Celine mentiu para mim. Agora, eu já não sabia se realmente poderia confiar nela. Mesmo sendo eficiente no trabalho, ela parecia cada vez mais suspeita.
— Então, ele esteve na boate ontem a noite, se encontrou com dois homens, não consegui descobrir quem são até o momento, mas já estou investigando! — ela estava realmente focada no trabalho, mas…
— Celine, gostaria de ir comigo ao local onde foi encontrado o corpo de Aisha? — reparei na sua reação, ela apertou a caneta de repente. — Quero tentar descobrir pistas sobre o que aconteceu.
— Sim, eu te disse que ajudaria a descobrir a verdade! — por que se incomoda sempre que se trata de Aisha?
Poderia ter possibilidade de Celine saber algo sobre a morte de Aisha, e estar perto dela poderia me colocar em risco, ou me ajudar a descobrir a verdade. Continuamos trabalhando o resto da manhã, e durante a tarde, fomos até o local, já que o caso de Aisha também contava como trabalho, poderíamos sair sem problemas.
Segundo Arthuro, o corpo dela foi encontrado em uma estrada de terra, que é longe da cidade. Pelo que soube, eu estava no trabalho quando soube da morte dela, alguém havia achado o corpo, mas a medida que a informação chegou até mim, foi tão rápido que era praticamente uma certeza que o assassino queria que eu soubesse imediatamente.
— Estamos chegando perto, ele disse que existe uma casa abandonada vinte metros longe do lugar. — Celine ficou em silêncio.
Continuei dirigindo, e ela estava apenas olhando para frente. Por alguma razão, ela parecia extremamente desconfortável enquanto olhava para a estrada. Quase como se já tivesse passado por esse caminho. Minha desconfiança estava aumentando a cada segundo. Logo, passamos pela tal casa, Celine fez um som estranho quando isso aconteceu, parecia um gemido de dor.
Estranhei a situação, mas permaneci em silêncio. Particularmente, eu não sabia o lugar exato onde aconteceu, mas quando Celine começou a tremer, parei o carro. Ela abriu a porta, como se estivesse com falta de ar. Sua respiração estava tão pesada, que por um segundo, achei que ela fosse desmaiar.
— Celine? — de fato, agora não tinha mais dúvidas. Celine sabia algo sobre o assassinato de Aisha.
Ela estava encarando um lugar específico, peguei a foto que Arthuro me enviou. Não havia olhado ainda, mas lá estava ela, com o rosto dilacerado, completamente irreconhecível. No fundo, notei que era onde estávamos. Celine passou perto de mim, e encarou a foto no meu celular. Seus olhos estavam repletos de lágrimas. Ela se ajoelhou em um lugar, passando a mal lentamente. Então, bateu no chão, com ódio evidente.
— Celine… — me aproximei dela, esticando minha mão para tocar seu ombro.
Nesse momento, Celine me puxou abruptamente, me jogando no chão. Ela começou a me bater, enquanto chorava sem parar. Não fiz nada, apenas deixei que ela descontasse a sua frustração. Por um segundo, cogitei que não poderia ser ela a assassina, mas Celine mentiu sobre muitas coisas.
Seu choro cessou depois de um tempo, e ela ficou parada, sentada perto de mim. Abraçando os próprios pés, ela não parecia mais estar consciente. Não tinha jeito, precisava tirar ela desse lugar. Peguei Celine no colo, que não relutou. A coloquei no carro, e voltei rapidamente para dar uma rápida olhada no lugar. Pensei que não encontraria nada, mas, vi um celular caído por perto. A tela estava um pouco rachada, mas tinha possibilidade de ser de Aisha.
Voltei para o carro, e então comecei a dirigir de volta. Celine dormiu quase que imediatamente. Ela não acordou, então era melhor não voltarmos ao trabalho. A porta dela estava trancada, então a levei para minha casa. Decidi deixá-la no quarto de hóspedes.
Peguei o celular que encontrei, e então liguei. Não tinha senha, e a tela de bloqueio era exatamente igual à minha. No momento em que a rede wi-fi se conectou, várias mensagens acumuladas começaram a chegar. Abaixei o volume do celular para não acordar Celine, e notei que as diversas mensagens eram de um número diferente.
Quando entrei nas conversas, me assustei com o conteúdo.
— “O que foi? Ainda não encontrou? Isso é chato, faz um mês, mas ainda não me respondeu”, “César, é burro ou apenas se faz? A polícia não encontrou o celular, porque eu mesmo coloquei lá depois para você encontrar, entendeu? Me responda assim que ver, se quiser saber sobre ela. Deveria estar morto, mas como sobreviveu, vou me divertir às suas custas”.
A ameaça me fez arrepiar.
Não tinha foto no perfil, então tinha apenas duas escolhas; responder, ou ignorar.
Obviamente, ele continuaria mandando mensagens, e possivelmente viria até mim. Se é a pessoa que matou Aisha, deve estar atrás de mim.
— “Diga o que quer”. — eu digitei.
A pessoa não estava online, então mesmo com minha resposta, não recebi nada. Foi quando ouvi um som baixo, uma voz feminina. Provavelmente deveria ser Celine, afinal, não teria como ter outra mulher na minha casa. Fui até o quarto, percebendo que ela estava se contorcendo na cama.
— Celine? — toquei a testa dela, estava com febre alta.
Procurei por vários lugares até encontrar remédios e outras coisas. Levei uma compressa fria e coloquei na testa dela. Ela estava sussurrando algo tão baixinho, tentei escutar, mas não consegui compreender suas palavras. Deveriam ser delírios.
Cuidar dela me causou uma estranha nostalgia, em alguns momentos, notei que Celine me parecia familiar. Estava preocupado com o tipo de relacionamento que tínhamos antes que eu perdesse a memória.
Realmente espero que não tenhamos tido um caso.
Foi a primeira conclusão que cheguei. Se Aisha a odiava, havia uma razão. Ela conhece a vida da mulher com quem eu morava, era minha fã, sabe muitas coisas sobre a minha vida conjugal… espero que realmente não seja isso.
Uma simples vizinha saberia tanto da vida de pessoas com quem não conversava tanto?
— P-Por favor, não! CÉSAR, NÃO PODE SER ELE! AAAAAH! — ela acordou gritando.
Celine não estava conseguindo respirar, e eu a apoiei, tentando acalmá-la.
— Celine, por favor, respire devagar! Vai ficar tudo bem… — vai mesmo ficar tudo bem? Por que ela disse meu nome?
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Atualizado até capítulo 44
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