Novos tempos

Durante a noite de natal, as famílias Paolli e Leone se reuniram para juntos celebrarem a data importante em um jantar alegre com muito falatório, como há de se esperar em duas famílias italianas, muitas crianças correndo e brincando alegremente pelas dependências da casa. Tudo com atenção e cuidados redobrados devido as novas ameaças que os circundam. No salão de jogos, as crianças se reúnem no meio dos seus novos brinquedos e presentes.

—Eu não quero brincar com eles, são bebês! E bebês são chatos! - Matteo se recusa a brincar com os filhos de Serena e de Giovanna por serem mais novos ,assim como a filha de Lorenzo.

— Eu não sou bebê ! Você é que é um bobão! - esbraveja Sereninha.

—Ei Matteo! Não fala que minha irmã é chata, ela só é pequena!

— Eu não sou pequena, Rafinha! E o Matteo é um chato, igualzinho a você e o Marquinhos!

— Sereninha, deixa esses dois para lá! Vamos brincar com a gente do outro lado.

— Nada disso, Renzo! Você vem com a gente e deixa os bebês brincarem sozinhos do outro lado, só chama a Maitê, Chiara e a Cecília!

—A minha mãe disse que nós não podemos excluir ninguém! - fala Vicenzo, o filho mais velho de Giovanna com Enrico.

— Ou brincamos todos juntos ou você sai da brincadeira, Matteo! - fala Maitê

—Ah tá bom ! Tudo por causa dessa garota chata!

Sereninha, que não leva desaforo para casa, dá um chute na canela do filho mais velho de Nicolas, que vai chorando até o pai.

— O que aconteceu? Por que você está chorando bambino ?

— A Sereninha chutou a minha canela!

— E você está chorando por causa disso?! Ela é uma menina bem mais nova do que você! Seca as lágrimas, você é macho!

— Filha, você não pode sair chutando todo mundo assim! diz Lorenzo

— Ele disse que eu sou bebê, eu não sou um bebê! É por isso que eu gosto mais do Renzo!

A menina dá a mão ao filho do meio de Nicolas que sai sorrindo com cara de deboche para irmão mais velho, ainda choroso perto do pai. Nicolas e Lorenzo se olham, sabem que no futuro seus filhos irão lhe dar trabalho.

Durante o jantar, os homens começam a falar sobre o que está acontecendo em Hong Kong.

—O Mario reforçou a segurança, mas também recebeu ameaças.

— Isso nunca aconteceu! Hong Kong sempre foi o nosso ponto mais tranquilo! - fala Lorenzo

—Ele precisa de vocês, Lucca. Temos que ir até lá! - diz Maximiliano

—Com certeza! Vá na frente Maximiliano, levante um relatório para nos informar.

— Podemos conversar sobre isso amanhã? Esse não é um assunto adequado para o jantar da noite de Natal. - fala Serena de modo firme enquanto serve os maridos.

—Claro,mammà! - fiz Lucca

Imediatamente todos trocam o assunto e Maximiliano sorri discretamente.

💭 A hora chegou, tio Vicenzo! - pensa

No dia seguinte, antes da família de Serena retornar ao Brasil para sua cerimônia de posse, os clãs se reúnem para discutir questões importantes.

— Nada passou de ameaças, nenhum representante da Sacro Corona veio até nós. Não entendemos o que eles querem aqui. - fala Nicolas

— E por que ameaçaram a família da Giulia! - diz Enzo

— O Mario foi procurado pelo Wan Kuok-koi, conhecido como Dente quebrado,chefe da Tríade em Hong-Kong. - conta Max

Os homens começam a gargalhar.

—Que porra de apelido é esse?!

—Vão rindo! Ele é o Capeta! Ele quer a máfia italiana fora de Hong-Kong.

—Andei pesquisando, eles fazem uma iniciação sinistra, usam cabeça de galinha, porcos, cabras ou bodes e bebem o sangue do animal e do iniciado. - Fala Nicolas e todos olham para Enzo.

— Isso já tem alguns anos e vocês não esquecem! - ele bufa

—Era desse tipo de ritual que falei,Salvatore! - diz Lucca - Eles fazem uma série de juramentos para seus deuses. São místicos e cruéis.

—Precisamos ir até lá. Reconhecer o território ver o que está acontecendo de perto. Lucca, vamos enviar soldados espiões.

—Já providenciei isso,Nico.

—Eu vou na frente junto com os soldados, a minha bisneta acabou de nascer, o Mario não se aguenta de felicidade.

