Capítulo 10: Como tudo Começou

Eu cresci em uma família pobre, mas, apesar disso, meus pais eram pessoas honestas, sempre ajudando os outros, o que me dava nojo. Não entendia por que eles eram assim. Sempre fui diferente deles e não achava isso ruim. Convenci meu pai a arrumar um segundo emprego e ele pagou um curso de história da arte para mim. Queria fazer esse curso para ver se encontrava alguém rico, dar um golpe e sair daquele mundo sujo e pequeno.

Eles sempre davam tudo de si para me agradar e eu obviamente iria aproveitar. Não me olhe com essa cara, eu sei que não consigo sentir nada por ninguém e talvez seja por isso que também não me importo de não sentir. Você já deveria estar acostumado e não ficar surpreso, afinal, estamos nessa apenas por interesse.

Ah! Eu também tenho um irmão. Jonathan... Ele era mais novo que eu e me irritava escutar sua voz, pois ele era muito pegajoso. Porém, depois de tanto tempo desprezando-o, ele acabou me deixando em paz. Hoje em dia, nem imagino como eles estão vivendo. Para todos os meus amigos, sempre falei que minha família morava no exterior e que eu ficava aqui por minha própria vontade.

Demorou para eu encontrar meu alvo, mas, quando estava quase terminando o curso, conheci Erick. Antes de me aproximar, obviamente descobri todo tipo de informação que pudesse me ajudar. A melhor delas foi sobre seu amigo Henrique. Isso porque, quando tentei me aproximar, Erick não me deu a mínima. Um riquinho esnobe, estava em dois cursos ao mesmo tempo só para se provar para o pai. Ele era entediante, mas era meu caminho para a fortuna.

Então, arquitetei um plano genial: iria conquistar seu amigo, e ele faria o trabalho sujo para mim. E foi bem fácil, viu? Henrique, um pobre órfão, carente de afeto, se apaixonou por mim assim que me viu. Me dava nojo ter que aguentar seus olhares, mas fiz esse sacrifício em nome de uma causa maior: ter um filho de Erick. Convencer Henrique foi a parte mais difícil. Ele andava de um lado para o outro ao lado de Erick, provavelmente porque nunca teve um irmão. Era um coitado, porém devoto à amizade dos dois.

Erick, apesar de não ter se interessado por mim, ainda me suportava como amiga. Aproveitei isso para colocar meu plano em prática. Fiz ele ler vários textos que eu tinha escrito, com a desculpa de que eram para minha tese. Por sorte, ele não desconfiou de nada.

Foi hilário! Ele falou vários absurdos contra Henrique sem nem perceber. Para não correr o risco de Henrique confrontá-lo, um dos textos mencionava que ele iria negar tudo e fazer "o trouxa do Henrique acreditar nele". Eu disse que era apenas coincidência o personagem também se chamar Henrique e ele acreditou.

Para dar mais veracidade, também fazia algumas situações parecerem diferentes do que realmente eram. Enfim, passei meses minando a amizade dos dois e, no final, Henrique estava odiando Erick tanto que eu poderia convencê-lo a fazer qualquer coisa que eu quisesse.

Foi aí que armei a parte final do plano: engravidar de Erick e viver uma vida de riqueza sem me preocupar com nada. Por sorte, consegui de primeira. Eu odiava crianças, mas pretendia apenas deixá-la aos cuidados das babás e ignorar sua presença. Porém, uma vez, escutei, sem querer, uma conversa entre Erick e seus pais.

"Você tem que se precaver, eu não tenho um bom pressentimento sobre essa mulher," disse o pai dele.

"Vou obrigá-la a fazer um teste de DNA ainda na gravidez. Assim, já saberemos de início, e se tiver mesmo acontecido, eu vou me responsabilizar e casar com ela... Meu Deus, eu não lembro de nada," reclamou Erick.

"Não estou falando apenas disso. Conheço bem esse tipo de mulher, meu filho. Você tem que assegurar que sua herança vá apenas para seu filho. Coloque cláusulas para que ela não use o dinheiro como bem entender. Tenho por mim que ela está com você apenas por esse dinheiro. Meu coração não mente," insistiu o pai dele.

"Não fala assim, amor. Vitória parece ser uma garota tão boa," a velha Mary me defendeu. Era outra que eu não suportava ver, mas tive que aguentar.

"Eu não sei, vou pensar," disse Erick, parecendo confuso.

Escutei passos dele vindo em minha direção, então corri de volta para meu quarto para não ser descoberta. Foi aí que planejei me livrar do bastardo que eu estava carregando, mas, sem ele, Erick poderia se divorciar de mim, e eu perderia da mesma forma. A única solução foi adiantar sua viagem para o além. Como esposa, eu herdaria tudo.

E aí que você entrou, tão idiota quanto Henrique, mas pelo menos era um idiota inteligente. O resto eu não preciso contar; você já sabe como aconteceu.

"Sei nem o que dizer..." disse Bruno, olhando atônito para Vitória.

"Tudo teria saído perfeito se não fosse aquela loira azeda entrando em nossas vidas. Cada célula do meu corpo a odeia," disse Vitória, com um tom de voz ameaçador.

"Quanto mais eu te conheço, menos acredito que você é humana. Achava que eu era uma pessoa ruim, mas perto de você, eu sou um santo... Ô céus, prepara meu lugarzinho aí que eu mereço," disse Bruno, em tom de brincadeira, mas visivelmente perturbado com o que havia escutado.

"Merece... Sei bem que você merece, e tá bem longe de ser o céu," retrucou Vitória. "Mas bem, agora você já sabe como tudo aconteceu. E nosso plano? Conseguiu algum progresso?"

"Sim, porém vai ser muito arriscado. A segurança em volta dessas duas crianças está absurda... Eu descobri que a escola deles vai promover uma feira de ciências, que vai acontecer em um ambiente aberto, um parque não muito distante da escola. Então, o que vai acontecer é o seguinte: vou arrumar um jeito de me infiltrar e causar uma confusão. Nesse momento, precisaremos ser rápidos para pegar as duas crianças sem sermos notados, fugimos do local e pedimos o resgate," respondeu Bruno.

"Ótimo, não vejo a hora de pegar tudo que eu mereço," disse Vitória, com um olhar malicioso.

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