(11) "Vestido de Coragem"

Ema

Como hoje é sexta-feira, temos uma grande feira aqui na cidade de Monte Sereno, onde muitos produtores da região levam seus produtos artesanais, inclusive nós do rancho. Enquanto me arrumo, suspiro profundamente, sentindo a brisa da tarde entrando pela janela semiaberta do meu quarto.

Ouço uma leve batida na porta e a voz de Tere surge do outro lado:

— Ema? Posso entrar, minha menina?

Como já estou pronta, destranco a porta. Ela me olha e seus olhos castanhos me analisam com certa surpresa.

— Você está simplesmente incrível. Há quanto tempo não te vejo de vestido — diz ela sorrindo, entrando no quarto.

Dou um pequeno sorriso, mas lá no fundo me pergunto se vesti esse vestido por causa do que aquele infeliz do Mark me disse ontem. Talvez ele esteja certo; eu realmente me sinto deslocada, acuada de certa forma, quando se trata da minha feminilidade.

Tere, sempre atenta, senta na beira da minha cama e bate na mesma para eu me sentar ao seu lado.

— O que houve, hein? Você está assim desde que chegou ontem daquele jantar. O que aquela cobra te disse, minha filha?

Olho espantada para Tere e pergunto, levantando a sobrancelha:

— Por que está chamando ele de cobra, Tere?

Ela suspira e, olhando para um ponto fixo, diz:

— Porque é isso que ele é, uma cobra pronta para te dar o bote, criança. Minha intuição não erra, filha. Mas ele está muito enganado se acha que você não tem proteção. Ele se surpreenderia se soubesse o quão protegida você é.

Então sei que Tere está naqueles momentos em que parece estar em transe, guiada por sua espiritualidade.

— Você teve uma intuição sobre ele? — pergunto, olhando para ela.

Tere me encara por um momento, seus olhos brilhando com uma intensidade que me deixa desconfortável.

— Sim, Ema. Ontem à noite, depois que você saiu para o jantar, eu senti uma presença. Algo me disse para ficar alerta. E então, quando você voltou, percebi a energia que trouxe consigo.

Minha mente volta ao jantar de ontem, lembrando-me das palavras de Mark, do seu olhar intenso e do corte que fiz em seu pescoço. Um arrepio percorre minha espinha.

— Mas o que ele quer, Tere? — pergunto angustiada.

— Ele quer você, minha menina. Você é uma mulher forte, Ema, e ele vê isso. Quer te controlar, te possuir — diz ela como se estivesse em transe.

As lágrimas invadem meus olhos, e me vejo anos atrás, na minha adolescência, onde fui muito assediada. Envolvo os braços ao redor de mim e, entre sussurros, digo:

— Eu não quero me sentir como daquela vez, Tere. Não quero me sentir como um pedaço de carne em exposição. Foi por isso que abandonei esses vestidos. Aqueles olhares, aqueles comentários nojentos, ainda estão gravados na minha mente. Eu... eu...

As palavras morrem em minha boca e começo a tremer, lembrando dos assédios e das brigas que Lucas se metia na escola e na região para me defender.

— Eu acho que devo tirar esse vestido... foi uma péssima ideia.

Tere se levanta e, pegando minha mão, me leva até o espelho, dizendo:

— Não, filha, você precisa enfrentar seus demônios. Olhe para você, Ema. Sua beleza não é só física; sua alma brilha, minha menina. Isso não atrai apenas semelhantes a você, mas também sombras. Mas não se anule mais. Você é o que é. Brilhe ainda mais forte e cegue aqueles que se aproximam com más intenções. A luz irá queimar os olhos daqueles que não a suportarem.

Olho para meu reflexo no espelho, vendo uma mulher que tentou se esconder por medo do que os outros possam fazer. As palavras de Tere ressoam profundamente dentro de mim, trazendo à tona minha força. Inspiro profundamente, secando as lágrimas do rosto.

— Você está certa, Tere. Eu não vou deixar o medo me controlar mais. Hoje, eu vou ser quem realmente sou, sem medo do que possam pensar ou fazer.

Ela sorri e me abraça com força.

— Isso mesmo, minha menina. Você é forte, e não está sozinha. Agora vamos à feira, mostre ao mundo a mulher incrível que você é.

E assim saímos do quarto, eu me sentindo mais confiante, embora ainda um pouco apreensiva. A luz do final da tarde banha o corredor, criando um contraste entre a sombra e a luz que parece refletir minha própria luta interna.

Ao descer as escadas, Tere me dá um olhar encorajador, o tipo de olhar que apenas ela sabe dar, cheio de compreensão e força. Ela sempre soube como me fazer sentir segura, mesmo nos momentos mais difíceis.

— Vamos, menina. Estou com você sempre.

Ao sair pela porta da frente, a brisa fresca me envolve, trazendo consigo o aroma familiar de terra e vegetação. Passamos pelo jardim do rancho, onde as flores de verão estão em plena floração, um lembrete da beleza que pode surgir mesmo depois das tempestades mais intensas. Com Tere ao meu lado e minha determinação renovada, estou pronta para qualquer desafio que venha.

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REFLEXÃO DA AUTORA

Olá Estrelinhas!

Escrever essa cena foi como abrir um diálogo íntimo com as experiências compartilhadas por muitas mulheres. Cada palavra evocou memórias de lutas e triunfos, revelando a força e a resiliência que tantas vezes são invisíveis aos olhos externos, mas que cada uma de nós sente na pele. Que todas nós possamos encontrar inspiração e fortalecimento e que nossa luz brilhe cada vez mais. E não se esqueça irmã de luta, você é incrivelmente forte e capaz, eu acredito em Você. 🌟

Com todo meu carinho, de mulher para mulheres.🌹❤

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