Aquela noite, quando voltei para casa, o rosto daquele estranho continuava a assombrar meus pensamentos. Fiquei sabendo pelo meu pai que seu nome era Fonseca Abreu, o proprietário da fazenda La Rosa. Meu pai falou dele com respeito, mas havia algo no tom de sua voz que me deixou inquieta. Ele o descreveu como um homem poderoso, com um histórico que não tolerava erros ou desobediência.
Não consegui evitar pensar em Fonseca durante o jantar. Meu pai estava diferente, mais tenso, e minha mãe parecia ter percebido, mas não disse nada. Eu, por outro lado, mal consegui tocar na comida. O medo ainda estava em mim, um medo que eu não conseguia explicar completamente.
Depois do jantar, fui para o meu quarto e deitei-me, mas o sono não veio fácil. Fiquei olhando para o teto, relembrando o olhar de Fonseca, o modo como ele me estudava. Havia algo nos olhos dele, algo que não conseguia esquecer. Era como se ele visse algo em mim que nem eu mesma sabia que existia.
Fechei os olhos e desejei nunca mais cruzar o caminho dele, mas, no fundo, sabia que isso era impossível. Belo Monte era pequena demais, e o velhote era um homem que não parecia esquecer facilmente.
Naquela noite, uma sensação de presságio me envolveu. Algo me dizia que aquele encontro mudaria minha vida para sempre, que ele era apenas o começo de algo muito maior, algo que eu não estava preparada para enfrentar.
Mal sabia eu que aquele homem rude e misterioso teria um papel tão grande em meu destino.
À medida que lua começava a se pôr no centro, papai pegou o chapéu e saiu de casa, dizendo que precisava resolver uns negócios no centro de Belo Monte. Já era tarde, mas ele parecia decidido, e não era prudente contrariá-lo quando ele estava daquele jeito. Tentei-me distrair com os afazeres da casa, mas algo me dizia que aquela noite seria diferente.
Enquanto a noite caía, Gustavo caminhava pelas ruas de Belo Monte, seus pensamentos fervilhando com a ideia de ganhar uma boa quantia de dinheiro para tirar a fazenda do buraco em que estava. Sabia que havia um jogo acontecendo na casa de jogos, e seu coração se enchia de esperança ao imaginar-se voltando para casa com os bolsos cheios de notas. Ele sempre acreditava que a sorte mudaria a qualquer momento, que um golpe de sorte o tiraria de todas as dificuldades. Era esse pensamento que o guiava naquela noite.
Ao entrar na casa de jogos, papai avistou aquele homem, sabe o mesmo de logo sedo Fonseca Abreu sentado a uma mesa, jogando com outros homens. O som das cartas sendo distribuídas, das fichas deslizando sobre a mesa, criava uma atmosfera tensa e excitante. Papai não pôde deixar de sentir uma pontada de inveja ao ver o quão à vontade Fonseca parecia naquele ambiente, como se estivesse no controle de tudo e todos ao seu redor.
— Gustavo, venha se juntar a nós! — disse Sr. Fonseca, com um sorriso que não alcançava os olhos.
Meu pai até hesitou por um momento, mas a ganância e a necessidade de melhorar a situação da família falaram mais alto. Sentou-se à mesa e entrou no jogo. As primeiras rodadas foram tranquilas, e para sua surpresa, começou a ganhar. A cada mão vencedora, sua confiança crescia, e com ela, a vontade de arriscar mais.
O Sr.Fonseca observava papai com um interesse particular. Ele sabia exatamente como manipular um homem desesperado, e papai era um exemplo clássico. A ganância ofuscava seu julgamento, e era apenas uma questão de tempo até que ele começasse a perder.
Quando meu pai Gustavo acumulou uma boa quantia, deveria ter se levantado e ido embora. Mas a sensação de vitória o cegou. Ele não conseguia parar, queria mais. E então, como se o destino estivesse esperando por esse momento, a sorte mudou.
Em poucas mãos, papai perdeu tudo o que havia ganho. Tentou recuperar, apostando ainda mais, mas a maré não voltava. As cartas pareciam conspira contra ele, e Sr. Fonseca observava cada movimento seu com uma calma desconcertante.
— Talvez seja melhor parar por hoje, Sr. Gustavo — sugeriu um dos jogadores, vendo o desespero começar a se formar no rosto dele.
— Não! Eu posso recuperar... só preciso de mais uma chance! — Gustavo respondeu, quase suplicante.
— E o que você vai apostar agora, sr. Gustavo? — perguntou o Sr. Fonseca, sua voz suave, mas carregada de intenções.
Gustavo olhou para suas mãos vazias, já havia perdido tudo que que trouxe e o que havia ganho. Sua mente estava nublada, confusa. Foi então que Sr. Fonseca se inclinou para frente, com um brilho predatório nos olhos.
— E se apostassemos algo que realmente valesse a pena? Algo que ninguém recusaria para aumentar o bolo da apostas... — Fonseca sugeriu, cada palavra uma armadilha.
— Como o quê? — papai perguntou, incapaz de ver a armadilha se fechando ao seu redor.
— Como terras por exemplo, — declarou Sr. Fonseca, — Eu aposto a minha a lá Rosa!
— Eu também aposto as minhas terras da fazenda Monteiro! — declarou Gustavo, num ato de desespero.
O sr. Fonseca levantou uma sobrancelha, como se estivesse apenas esperando por isso.
— Tem certeza que quer fazer isso, Monteiro? — perguntou sr. Fonseca, sua voz suave, quase cínica.
A mesa ficou em silêncio. Os outros jogadores pararam, incrédulos, mas sr. Fonseca apenas sorriu. Um sorriso frio, cruel.
— Sim! Aposto as terras! — Gustavo respondeu, com o olhar vidrado, incapaz de recuar.
— Aceito — disse ele, sem hesitação.
A proposta era insana, impensável. Mas meu pai estava tão afundado em desespero, tão cegado pelo desejo de ganhar, que a lógica se perdeu. Ele pensou na miséria que a nossa família estava vivendo, na pressão sobre seus ombros... e, de alguma forma distorcida, começou a ver essa aposta como uma solução.
— Feito — disse ele, mal reconhecendo sua própria voz.
A partida final foi breve. ele perdeu com uma rapidez que o deixou atônito, incapaz de compreender o que havia acabado de fazer. Quando a última carta foi jogada, ele se deu conta do erro catastrófico que cometera.
O Sr. Fonseca se levantou, recolhendo suas fichas com a mesma calma e frieza que mostrara durante todo o jogo.
— Parece que a sorte não estava do seu lado esta noite, Sr. Gustavo — ele disse, antes de sair da sala, deixando Gustavo sozinho com o peso de sua culpa.
Papai ficou lá, sentado, encarando o vazio. Quando finalmente se levantou, suas pernas estavam trêmulas, e ele cambaleou até o bar. Bebeu como se quisesse apagar a memória do que havia feito, mas o álcool só intensificou seu arrependimento. Lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto enquanto ele chorava como uma criança, sabendo que havia condenado sua própria filha e destruído qualquer esperança de salvação para sua família.
Quando ele finalmente voltou para casa naquela noite, o homem que havia saído não era o mesmo que retornava. Ele estava destruído, despedaçado pelo peso de sua própria ganância e pela maldita aposta que fizera. E, no fundo de seu coração, ele sabia que a partir daquele momento, nada mais seria como antes.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Odailma
Não entendi…. Ele não havia apostado as terras? Porque a filha foi junto?
2025-01-19
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