—Lucca, qual era o outro assunto? - pergunta Lorenzo

Serena ouvia a tudo em silêncio e tinha o neto recém nascido adormecido em seu colo.

—Bem, eu não sei como dizer isso...mas...eu desejo voltar para o Brasil e ser o que eu sempre desejei,um agrônomo, ainda um mafioso, mas essencialmente um agrônomo.

—Você quer nos deixar aqui??!! - Salvatore e Nicolas gritam apavorados

—É isso ou o meu casamento vai para o ralo. Eu sou muito focado e perfeccionista, eu vivo para a máfia e sinto que isso também atrapalhou o meu casamento . A responsabilidade do clã está sobre mim e eu me exijo muito!

—Quer passar o cargo ,figlio?

—Quero pai!

Todo se olham.

— Que pode assumir? Brunno não tem maturidade pra isso,Vittorio também não... - fala Marcos

— A função deve ficar entre a descendência de Vicenzo! Ou os meus herdeiros ou os da minha irmã Antonella.

— Que engraçado, né? - Serena usa um tom de voz alto e passa o bebê para Enzo - Só existem homens para assumir? Esqueceram que Antonella tem duas netas damas da máfia?

Os homens se olham.

—Eu acho que tenho a solução!

Maximiliano tira uma carta do bolso e entrega a Rafael.

— O que é isso primo?

—Uma carta de próprio punho do meu tio, o seu pai,Don Vicenzo. Leia em voz alta, por favor.

Rafael corre os dedos na caligrafia do pai e se emociona, aquele papel tinha um pouco mais de vinte e cinco anos...

" Eu, Don Vicenzo Paolli , tenho poucos dias de vida sobre essa terra e deixarei como sucessor meu amado filho Rafael..

Ele embarga a voz, respira fundo e continua.

" Mas a vida dele não é aqui, a felicidade dele está no Brasil, ao lado da mulher que ama e dos filhos que com ela teve,meus netos amados Lorenzo, Lucca e Giovanna. O meu outro neto ,filho da minha alma, Enzo..."

O filho mais velho de Rafael deixa as lágrimas escorrem.

" ...tem um talento inegável, ele é um mafioso de verdade, mas meu bambino não tem o juízo perfeito, não pode assumir essa responsabilidade. Mas ela pode! Minha adorada nora ,Serena!"

Ela levanta o olhar e os homens a contemplam.

" Uma mulher inteligente, que conquista tudo o que deseja, sabe conduzir situações com maestria.É uma mafiosa nata, mesmo não tendo sangue mafioso e odiando a máfia, que eu sei! Ela só está entre nós por amor ao meu filho, Rafael. Chegará o dia em que será necessário que ela assuma o clã Paolli e com a minha benção. Se esta carta está sendo revelada, é porque esse dia chegou. Serena, filha que o meu coração adotou, assuma o seu lugar de direito! Você é a nova Don! "

Um silêncio se faz na sala, Serena estava estática e não sabia o que dizer.

— Max, porque essa carta estava com você?

— O tio Vicenzo me chamou aqui, você já tinha assumido o clã e estava morando em Nápoles com a sua família. Ele me disse que eu saberia o dia em que essa carta seria revelada, para Serena assumir o seu lugar, e esse é o momento.

—E-Eu não posso! Vou tomar posse como governadora do Rio! Eu não poderei me ausentar do Rio, eu não posso defender dois interesses distintos!

Rafael se agacha diante dela.

— Amore mio, você é a Don há muito tempo, nunca percebeu isso?

—Nós mesmo já sabemos disso, Dona Serena! - fala Salvatore

— Gente, eu vou estar no Brasil! eu não vou conseguir!

—Nena, você sempre gerenciou o clã à distância, orientando o Lorenzo e o Lucca...

—Fora as vezes que saiu do Brasil pra vir aqui resolver as cagadas do Pietro! - completa Enzo.

—Assume o seu lugar ,Serena! Era o que meu tio desejava e acredito que todos aqui concordam e apoiam essa decisão.

Ela olha ao redor e os homens acenam positivamente,Serena se levanta, dá meia volta na sala e se vira para eles.

—Eu aceito!

Eles a aplaudem.

—E como o Lucca vai voltar para o Rio, preciso de alguém que me represente em Nápoles.

— Quem mammà? - pergunta Lorenzo

—Eu quero a Charlotte aqui! Ela será o meu rosto e a minha voz na Itália, uma mulher compreende melhor a outra mulher. Agora preparem-se! Uma nova era vai começar na Camorra! Eu irei inaugurar novos tempos na máfia!

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