(14) "Visões e Perigos na Clareira"

Mark

Assim que alcanço Ema, a encontro em uma clareira parada e inerte, olhando para o nada, como se estivesse paralisada e em transe. Fico por um momento parado, sem reação, observando-a.

Então, ela parece voltar a si, sua respiração ainda ofegante. Dou um passo à frente, pronto para me aproximar, mas piso em um galho seco que se quebra, fazendo seu som ecoar e chamar sua atenção.

Ela se vira, seus olhos se arregalam por um instante, antes de rapidamente assumir uma postura firme.

— O que faz aqui? Por que está me seguindo? — pergunta, com uma mistura de raiva e defensividade na voz.

Eu levanto as mãos em um gesto pacificador, tentando parecer o menos ameaçador possível.

— Eu vi você vir para cá e fiquei curioso. Você saiu correndo de repente e agora parecia estar em transe — respondo, mantendo o tom calmo.

Ema me olha, sua expressão oscilando entre desconfiança e confusão.

— Eu... Só tive uma visão, uma experiência estranha — ela disse, ainda com a respiração descompassada.

— Uma visão? — pergunto, genuinamente interessado. — Que tipo de visão?

Ela hesita por um momento, como se ponderasse se deveria ou não me contar. Então, respira fundo e começa a falar.

— Vi uma garotinha indígena. Ela estava correndo, fugindo de caçadores. Eu a segui e vi... coisas horríveis. Pessoas sendo caçadas, mortas. E essa garotinha, ela foi levada por um homem que decidiu protegê-la. Mas tudo parecia tão real, como se eu estivesse lá — Ema diz, sua voz tremendo ligeiramente enquanto fala.

Eu a escuto atentamente, absorvendo cada palavra. A intensidade de sua descrição me deixa perplexo.

— Isso é... intenso, Ema. Você acha que essa visão tem algum significado? — pergunto, tentando entender.

No entanto, ela não me responde de imediato. Em vez disso, cruza os braços e me olha frustrada.

— Quer saber, eu nem deveria ter te contado nada. Não é da sua conta. E, além disso, eu não confio em você, Mark. Pedi para ficar longe de mim, então não me siga mais. Adeus.

Ela começa a passar por mim, claramente pronta para me deixar aqui, mas abruptamente se detém e, com um susurro urgente, toca meu braço.

— Não faça nenhum movimento brusco, Mark.

— Do que você está...— começo a dizer, mas as palavras morrem em minha boca.

Diante de nós, um casal de onças com seus filhotes. Engulo em seco, minhas mãos suando frio.

— Mas que porra é essa? Essas onças deviam estar aqui? — susurro para Ema, alarmado.

Ela me lança um olhar severo, balançando a cabeça levemente.

— Sim, estamos no território delas. Mantenha a calma e não faça movimentos bruscos. Não queremos parecer uma ameaça — ela responde em um tom baixo e controlado.

Meu coração martela no peito enquanto observo as onças, que parecem nos estudar com um olhar calculista. Os filhotes brincam despreocupadamente ao redor dos pais, mas os adultos estão claramente atentos a cada movimento nosso.

— Ema, o que vamos fazer? — pergunto, tentando manter a voz firme.

Ela respira fundo, seus olhos nunca deixando os dos animais, e me diz:

— Se mantenha firme. Não demonstre medo, mas respeito. Este habitat é deles. Eles estão com filhotes, provavelmente só estão de passagem. Não temos muito o que fazer além de esperar.

— O quê? Você só pode estar brincando! Eu sou muito novo para morrer assim. Não quero virar comida de onça, Ema! — digo em um susurro angustiado, tremendo de medo.

— Cala a boca, Mark! Se contenha! Cadê toda aquela sua confiança, hein? Fique firme! — diz ela em um tom baixo e ríspido.

Engulo em seco, tentando me controlar. A presença de Ema, tão calma e determinada, é a única coisa que impede meu pânico de tomar conta. As onças continuam nos observando, os filhotes brincando livremente. Cada segundo parece se arrastar, o medo crescendo a cada instante.

E então uma delas dá um passo à frente, nos olhando fixamente, como se fosse saltar sobre nós.

— Esse bicho vai nos atacar, Ema! É agora que iremos morrer! — digo, enérgico de medo, com os olhos arregalados em direção à onça que se aproxima.

Sinto a respiração de Ema acelerar ao meu lado, mas ela permanece firme.

— Fique parado, Mark. Não se mexa. Respire fundo e mantenha a calma — diz ela, em um tom de voz controlado, mas tenso.

A onça continua a se aproximar, seus olhos fixos em nós, cada passo calculado e silencioso. Meu coração bate tão rápido que posso senti-lo pulsar em minha garganta.

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