Quase a carregar Kayo, entrei dentro do apartamento dele e ajudei ele a deitar-se no sofá. Era a primeira vez que via de perto o que acontecia a um ceifeiro quando revivia o seu momento final entre os vivos, e eu estava a ficar preocupado com ele sem saber o que fazer.
Liguei para Kira.
Fala, estou à espera do carninha...
Fiz borrada...O Kayo suicidou-se, mas foi por se ter atirado do heliporto do hospital.
-Shiiii, bem, deve estar num lindo estado agora deve...Falaste com o Yuri?
Falei, mas ele só me disse como ele morreu, eu preciso de saber como fazer ele melhorar...Tens alguma ideia?
Bem, não. Normalmente eles passam bastante mal e depois voltam à normalidade. Acho que é mesmo uma questão de dar tempo. Mas não tinhas duas almas para ir buscar? Como vais fazer?
O Yuri disse que vai mandar alguém no meu lugar, e por ter feito ele saltar vou ser penalizado. Acho que vou perder alguns pontos.
Isso já se sabia...Ele adora penalizar...Tenho de ir, o carninha já se atirou para a frente do autocarro escolar...
Pobre de quem vai limpar a estrada...- comentei desligando depois a chamada. Kayo estava de olhos fechados no sofá, tinha o braço apoiado na testa e suava bastante.
Como te sentes?- perguntei-lhe.
Como achas que me sinto?- atirou ele sem abrir os olhos, a voz arrastada.- Para estares assim preocupado é porque fizeste porcaria...
Posso ter feito...Mas estou a tentar ajudar-te. Só preciso mesmo que me digas o que posso fazer por ti.
Neste momento duvido que possas fazer alguma coisa, estou novamente enjoado...
Vou levar-te para o teu quarto para poderes descansar, mais logo vemos como estás.
Ajudei-o a ir para o quarto. Ele deitou-se na cama e eu fiquei sentado no chão no canto do quarto, no canto mais escuro. Tirei o meu casaco e a gravata,atirando-os para um canto. Kayo adormeceu rapidamente num sono profundo e começou a sonhar alto: ao início não consegui perceber o que ele estava a dizer, mas depois de ele ter repetido mais algumas vezes eu percebi.
Não me deixes novamente...- ele sussurrava num pedido doloroso. Quando dei por mim, estava a tirar os meus óculos para conseguir limpar as lágrimas que tinham começado a cair. O meu choro transformou-se num soluço e a dor que eu carregava comigo à imenso tempo quis finalmente manifestar-se. Levantei-me do chão do quarto e fui em direção à wc e fechei a porta: eu não queria que ele me ouvisse chorar daquela maneira.
Olhei para o espelho e fechei os olhos: as vozes de várias pessoas a gritarem em aflição vieram-me à cabeça. Voltei a abrir os olhos de imediato. Limpei as lágrimas e voltei a colocar os meus óculos. Estava tudo bem, eu não me podia ir abaixo daquela maneira
Em breve ele já não ia estar perto de mim, era nisso que eu tinha de me concentrar.
Assim que ele tivesse um novo supervisor eu já não o ia ver mais e dependendo da minha sorte até podia ser que ele fosse designado a um continente distante do meu. Sim, eu só tinha de pensar positivo.
Mas, por que razão é que algo me dizia que não era isso que ia acontecer?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments