.

Só vim fazer o meu trabalho. Bom descanso Horn.- disse-lhe enquanto me sentava no banco ao lado de Kayo.

Espero que tenhas visto como se faz.- disse-lhe enquanto olhava para as estrelas.

Foi isto que aconteceu quando morri?- perguntou-me sério.

Não fui eu a recolher a tua alma. Foram os de alto escalão.

Entendo...Onde estavas nesse dia?

Não sei.- menti descaradamente.- Não me lembro.

Era o dia do nosso aniversário. - ele disse enquanto fitava as estrelas também, fazendo o meu sangue gelar.

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