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Ainda a tentar habituar-me ao facto de ter Kayo ali tão perto, olhei para a folha de recruta dele.

- Bem, Kayo, morreste com 23 anos através de suicídio. Sem família, sem namorada... Eras basicamente uma barata para a sociedade...Agora pelo sacrilégio de teres cometido suicídio estás condenado a anos de serviço no submundo. Quantos ao certo não aparece aqui, mas tenho a certeza que quando chegar a altura vais ser chamado para te informarem.- parei de ler e olhei para Kayo que estava a chutar pequenas pedras como se nada fosse.

- Não me lembro porque cometi esse tal de sacrilégio que estás a falar, mas acho injusto ter de aqui ficar. - comentou sem tirar os olhos das pedras que pontapeava.

- Eu também não queria ter de ser eu a aturar-te e fui o escolhido. Como vês, não se pode ter tudo. E além disso, o castigo que estás a ter é o que é aplicado a todos que cometem suicídio. Não há excepções para ninguém.

- Fantástico.- disse ele olhando pela primeira vez diretamente para mim.- Vou ter de ficar aqui quanto tempo exactamente?

- Pelo que me disseram vais estar um mês em formação comigo e depois, ali o teu amigo Horn vem buscar-te para te levar ao território que te for designado. Entendeste?

- Sim chefe!- exclamou Kayo com um falso entusiasmo.

Respirei fundo, já se tinham passado meses desde que eu tinha visto Kayo, mas sabia que tinha sido sempre difícil lidar com ele. Por um lado , eu estava feliz que ele não se lembrasse de mim, mas por outro eu queria que ele se lembrasse dos momentos que tinhamos passado juntos, talvez assim acalmasse a sua ira ou a rebeldia.

- Queres reencarnar?- perguntei-lhe calmo.

Kayo encolheu os ombros:

- É-me indiferente. Vou nascer de novo para quê? Da última vez não correu bem, se é que me entendes...

Calei-me por breves momentos e fiz-lhe sinal para que ele me seguisse.

- Vais ficar neste condomínio no próximo mês. Vais viver no mesmo andar que eu e o Kira, o meu melhor amigo, deves ter lá tudo o que precisas, se faltar alguma coisa avisa. Hoje só te vou dar as noções básicas do teu trabalho,mas amanhã vamos para o terreno.

- Uiiii, amanhã vais levar alguma alma??- disse Kayo com pura ironia na voz. Optei por o ignorar.

Entrámos dentro do condominio e pedi ao demónio na recepção a chave do quarto do recruta novo e seguimos para a zona dos elevadores. Chegados ao elevador não pude evitar e resmunguei.

- Odeio elevadores...

- Morreste dentro de um, ou quê?- atirou Kayo. Sem sequer me aperceber e só dei conta quando já era tarde demais: agarrei nos colarinhos do fato de Kayo e empurrei ele contra a parede do elevador.

- Sou teu superior, por isso começas a ter cuidado com o que dizes, okay?! Não vou aturar comentários sobre a maneira como morri ou deixei de morrer!Não te metas no meu caminho.

Kayo deixou o sorriso de gozo logo de lado e ficou muito sério a olhar para mim.

- Desculpa.- disse quando o larguei- Eu só estava a brincar, não queria de todo ofender-te.

- Já passou, vamos sair.- ordenei-lhe ainda com o coração aos pulos e a respiração alterada.- Tens aqui a chave, o quarto é o que fica ao lado do meu. Por agora vem ao meu quarto, vou-te dar as noções básicas de como isto funciona. E por favor, ouve primeiro, goza depois. A minha paciência tem limites e eu chego a um ponto em que por mais que queira pôr o nosso passado à frente nem isso me segura...Respeita os mais velhos, já te disse várias vezes.

Kayo estava a olhar para ele em silêncio.

- Não falas?- perguntei-lhe ainda bastante irritado.

- Tu já me conhecias antes de eu morrer?

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