Sou órfã de mãe e com um pai mercenário. Não me lembro de um dia sequer em que ele me deu algum presente, nem mesmo um sorriso de pai para filha. Tudo o que tenho são o que as mulheres que trabalham para ele me dão. Nunca fui à escola, mas ele contratou uma mulher para me dar aulas. No começo, achava normal estudar em casa, mas depois fui percebendo que as crianças iam para a escola pela janela do meu quarto.
Nunca saí na rua, eu era mantida dentro de casa como se fosse uma doença incubada em uma pessoa. E com o passar do tempo, eu perguntava para o meu pai por que eu não podia sair. E a resposta sempre era a mesma.
"Porque eu sou o seu pai, e eu que decido o que você deve ou não fazer."
Sempre me respondia desse jeito e com ignorância, eu nunca vi um sorriso de carinho dele comigo, era sempre brigando, sempre xingando e gritando. Até que um dia, ele bêbado, estava no escritório da casa dele com uma foto nas mãos, chorando. Me aproximei, e ele me olhou com raiva, como se eu estivesse atrapalhando alguma coisa.
— A culpa é toda sua, você é uma amaldiçoada. Eu e a sua mãe éramos felizes, por que você apareceu, por quê? Só para tirá-la de mim? Você é a cara dela, e isso é o que mais me irrita. Sai da minha frente, volta para o seu quarto, antes que eu te bata até te matar, sua desgraçada.
Sai de lá correndo, não pelos xingos, isso já não me machucava mais, mas pela ameaça dele me bater, pois quando ele me batia, eu ficava muito dolorida por dias. Mas, tudo que eu queria era poder ver aquela foto, que com certeza era da minha mãe. Eu nunca vi como ela era, ele fala que eu me pareço com ela, mas queria poder ver isso de verdade.
Entro no meu quarto, tentando arrumar um jeito de encontrar aquela foto, mas ele trabalha aqui de casa mesmo, raramente ele sai, a não ser quando tem algum problema nas cargas das meninas que ele vende para os homens ricos. Isso eu ouvi escondida em seu escritório dentro do armário.
Essas vendas acontecem no fundo da minha casa, pela sacada do último quarto, eu posso ver tudo. Elas sobem em cima de uma espécie de palco, enquanto vários homens ficam sentados em uma cadeira, eles dão vários lances, até que um ganha, e a mulher vai sorrindo para o colo do homem. Eu ficava ali quietinha até a última mulher ser vendida, e fico tentando imaginar o que eles fariam com elas.
Meus estudos nunca passaram de aprender a ler, escrever e fazer contas. Ou seja, inglês e cálculos, e nada além disso. Nunca vi um homem sem roupas, só via como o meu corpo era, e para mim, todos éramos iguais, o que diferenciava os homens das mulheres era os cabelos. Nós temos grandes e eles pequenos.
Isso mudou quando completei 18 anos, pois foi bem no meu aniversário que soube que seria vendida. Ouvi escondida ele falando com um homem que eu era tudo que ele queria. Pequena e virgem, e para os fetiches dele, eu me passaria por adolescente.
Não entendi bem o que eles conversavam, apenas que eu seria vendida para ele. Mas só pelo tom de voz do homem, não era coisa boa. Assim que ele foi embora, saí do armário e quando ia saindo da porta do escritório, uma das empregadas me puxa pelo braço e me arrasta até o armário de limpeza.
— Amélia, presta atenção. Hoje à noite você não dorme, vou tirar você daqui.
— Me tirar daqui? Por quê?
— Agora não podemos conversar, não durma essa noite e não fale nada para o seu pai. — ela abre a porta e sai, e eu fico sem entender o que acabou de acontecer.
Mas assim como ela tinha ordenado, eu fiquei acordada esperando o que iria acontecer. E, para minha surpresa, às três da manhã ela vem e abre a porta.
— Vamos, já está na hora. — Me levanto e sigo ela que vai descendo puxando a minha mão para o andar de baixo. — Presta bastante atenção. Você vai entrar naquele carro e não vai olhar para trás e nem voltar.
— Eu não posso deixar o meu pai sozinho, ele é ruim comigo, mas é o meu pai.
— Amélia, você é muito inocente. Mas também é muito especial para mim. Se você ficar, ele vai te vender para um homem que estupra mulheres e acaba matando elas sexualmente, é isso o que você quer?
— Eu não sei o que isso significa. — Nunca tive esse tipo de ensinamento, é como se ela estivesse falando em outro idioma comigo.
— É uma coisa muito ruim, que acaba com a vida de uma mulher. Mas o fato é que você vai morrer se não fugir. — Olho para minha casa pela última vez e ela sai me levando até o carro. — O homem com quem você vai morar vai cuidar de você. Mas também quero que você cuide dele, pois assim como você, ele também é sozinho na vida. E tem uma cicatriz em seu rosto de queimadura.
— Coitado, o que foi que aconteceu? — Ela olha para trás, como se estivesse apressada para eu sair logo dali. Ela fala que não tem tempo para explicar, que eu vou descobrir isso sozinha, e me empurra para dentro do veículo.
O carro ganha velocidade assim que sai dos portões, e eu começo a olhar ao redor. Apesar de ser noite, as luzes dos postes da rua e de poucas janelas deixam tudo tão lindo. Praticamente nem pisco para poder admirar toda essa maravilha, já que nunca saí de casa antes.
— De dia é tudo mais lindo, senhorita. — o motorista fala e eu olho para ele sorrindo. — A irmã da Lourdes trabalha naquela casa, não precisa se preocupar, o senhor Forth não irá machucá-la, mas terá que insistir para que ele te deixe ficar, em hipótese nenhuma volte para a casa do seu pai.
Balanço a cabeça concordando, e volto a olhar para a janela. Até que ele para em frente a uma casa sombria, que faz meu corpo todo arrepiar de medo.
— Chegamos, venha, não tenha medo, Amélia, vai ficar tudo bem.
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Atualizado até capítulo 105
Comments
Fafa
Esse maldito homem lá pode ser chamado de pai? Credo 😨!!! Esse sim é um verdadeiro monstro, ia vender a própria filha pra um sádico assassino, misericórdia!!! Pobre Amélia 😢
2025-01-13
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Josi Gomes
QUANDO O ADVOGADO CONSEGUIR DESCOBRIR TUDO SOBRE A AMÉLIA, ELA VAI PODER VER A FOTO DA MÃE DELA
2024-12-19
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Rebeca Montenegro
a beleza do homem foi um príncipe, mas a mulher deixou a desejar. vou imaginar outra
2025-01-31
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