(16) "Despertar Sob o Céu Estrelado"

Mark

Enquanto estamos dentro do carro voltando para a fazenda, minha mente está longe. Olho através da janela para o céu estrelado, refletindo sobre tudo que me trouxe até essa situação.

— Está tudo bem, senhor? O senhor está calado desde que adentramos o carro. Algo o perturba? — a voz calma de Gerald me tira dos pensamentos.

Suspirando profundamente, digo:

— É como se, pela primeira vez, eu não soubesse como agir, Gerald. A construção do shopping nesta cidade já não parece mais fazer sentido algum. Ema Martins parece ter desencadeado algo em mim, algo que estava adormecido por tanto tempo.

Gerald me lança um olhar breve, antes de retornar sua atenção à estrada.

— A senhorita Ema é uma mulher extraordinária. Talvez ela tenha despertado um lado seu que o senhor desconhecia — comenta ele, escolhendo cuidadosamente as palavras.

— Talvez — murmuro, mais para mim mesmo do que para ele. — Ela me fez questionar meus objetivos, minhas intenções. Não sei se é pelo modo como ela se conecta com a terra, com a natureza... ou pelo fato de ela ser tão diferente de todas as outras pessoas que conheci.

O carro segue pela estrada de terra. O silêncio entre Gerald e eu é confortável, mas minha mente está longe de estar em paz. Penso na feira, nas onças, na garotinha indígena que Ema mencionou. Algo sobre toda essa situação me faz sentir que estou em um caminho desconhecido, um caminho que nunca planejei trilhar.

— Gerald, você acredita em destino? — pergunto, quebrando o silêncio mais uma vez.

Ele considera a pergunta por um momento antes de responder.

— Acredito que cada um de nós tem um propósito, senhor. Às vezes, levamos tempo para descobri-lo, mas ele sempre esteve lá, esperando para ser revelado. Talvez a senhorita Ema seja parte do seu propósito.

As palavras dele ressoam em minha mente enquanto continuamos a viagem. Talvez ele esteja certo. Talvez Ema seja a chave para algo maior do que eu jamais imaginei. A construção do shopping, meus negócios, tudo isso parece tão insignificante comparado ao que estou começando a sentir. É como se Ema tivesse acendido uma chama dentro de mim, uma chama que eu nem sabia que existia.

Ao chegar à fazenda, desço do carro ainda absorto em meus pensamentos. Gerald me observa por um momento antes de se afastar para cuidar das suas tarefas. Caminho lentamente até a varanda, o ar fresco da noite envolvendo-me, e olho para o céu estrelado novamente.

— O que você está tentando me mostrar, Ema? — murmuro, sentindo uma mistura de confusão e determinação crescendo dentro de mim. Seja lá o que for, estou decidido a descobrir.

Enquanto a noite avança, sinto que minha vida está prestes a mudar de uma maneira que nunca imaginei. Ema Martins é o catalisador dessa mudança, e eu não posso ignorar isso. A questão agora é: o que farei a seguir?

Mas então, como se fosse uma resposta à minha pergunta, sinto meu coração bater descompassado no peito, sem nenhum motivo aparente. Caminho apressado, descendo os degraus da varanda e chegando até o gramado. Levo a mão até meu coração disparado.

— Céus, o que é isso? Será que estou infartando? — indago, respirando rapidamente.

A brisa noturna agita meus cabelos, e inspiro profundamente, olhando para a escuridão diante de mim, para o pasto que se estende à frente, agora oculto pela noite. Uma sensação profunda e indescritível me consome, surgindo das minhas entranhas, um desejo avassalador.

— Não quero mais construir um shopping aqui. Quero fazer dessas terras que agora possuo um grande negócio agropecuário. Quero aprender sobre a terra, sobre a natureza, sobre os animais... e acho que encontrei a pessoa certa que poderá me ajudar com isso.

Após essas palavras, um sorriso genuíno surge em meus lábios, e, por coincidência, meu coração se acalma. Trilharei um caminho totalmente diferente do ramo imobiliário, mas sinto que é o que devo fazer.

Neste instante, ouço os sons dos grilos e a brisa fria da noite sopra mais forte, e sinto algo único: uma conexão profunda com o lugar, uma paz que nunca havia experimentado antes. É como se algo estivesse me mostrando a direção certa.

Caminho de volta para a casa, meu passo agora mais firme e decidido. Ao entrar, vejo Gerald ainda ocupado com algumas tarefas. Ele me olha com curiosidade, notando a mudança em minha expressão.

— Gerald, amanhã vamos começar a mudança — digo com convicção.

— Mudança, senhor? — ele pergunta, intrigado.

— Sim, quero transformar essas terras em algo produtivo, em um negócio agropecuário. Também quero aprender tudo sobre isso. E, mesmo que Ema não me queira por perto, parece que ela me verá com mais frequência do que imagina.

Gerald sorri levemente, como se entendesse algo que eu ainda estou começando a descobrir.

— É uma decisão nobre, senhor. Acredito que a senhorita Ema ficará surpresa, mas também será de grande ajuda.

Enquanto subo para o meu quarto, sinto uma excitação renovada, uma energia que não sentia há muito tempo. É como se, finalmente, eu tivesse encontrado meu verdadeiro propósito. E, de alguma forma, sei que Ema será parte essencial dessa jornada.

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