Capítulo 8

Assim que entrei no quarto de Hedone, vi-a encolhida em um canto, chorando e abraçando seu urso de pelúcia. Aproximei-me, abracei-a e, assim que fiz isso, ela disse:

-papai e mamãe me odeiam, não entendo por que nasci.

-eu não te odeio.

-não estou falando de você, sei que você me ama, mas minha mãe, que me deu à luz, me odeia e meu pai também.

Ao ouvi-la dizer isso, minha raiva intensificou-se, mas contive-me, abracei-a ainda mais forte e tentei consolá-la, mas ela não parou de chorar, então tudo que pude fazer foi ficar com ela até que adormecesse. Depois, levei-a para sua cama e a cobri com um cobertor. Assim que o fiz, despedi-me com um beijo na testa e saí do seu quarto. E antes de ser expulso à força dessa casa, decidi ao menos acertar um soco no maldito, então o procurei pela casa toda e quando o encontrei, gritei:

-seu maldito, você não merece ser pai.

E logo em seguida dei-lhe um soco na cara, e ele me revidou. Em questão de segundos, estávamos ambos no chão, nos golpeando um ao outro e, quanto mais ele se enfurecia, mais sua aparência física mudava. Chegou um momento em que me assustei, pois a pessoa a qual estava golpeando e quem me estava golpeando não era humana; seus olhos tornaram-se dourados, e começaram a surgir asas dele. Assim que mudou, ele percebeu a transformação, então se afastou de mim, virou-se de costas e disse:

-vá embora daqui.

Eu, assustado, mas ainda com raiva, respondi:

-o que diabos você é?

-que você vá embora.

-não tenho medo de você, agora se você é um monstro tanto por dentro quanto por fora.

-VAI EMBORA.

-não irei, não deixarei essa menininha com alguém como você.

-se você não for, juro que te mato.

-faça-o, não me importa, de todo modo não haverá ninguém que sinta minha falta.

-está bem, se isso é o que você quer.

Eros escondeu suas asas, aproximou-se de mim, pegou-me pelo pescoço e disse:

-seria muito fácil matar você, já que não sofreria, mas agora que você foi corajoso o suficiente para me desafiar, terá que aceitar as consequências.

Olhei nos olhos dele e com muita segurança disse:

-não tenho medo de você.

Ele me soltou, tirou uma flecha de sei lá onde e cravou-a no meu peito, logo em seguida me disse:

-agora você vai se apaixonar por mim.

-argh, maldito, como ousa me apunhalar, melhor você ir para o inferno, maldito maníaco.

-ha, ha, ha, há um momento você me perguntou o que eu era e agora te direi que sou Eros, deus do amor.

-você pode ter muito dinheiro, mas sua moral, sua responsabilidade e sanidade mental são inexistentes.

-não estou louco, você viu há pouco minhas asas e mesmo assim não acredita em mim.

-para ser o deus do amor, você é muito ruim em dar amor, especialmente para sua filha.

-não se meta.

-valente deus do amor, você é um nojo, dá pena.

-em algumas horas me amará como a ninguém e nesse momento começará seu tormento.

-ha, ha, ha, duvido muito que funcione, mas vamos ver.

-tolinho, tolão, você realmente continua achando que isso é uma piada?

-melhor eu ir embora.

-olhe-me atentamente.

Eros transformou-se, bateu suas asas e então disse:

-sou imortal e muito poderoso, sou filho de Vênus e de Marte, sou filho da deusa do amor e do deus da guerra, vivi por séculos e ainda assim você não tem medo de mim?

-não, mesmo tendo visto como você realmente é, não tenho medo e já que disse isso, estou indo embora.

-não

-tudo bem.

Aproximei-me de Eros, abracei-o fazendo acreditar que sua flecha tinha feito efeito e então toquei sua costa alada e senti uma bainha, saquei uma flecha e cravei-a nas suas costas, depois saí correndo de lá.

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