Vou dar uma lição nele, me aguarde

“Gina"

Anderson foi para o quarto, eu peguei uma coberta e me recostei no sofá e dormi. Acordei, o dia estava amanhecendo, o cheiro do mato e o canto dos pássaros me atraem para fora, ainda estava escuro, mas já dava para ver o sol começando a soltar os seus raios pelas árvores. Tem um banco no lado de fora, sentei-me nele para observar a beleza do amanhecer. Ouvi um barulho e vejo um caminhão de leite passando na estrada por onde entramos, já sei como fugir, amanhã cedo peço ajuda para o leiteiro.

— Bom dia, meu amor.

Olhei para trás e Anderson está com duas canecas de café na mão, me estende uma e vejo a marca dos meus dentes na mão dele, fiquei chateada, mas ele mereceu. Peguei a caneca e comecei a beber. 

— Posso sentar aqui com você?

— A casa é sua, Anderson, senta onde você quiser.

— Você não vai amolecer, vai?

— Você é tão insensível que não pensou em mim, no que eu queria, por que devo amenizar seu lado?

— Eu só quero me entender com você, não posso te perder.

— Aí, ao invés de você tentar me reconquistar, você me sequestra? Você não merece o sentimento que estava nascendo entre nós.

— Como não mereço, nunca senti o que sinto por você por ninguém.

— Quem ama cuida, não força nada, escuta e tem respeito pela outra pessoa, Anderson.

— Eu te respeitei, Gina, e não forcei nada, cometi um erro, e estou tentando corrigir.

— Ah, claro, você não me forçou a transar com você, você está tentando corrigir um erro e comete outro mais grave.

— Por que você está falando assim? Não te sequestrei, só te trouxe a um lugar isolado para passar um tempo sozinho com você.

— Parabéns, você conseguiu me convencer, agora acredito nos seus sentimentos, pode me levar para casa agora?

— Tudo bem, você vai mudar de ideia. Vou mostrar para você como sei ser um bom marido, vou preparar nosso café da manhã.

— Vai conseguir me convencer, com certeza. Dei uma risada debochada.

“Gina”

Anderson é bom na cozinha, preparou leite quente, torradas, queijo fresco e algumas frutas. Comemos juntos, não posso demonstrar que estou magoada demais, senão ele vai desconfiar, mas amanhã cedo, querido, irei embora daqui.

“Anderson”

Está difícil cada vez que tento me aproximar. Gina, me dá uma patada, será que fiz errado? Será que sou tão egoísta como ela diz? Agora fiz e preciso convencê-la a não me deixar. # Contando segredos.

“Anderson”

— Vamos fazer uma caminhada? Quero te mostrar um lugar especial para mim.

Meu primeiro impulso foi me negar, mas preciso que Anderson ache que está conseguindo me dobrar.

— Aonde vamos? Ele abre um sorriso, parece uma criança ganhando um doce.

— Você vai adorar, vamos? Estica o braço para eu pegar sua mão e, mesmo não querendo contato, aceito, pelo bem do meu plano. Saímos caminhando e chegamos a um pomar de macieiras, o cheiro é delicioso, Anderson colhe uma maçã e me entrega.

— Esse pomar pertence à minha família há gerações, temos um locatário que continua cuidando para que não se acabe, planta mudas novas quando morre algum pé, passa adubo e cuida para que o mato não cresça.

— Essa propriedade é sua?

— É herança da minha mãe, quando eu era pequeno vínhamos sempre para cá, depois que ela faleceu, meu pai não quis mais vir, porque tudo lembrava ela, fiquei muitos anos sem vir aqui, agora achei um motivo para voltar.

— Se sua mãe fosse viva, o que ela acharia de sua atitude?

— Minha mãe era uma mulher amável e muito carinhosa, nunca a ouvi erguer a voz para ninguém.

— Você não respondeu à minha pergunta, o que ela te diria se soubesse que você está me mantendo aqui contra a minha vontade? Anderson abre um sorriso terno e olha ao longe, como se recordando alguma coisa.

— Um dia, eu estava passeando pelo pomar e encontrei um passarinho em uma armadilha, tirei-o dali e corri em casa para mostrar para minha mãe. Ela pegou ele das minhas mãos e soltou, fiquei bravo, quis chorar, olhei feio para ela e, com toda ternura do mundo, me disse:

“ Todos os seres têm direito à liberdade, eu prendo você? Mesmo morrendo de medo de te perder, deixo você fazer suas escolhas, porque isso é o amor verdadeiro. Se você me ama de verdade, sempre vai voltar”.

— Então, respondendo sua pergunta, ela viria aqui e soltaria você.

Quando olhou para mim, estava com os olhos cheios de água. Tenho vontade de abraçá-lo e confortá-lo, mas não o faço. Ao invés disso, falei:

— Ela era uma mulher inteligente, como você se tornou essa pessoa irracional, se foi criado por uma pessoa tão terna?

— O meu mundo era maravilhoso, Gina, eu tinha pais amorosos e muito felizes.

Quando minha mãe foi tirada de nós de um dia para o outro, perdi tudo o que eu considerava bom, naquele dia perdi minha mãe e uma parte de meu pai.

Eu tinha 10 anos e descobri que tinha que me virar. Ele me mandou para um colégio interno e lá fiquei até a maioridade. Quando voltei para casa, já tinha meu jeito de lidar com as coisas, aprendi que não devia amar nada, porque quando se ama e se perde, uma parte da gente se perde junto. Comecei a enfrentar meu pai, se ele não gostava, eu fazia, se ele falava “não” aí que eu fazia, só para mostrar para ele que não mandava em mim e foi assim até o dia em que ele entrou na minha sala e me disse que eu ia me casar.

Tentei fazer como sempre me recusar, mas ele me conhece bem, me ameaçou com a única coisa que eu valorizava até então, com meu cargo na firma, ameaçou me deserdar, aí aceitei casar e foi a melhor coisa que fiz na minha vida, conheci você.

Mas confirmei a parte de amar, não posso perder você senão, perderei uma parte de mim, não consigo ver minha vida sem você.

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