Cap. 20

Os dois permaneceram em silêncio por alguns instantes, tentando processar a intensidade do contato inesperado no meio da escuridão que tomou conta da casa após a queda da luz. O único som que quebrava o silêncio, era o barulho da chuva que caía forte naquele instante.

_ A luz … Aurora  tentou dizer algo que pudesse aliviar a tensão que estava no ar.

_ Sim... parece que a chuva está mais forte…  Rodrigo agiu da mesma forma, e a sua voz grave foi sussurrada, quase abafada pela proximidade entre eles.

A escuridão os envolvia parecia intensificar cada sensação, e Aurora tentava manter o controle, mas com o seu coração batia em um ritmo acelerado. Rodrigo, por sua vez, lutava contra o desejo  de se aproximar mais, de tocar a pele de Aurora como se ela fosse sua.

_Você ainda pretende fazer alguma coisa na cozinha? Rodrigo perguntou, tentando continuar a conversa.

_Acho que sem luz vai ser difícil preparar qualquer coisa... Aurora soltou um suspiro nervoso, mas havia algo mais, algo que eles conseguiram perceber, mas tentavam resistir.

Outro trovão ecoou alto, reverberando pela casa. Aquele som repentino quebrou o momento, trazendo-os de volta à realidade. Aurora piscou, ainda presa ao olhar de Rodrigo que a observava atentamente nos breves clarões de luz dos relâmpagos que cortavam o céu. Rodrigo, por sua vez, demorou alguns segundos a mais para soltar a cintura dela, o que  fez lentamente, como se não quisesse romper o contato.

_ Você está bem? Perguntou Rodrigo que ainda estava perto o suficiente para sentir o calor que vinha dela e o aroma da sua pele.

_ Sim, estou... Aurora ainda estava nervosa,  não por causa dos trovões ou pela escuridão, mas pela proximidade entre eles. Fazia tempo que seu corpo não reagia a outra pessoa como estava reagindo a Rodrigo.

O silêncio voltou a cair sobre eles. Rodrigo deu um passo para trás, tentando dar espaço para Aurora, mas sem conseguir se afastar por completo. Seus olhos se ajustaram à escuridão, e ele mal conseguia evitar a maneira como seu olhar deslizava pelos contornos do rosto dela, suavemente iluminado pelos relâmpagos continuavam a iluminar a noite.

_ Eu... Rodrigo começou a falar, mas parou. Suas palavras se perderam antes de serem ditas, ele tinha medo do que sentia.

Aurora o encarou,  como se também esperasse que ele dissesse algo. Havia uma forte atração entre eles, algo que ambos sentiam, mas não sabiam como lidar.

_Aurora… Rodrigo a chamou, sentindo como se o nome dela tivesse ganhado um novo significado em seus lábios.

Aurora continuou a olhar para ele. Havia uma vulnerabilidade em ambos, como se estivessem à beira de algo que não sabiam controlar, e que parecia crescer a cada segundo.

Antes que Aurora pudesse se afastar, um trovão estrondoso sacudiu as janelas, e a luz voltou com um estalo suave. A cozinha foi preenchida pela luz que iluminou as suas faces, e eles ficaram imóveis por um instante, como se a volta da eletricidade tivesse congelado não somente eles, mas também o tempo.

Rodrigo piscou, ajustando-se à claridade. Agora, com a luz sobre eles, tudo parecia mais real. Ele olhava para o rosto de Aurora analisando cada traço.

_ Agora... parece que está tudo bem… Aurora sorriu nervosa.

Rodrigo também sorriu, mas seus olhos não se desviaram dos dela.

_Sim... parece que sim.

Por alguns segundos, eles continuaram na mesma posição, encarando-se à luz branda da cozinha, sem dizer nada. Aurora deu um passo para trás, tomando a decisão de se afastar depois que nada foi dito por ele.

_Boa noite, Rodrigo... tenho que ver se as meninas não acordaram...

_Está bem... Boa noite… Respondeu sem conseguir dizer como se sentia.

Aurora finalmente virou-se e saiu da cozinha, o som de seus passos ecoavam suavemente pela casa. Rodrigo ficou parado por mais alguns instantes, observando ela subir as escadas, passando a mão pela nuca, antes de soltar um suspiro longo, tentando acalmar o turbilhão de emoções que tomava conta dele.

Rodrigo sentia o coração bater acelerado. A volta da luz parecia ter iluminado mais do que apenas a cozinha, havia trazido à tona todos os sentimentos que ele tentava nunca mais sentir.

Rodrigo passou a mão pelo rosto, tentando organizar os pensamentos, mas a imagem de Aurora continuava viva em sua mente. O toque suave do corpo dela, o cheiro da sua pele que ele ainda conseguira sentir.

_ Eu preciso conversar com alguém...

De volta ao quarto, ele pegou o telefone e enviou uma mensagem para o irmão perguntando se poderiam almoçar juntos no dia seguintes, e aguardava ansiosamente a resposta de Eduardo.

_ Será que ela está sentiu o mesmo que eu? Rodrigo questionou caindo na cama, sabendo que a noite seria longa.

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