Capítulo 7

Fico pensando no que ela falou enquanto a morena se aproxima de mim. Ela me olha com um olhar de espanto, que com certeza é por causa da máscara que estou usando.

— Fui enviada para lhe servir, senhor.

— Eu sei... — perco as palavras, não estou com a cabeça agora para transar com ela. — Entre e procure pela Lira, ela vai te levar até um dos quartos, depois conversaremos.

Ela concorda com a cabeça e eu volto para o meu escritório. Pego a caneta e fico mexendo nela entre os meus dedos. Alguém bate na porta e eu mando entrar.

— Está tudo bem, James? Soube que o pai da Amélia veio busca-la.

— O que descobriu sobre ela? — ele se aproxima e coloca a pasta em cima da minha mesa. — Só isso? Isso resume a vida dela? — pergunto ao abrir e tirar uma só folha de dentro.

— Sim, senhor, Amélia praticamente não existe para a sociedade. Ela só tem o nome porque, para tirá-la do hospital, o pai teve que fazer o registro de nascimento. Mas a menina nunca frequentou uma escola, um hospital, um curso, nada; ela é totalmente invisível.

Me lembro de tudo que ela me falou, e, apesar de ouvir de sua boca, eu não acreditei muito. Na folha, só tem o nome dela e vários "x" que indicam que ela nunca teve uma vida fora de casa.

Agora eu paro para pensar: o pai dela veio buscá-la e irá vendê-la para o tal cara que ela falou que iria matá-la. Droga. Dou um soco forte na mesa e passo a mão pelos cabelos. Sou tão inútil que, além de deixar ele levar ela embora, ainda não posso nem sair de casa para ir buscá-la.

— Por que está assim, senhor? Achei que a menina lhe incomodava.

— Precisamos trazê-la de volta, Edson. Amélia será vendida para um homem que ela diz que irá matá-la.

— Como fará isso? Se o pai veio buscá-la, com certeza não irá te entregar.

Fecho os meus olhos e tento pensar em algo; não tenho nem mesmo o contato do safado... Espera.

— Liga para ele e diga que eu vou pagar o dobro do que ele for vender ela. Pago o preço que ele pedir.

— Senhor, aqui no final da folha eu escrevi sobre isso. — Olho mais atentamente para as letras de baixo, que estão escritas que ela está comprometida com um homem que a comprou por $50 milhões de dólares desde pequena. — Ele só estava esperando a menina fazer 18 anos para levá-la com ele.

— E sobre o pai dela, o que descobriu?

— Ele era casado com a mãe da Amélia, tinham uma vida normal; ele trabalhava em uma metalúrgica e ela, em um salão de cabeleireiro. Mas, depois da morte da esposa, ele conheceu algumas pessoas erradas e começou a usar a casa dele para vender mulheres. O dono sempre passa cinco meninas para que ele venda, e, em cima, ele ganha uma comissão.

— Há alguma possibilidade de as meninas estarem lá forçadas?

— Não, até onde eu sei, o cara é cafetão, mas não sequestrador.

Preciso de um jeito de tirar ela daquela casa, mesmo que tenha que pagar tão caro por isso. Dinheiro não é problema para mim, mas a vida dela é muito importante.

— Liga para o pai dela e ofereça o dinheiro. — Edson ainda tenta me convencer a não fazer, mas, com a minha insistência, ele acaba ligando. Mas, para minha surpresa, ou não, o pai dela recusa a oferta e desliga o telefone antes que possamos negociar. — Você vai ter que ir lá, Edson, vai com a polícia, pois, pelo que a Lira falou, ela pode estar toda machucada.

Ele concorda com a cabeça e se levanta, saindo do meu escritório. Olho para a ficha dela, onde, no canto superior esquerdo, tem uma foto dela com seus cabelos emaranhados.

Tem um rostinho tão fofo, tão inocente, tão... Acordo para a realidade e coloco a folha em cima da mesa, com a foto dela virada para baixo. Tem uma morena incrível me esperando no quarto, por que não só subo e faço o que tenho que fazer?

Me levanto e vou caminhando até o quarto, abro a porta em que ela está e posso vê-la sentada na cama. Seus cabelos negros caem como uma cascata em seus ombros, bem lisos e bem hidratados. Totalmente diferentes dos cabelos de Amélia.

— Está pronto, senhor? — Ela pergunta e se levanta, aproximando-se de mim. Ela tem um olhar sedutor, como se fosse fogo queimando. Ela para de frente para mim e passa a mão na minha gravata, descendo até embaixo. — Farei tudo o que o senhor quiser.

Mesmo ela sendo bonita, tento lembrar que foi ela que eu escolhi na primeira vez; não me sinto mais atraído por ela agora. Mesmo estando na seca, meu pau não reage ao seu toque como reagiu às palavras de Amélia quando me perguntou se somos iguais até na parte de baixo.

Ela se aproxima mais de mim e tenta alcançar os meus lábios, mas quando eu fecho os meus olhos para me entregar ao prazer, é a ruiva inocente que toma conta dos meus pensamentos.

— Desculpa. — Dou um passo para trás e coloco a mão na frente, barrando a nossa proximidade. — Não dá, pega suas coisas e pode voltar para a casa do cafetão.

— Ele não vai devolver o dinheiro. Você me comprou, merece me ter. — Ela tenta de novo, mas eu puxo meu rosto para trás. — O que quer que eu faça? Posso ser o que o senhor quiser.

— Eu quero que pegue suas coisas e vá embora. — Viro-me de costas e sigo em direção à maçaneta da porta. — Seja rápida, vou pedir para um dos seguranças levá-la de volta.

— É por causa do seu rosto? Eu não ligo. — Ela fala isso, mas eu vi sua expressão do lado de fora da casa, onde há mais iluminação. Fora que a máscara não permite que ela realmente me veja. Sem me virar, retiro a minha máscara, e só depois que ela está em minhas mãos, me viro para que ela me veja.

— Meu Deus! — Dessa vez, ela se afasta, e é disso que estou falando. Ninguém consegue me ver como realmente sou sem se assustar, somente a Amélia.

Sorrio para ela, coloco a minha máscara de volta e a mando embora mais uma vez. Desço e sigo de volta para o meu escritório, e, bem na hora, o telefone toca.

— James, cheguei aqui na casa, mas os próprios seguranças me falaram que a Amélia está no hospital. Estou indo para lá agora mesmo e já chamei a polícia para me acompanhar. Assim que eu souber do estado dela, eu te ligo novamente. — Ele desliga o telefone e eu soco a mesa com raiva. Droga, não era para ela ter ido com ele.

( Edson Ambery, 38 anos)

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