Capítulo 20

Não está sendo nada fácil controlar as emoções da Amélia. Ela parece querer conhecer tudo de uma vez, e principalmente, sobre o resto do mundo. Não sei se acho que foi uma boa ideia colocá-la agora na escola. Preciso prepará-la para o mundo lá fora antes. Eu achei que a escola poderia ensinar essa parte também.

Até poderia, se um certo rato não estivesse tentando pegar minha docinho. Os dias vão se passando bem rápido com ela em casa. Ela a cada dia me surpreende mais com a sua inocência e doçura. Ela coloca em mim toda sua bondade, e aquele homem solitário não existe mais.

A levo todos os dias para entrar comigo no meu escritório, e vou explicando para ela tudo sobre a empresa enquanto ela fica em meu colo, comigo aproveitando da sua inocência. Aliás, nem tanto já que muitas vezes ela mesma se sente em meu colo e pega minha mão para fazer carinhos nela.

Já deixei ela até de frente ao computador em uma reunião, e ia passando tudo para ela sobre o que ela teria que falar. Talvez tê-la ajudando o Edson não será uma má ideia, principalmente porque ela é como uma criança. Tudo que você ensina ela aprende e faz com perfeição.

Até que o dia do nosso casamento chega. Nos separamos por algumas horas, pois, apesar de que iremos nos casar aqui em casa, resolvi manter a tradição por ela, de nós encontramos somente no altar que será na área de lazer da casa. Depois de trocado, desço para ver como está as decorações. Mesmo que seja aqui em casa, quero tudo perfeito para ela, pois Amélia merece.

As flores brancas trazem o ar de inocência que Amélia reflete. Alguns toques em vermelho para simbolizar o nosso amor, nossa paixão. Coloco a mão no bolso e pego as alianças que comprei pela internet, mas mandei Edson levar para gravar os nossos nomes. Ela é uma mulher muito romântica, e merece o melhor de tudo.

Depois de ver tudo em ordem, sigo até o altar onde o juiz de paz já nos espera. Arrumo o meu terno e espero ela vir para começar a cerimônia de casamento. Com alguns minutos, ela entra de braço dado com Edson. Ele, além de ser nossa testemunha, fará o papel do pai dela em entregar-la para mim, já que o traste está preso e não sairá de lá nunca mais. Bom, não enquanto eu estiver controlando a situação.

Ela está linda, com o vestido branco com alguns brilhos. Seus cabelos estão trançados em forma de coroa com um véu entre eles. Sua maquiagem não está tão forte, o que a deixa mais linda ainda. E seu sorriso então, clareia todo o lugar. Eles chegam perto de mim. Pego na sua mão e dou um beijo.

— Cuide bem dela, ou eu a tomo de volta. — Serro os olhos para a gracinha do Edson que não para de rir ao olhar para mim.

— Pode deixar, Amélia sempre será feliz ao meu lado. — Falo para ele entre os dentes, e a levo até o juiz de paz. Ele começa a falar sobre a importância do casamento, sobre a importância de ser fiel, e que agora somos uma só pessoa.

Ouvir ele falando essas coisas me faz querer contar o meu passado para Amélia, mas tenho tanto medo dela não querer ficar comigo por eu ter matado o meu pai, ou pior, ter colocado a culpa nele só para não ser preso. As vezes penso que não mereço estar com ela e ela não merece estar presa a um assassino.

— Sim, eu aceito. — Ela me tira dos meus pensamentos, e eu volto à realidade do momento.

— James Forth, você aceita Amélia Slink como sua esposa, prometendo amá-la, respeitá-la, honrá-la, por todos os dias da vida?

— Sim, aceito e prometo que cuidarei muito bem da minha esposa. — Ela sorri para mim, e o juiz de paz nos declara marido e mulher, e em seguida manda eu beijar a minha noiva, que agora é a minha esposa, minha mulher de verdade.

Descemos do altar improvisado que as meninas da decoração fizeram e seguimos para o outro lado, onde tem a festa. Como eu disse, os únicos convidados são os que trabalham aqui na casa. Apesar de eu ter alguns primos como parentes, nem eles sabem como eu estou agora com o meu rosto deformado.

Todos julgaram o meu pai de queimar a casa e a minha mãe. Nem eles sabem que fui eu. São o tipo de pessoas que gosta de julgar, se soubessem o que realmente aconteceu. Então, quero todos bem longe de mim, e a minha segurança já está avisada: que ninguém Forth além de mim entra nessa casa.

— Vamos comer aqueles negócios? — Mais uma vez ela me tira dos meus pensamentos, e eu balanço a cabeça. Seguimos para a mesa dos doces. Amélia parece uma criança. Como cada doce, ela faz uma cara de contente.

— Nunca comeu doces na sua vida? — Ela nega com a cabeça. — Nunca? Porque não?

— Eu só comia o que o meu pai deixava, o que era o essencial. Às vezes comia sopa que as meninas faziam para mim, mas nunca comi um doce. Esse aqui, uma vez ele ia levar para mim, mas quando eu peguei, meu pai bateu na minha mão e disse que não era para eu comer aquilo.

Ela se refere ao brigadeiro. Pego um e coloco na boca dela. Ela fecha os olhos, saboreando o doce. Pego mais um e deixo ela comer.

— Agora tudo isso aqui é seu também. Somos os donos dessa casa, da minha empresa e tudo que era só meu, agora é de nós dois. Você poderá dar ordem aos empregados e pedir o que quiser para comer.

— Eu? Dona de tudo isso? Tá brincando, né?

— Claro que não. Casamento é isso, Amélia. É pegar duas vidas, duas pessoas e transformar em uma só. Não ouviu o juiz falar?

— Eu vou poder mandar em você também, James?

— Mesmo que inconsciente, você já manda, Amélia. Sou tiro rendido a você, minha esposa.

— Certo, então quero que você mande todo mundo embora, dê folga aos empregados, pois quero a nossa lua de mel que você tinha falado que ia acontecer. Lembra? Você falou que ia enfiar o dedo na minha tomada?

Começo a dar risada. Não acredito que ela ainda se lembra dessa cena catastrófica.

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