Entre Tempos e Realidades

Entre Tempos e Realidades

O Palco da Vida

Marina acordou com o som estridente do despertador, ecoando em seu quarto pequeno e desordenado. Os primeiros raios de sol se esgueiravam pelas frestas da cortina mal fechada, e ela suspirou profundamente, já sentindo o peso do dia sobre seus ombros. Era uma manhã comum em sua vida, uma rotina que conhecia bem demais.

— Marina, o café já tá pronto? — Pedro, um dos gêmeos, gritou do outro lado da porta.

— Já vou! — ela respondeu, com um tom que tentava ser animado, mas que transparecia cansaço.

Rapidamente, Marina se levantou, arrumou o cabelo em um coque desajeitado e foi para a cozinha. A cafeteira borbulhava enquanto ela preparava as torradas para os irmãos. Era uma coreografia que ela executava todas as manhãs, quase automática, enquanto a mãe já havia saído para o primeiro dos três empregos do dia.

Pedro e Paulo, com seus 10 anos, entraram correndo na cozinha, como pequenos furacões, disputando espaço à mesa.

— Calma, meninos. Não adianta correr, tem comida para todo mundo — ela disse, com um sorriso forçado, enquanto distribuía os pratos.

Os dois se sentaram e começaram a comer rapidamente. Marina observava os irmãos com um misto de afeto e preocupação. Eles ainda eram crianças, e ela se perguntava, mais vezes do que gostaria, se estava fazendo um bom trabalho cuidando deles. A responsabilidade que carregava desde a partida do pai era esmagadora, mas ela nunca reclamava. Apenas fazia o que era necessário.

Depois de se certificar de que os meninos estavam prontos para a escola, Marina os acompanhou até o portão e deu um beijo na testa de cada um. Eles saíram correndo pela rua, rindo e brincando, e por um momento, ela se permitiu sorrir genuinamente.

Quando voltou para casa, o silêncio era opressor. Marina sabia que tinha que aproveitar as poucas horas de tranquilidade antes de sair para a faculdade de teatro. O teatro era seu único refúgio, o lugar onde podia ser quem quisesse, onde as máscaras que usava na vida real não eram necessárias. No palco, ela encontrava uma liberdade que nunca conhecera fora dele.

Vestiu-se rapidamente e pegou sua bolsa. Antes de sair, passou pelo pequeno altar que havia montado no canto da sala. Lá, uma foto antiga de sua família, ainda completa, repousava ao lado de uma vela acesa. Marina olhou para o rosto de seu pai na foto, sentindo uma mistura de saudade e amargura.

— Se eu pudesse voltar no tempo... — ela murmurou para si mesma.

No caminho para a faculdade, Marina sentiu o familiar desconforto de estar sozinha em meio à multidão. Embora estivesse cercada de pessoas, ela se sentia desconectada, como se estivesse presa em uma bolha invisível que a separava do resto do mundo. Mas no teatro, tudo mudava. Lá, ela podia ser a heroína, a vilã, a amante apaixonada — qualquer coisa, menos a Marina real, que carregava o peso de sua família nas costas.

O ensaio daquele dia foi ao ar livre, no parque da cidade. A peça que estavam montando era uma adaptação de um conto de fadas clássico, e Marina tinha o papel principal. Enquanto os colegas ajustavam o cenário improvisado, ela se afastou por um momento, procurando um pouco de paz antes de entrar em cena.

Caminhou pelo parque até encontrar um pequeno bosque. Era um lugar tranquilo, com árvores altas e antigas, onde o som do vento nas folhas parecia contar histórias esquecidas. Marina sentiu uma atração inexplicável por aquele lugar, como se algo a chamasse.

No chão, entre as raízes de uma árvore, algo brilhou. Curiosa, ela se abaixou e encontrou um pequeno livro, coberto de poeira e musgo. Era um diário antigo, com capa de couro envelhecido. Ao abrir, percebeu que as páginas estavam amareladas pelo tempo, mas ainda legíveis. As palavras escritas à mão eram intrigantes, falando de tempos passados e realidades diferentes.

De repente, um vento forte soprou, fazendo as páginas do diário se virarem rapidamente. Marina sentiu uma vertigem, como se o chão estivesse desaparecendo sob seus pés. Tentou se segurar em algo, mas tudo ao seu redor começou a girar.

E então, tudo ficou escuro.

Quando Marina abriu os olhos, não estava mais no parque. Ao invés disso, estava em uma floresta densa e misteriosa, que exalava uma aura mágica e antiga. O ar era diferente, carregado de energia, e as árvores ao seu redor pareciam sussurrar segredos em uma língua esquecida.

Confusa e assustada, Marina olhou ao redor, tentando entender o que havia acontecido. O diário ainda estava em suas mãos, mas agora parecia mais novo, como se o tempo não tivesse deixado marcas nele.

— Onde eu estou...? — ela sussurrou para si mesma.

Era o início de uma jornada que mudaria não apenas a sua vida, mas o destino de todos ao seu redor.

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