Agora, eu deveria fazer algo para garantir que não teria chances de ser acusado injustamente. O documento poderia não ser o suficiente, então decidi mudar meu alvo de investigação.
— Então, agora que terminei, eu já-… — puxei o braço dela, queria perguntar algo a Celine.
— Na verdade, você poderia ficar um pouco? Tenho algumas dúvidas. — ela concordou, mas por um segundo, senti como se fosse exatamente o que ela queria.
Por que estou pensando isso? Não é como se ela quisesse que eu a chamasse para ficar, certo?
De fato, ainda não investiguei sobre Celine, afinal, estamos passando menos tempo juntos, e eu comecei a me sentir mais confortável ao lado dela. Ainda assim, eu pretendia fazer isso, pois o incômodo que senti no começo, quando a conheci, não foi esquecido por mim.
— Quer conversar sobre alguma coisa? Ou precisa de algo? — fiquei um pouco hesitante, mas era algo que precisava perguntar.
— Celine, há quanto tempo você mora por aqui? — apenas para confirmar, e ter certeza, se devo realmente fazer aquela pergunta.
— Há muito tempo, tanto que nem me lembro exatamente. — então era o suficiente.
— Se é assim, você está aqui desde que Aisha e eu nos mudamos? — ela sorriu estranhamente.
— Sim, eu estou. — somos vizinhos há um bom tempo.
Eu me levantei do lugar onde estava, e pedi que ela me seguisse. Celine não questionou, apenas fez o que pedi. Parei na porta do quarto, e pedi que ela entrasse, mas no momento que viu a caixa, com as cartas no chão, ela paralisou por completo.
— Por acaso, você sabe se Aisha esteve grávida? — perguntei, querendo uma confirmação, pois não soube nada sobre uma criança.
Ela ficou em total silêncio.
— Celine? — ela continuou sem me responder, e então chegou perto da caixa, e sentou no chão.
Ela pegou a foto do ultrassom, segurando junto ao peito. Me aproximei dela, tentando entender o que estava acontecendo.
— Celi-… — quando ouvi um choro baixo, tentei ver o rosto dela.
Celine estava chorando, sem conseguir se conter. Eu não estava compreendo a situação, mas eu a abracei, tentando mantê-la calma.
Por que está chorando? Tem possibilidade de ter algo relacionado a Aisha?
Ela não estava se acalmando, e eu também estava ficando nervoso. Fechei meus olhos, então algo estranho aconteceu.
[…]
— Hic… não… minha filha não, por favor! — uma mulher estava de costas para mim, em pé, enquanto conversava com o médico.
— Sinto muito Senhorita Aisha, mas seu bebê faleceu. Como eu já repeti, já fizemos a limpeza, e você deve evitar fazer esforço. — ela começou a chorar ainda mais.
— Senhor, por favor, leve a sua esposa! Já fazem dois dias que a criança morreu, e ela continua me procurando e insistindo que eu traga um bebê morto de volta à vida! — fui até ela, mas Aisha se recusava a sair de lá.
Alguns dias depois, ela teve alta, e voltamos para casa. Precisei pedir a Arthuro que mandasse alguém retirar todas as coisas do quarto de Pietra. Quando chegamos, Aisha foi direto para o quarto, e chorou quando viu que não tinha mais nada lá. Me senti tão mal quanto ela, mas Aisha não conseguia mais superar a morte da nossa filha.
— Hic… é culpa deles! — ela estava chorando, olhado as fotos e cartas que escreveu para que nossa filha lesse no futuro. — E-Eles, foi culpa deles! César, eles sabem da nossa vida! Essas pessoas, vamos nos afastar, ninguém pode saber sobre nós… — ela ficou repetindo que deveríamos ficar longe de tudo.
Naquele momento, Aisha e eu privamos completamente nossa vida pessoal. Arthuro não gostou do que estávamos fazendo, e eu me recusei a discutir isso com ele. Para mim, tudo que me importava, era que Aisha pudesse ficar bem.
Transformamos de volta aquele quarto, em um quarto para os hóspedes. Após perder nossa filha, tudo em nossas vidas mudou.
[…]
Nesse momento, eu percebi que tive uma lembrança. O rosto choroso de Aisha, eu o vi. Ela ainda parecia uma estranha para mim, mas pude vê-la um pouco.
— César… — Celine sussurrou meu nome, foi quando me afastei, percebendo a situação.
— Sinto muito… — ela havia parado de chorar.
— Sobre o que queria saber, sim, ela estava grávida, mas perdeu o bebê com seis meses. Devido a isso, os médicos disseram que ela não poderia mais ter filhos. Eu me lembro que Aisha estava muito mal, tentei falar com ele, mas se isolou completamente do mundo. Você fez o mesmo, isso foi mais ou menos cinco anos atrás. — ela se levantou.
— … — nesse momento, comecei a desconfiar novamente de Celine.
Por que ela chorou tanto?
— Preciso ir… — ela saiu sem sequer esperar minha resposta.
Fiquei ali, encarando as cartas no chão. No final, acabei decidindo ler o restante. Havia dez cartas, e a que me chamou mais atenção, foi a última que ela escreveu, após a morte da nossa filha.
— “Perdi você. Me sinto tão inútil, poderia perdoar a mamãe? Queria tanto que você pudesse ver o mundo, e crescer com o amor que eu nunca pude ter na infância. Sinto falta dos seus chutes dentro da minha barriga, de ansiar pelo seu nascimento, e imaginar com quem você iria se parecer mais, eu ou seu pai. É frustrante, porque sinto que isso nunca teria acontecido se as outras pessoas não soubessem que você iria nascer. Eu disse isso a César, ele não tem amigos, apenas a mim. Nenhum deles nos deseja bem, por que ele precisa de outras pessoas além de mim? Mas, isso também é culpa minha, porque se eu tivesse impedido, talvez as coisas pudessem ser diferentes agora”.
Essas palavras me deixaram incomodado. Aisha, que me conhecia tão bem, e estava ao meu lado há tanto tempo, dizia que meus “amigos” não me desejavam bem.
Guardei as cartas na caixa, e coloquei de volta no guarda-roupa. Minhas dúvidas estavam aumentando, queria poder lembrar de tudo logo.
Deitei na cama, e peguei meu celular novamente. Entrei no aplicativo de mensagens, e olhei novamente as conversas com Aisha.
— Ela nem usava foto de perfil… — eu estava cansado dessa situação, estar sem saber de nada era frustrante.
Quando eu finalmente teria uma lista concreta sobre o que aconteceu?
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Atualizado até capítulo 44
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