Primeira aula

Após dormir um pouco acabei me atrasando para a minha primeira aula, seria de magia e com certeza o professor que comandava aquele ensino não era um dos mais gentis do colégio, digo isso pois todos já ouviram falar de Demétrio. E nada nunca foi tão confortante.

Acelero meus passos pelo corredor e novamente, meu corpo se choca com alguém. Eu realmente não sou uma garota de choque.

— Desculpa... — sussurro baixinho enquanto puxo os cadernos meus que caíram no chão.

— Oh, está tudo bem. — ela sorri gentilmente. — Você não é aquela garota que esbarrou no Lucian ? A novata encrenqueira?

— Lucian? — as memórias vêem em minha mente e então me lembro do rosto dele mais uma vez. — Ah, é dele que você está falando. E eu não sou uma encrenqueira, só acabei esbarrando nele sem querer.

— Não é o que todos estão dizendo por aí. Você já pode ser considerada a maior putinha da academia por todas as garotas que são afim dele, parabéns gracinha — ela se aproxima, tão perto que seus lábios quase encostam nos meus. Minhas bochechas esquentam. — Eu amo as putinhas...

Olho para ela com desdém enquanto mordo meu lábio, me impedindo de falar poucas e boas para aquela maluca.

— Haha! Tô brincando, te peguei! —ela gargalha e eu fecho a cara. Aquilo não é engraçado. — Você é tão entediante, não pode sorrir nem um pouquinho poxa? Tem que se divertir, os anos nessa academia não são nada fáceis, o que espera que vai acontecer enquanto você somente sabe ficar com essa cara e fingir ser uma santa?

— Como pode desejar que eu sorria quando o meu primeiro dia foi péssimo? Olha, eu não me importo com você, não ligo pra você e nem pra eles, apenas me deixe em paz. — Dou as costas, andando novamente para longe.

— Sou Ayla, como é seu nome? — ela corre atrás de mim, me perseguindo.

— Mariybel...

— Olá, Mariybel, é um enorme prazer te conhecer e apesar de você ser tediante desejo ser sua amiga. Oh! essa é a sua sala? Que incrível! é a minha também.

— Mas você é mais velha que eu.

— Todo ano são selecionados alunos aleatórios para uma determinada sala, e eu fui selecionada para a sua. Poderemos ficar juntas.

— A-ah, claro... — Entro na sala e o lugar barulhento se silencia. O professor Demétrio ainda não está na sala, para a nossa sorte.

Por algum motivo todos arregalam os olhos quando vêem Ayla logo atrás de mim, sorrindo gentilmente para todos como uma boa aluna que parecia ser.

— Por que estão nos encarando assim ?

— Não é nada demais. É só incomum que alguém de uma nobreza tão alta e pura esteja presente nessa humilde sala, eu no lugar deles também ficará bem surpresa. Mas não ligue para isso, vamos conversar e aproveitar todo o tempo para nos conhecermos e virarmos boas amigas!

— Ayla, espero que demonstre toda essa animação na primeira técnica da magia negra ou estará fora na minha próxima aula — a voz rouca do professor Demétrio estremeceu cada canto do meu corpo e provavelmente da sala também.

Ele é bem bonito, alto, sério, uma barba rala e bem desenhada em seu rosto, lábios finos e um corpo esculpido escondido e ao mesmo tempo sendo marcado pelo blazer.

— Eu sei fazer o melhor quando se trata de magia, professor. Na verdade sou boa em tudo que faço, se não, não estaria em terceiro lugar todo ano no ranking dos melhores alunos dessa escola.

— Veremos... — ele diz entre dentes e eu me encolho em minha cadeira enquanto apenas sinto aquele ambiente ficar cada vez mais tensos. — Nossa primeira aula será simples graças aos iniciantes que estarão participando conosco nesse semestre. Quero que invoquem sua primeira criatura. — Mas isso não tem nada de simples!

É uma magia complicada onde somente demônios de alto escalão conseguem fazer, tendo em mente que somente a primeira magia deve funcionar com perfeição e trazer de si a criatura perfeita, pois não haverá outra chance novamente caso falhe.

— Silêncio! — ele para os murmurinhos e eu bato meus pés no chão, me sentindo nervosa. — Se não conseguem nem mesmo fazer o básico quero que se retirem da minha aula. Não aceito alunos tão baixos e deprimentes como vocês.

Lápis vermelhos começam a voar em direção a cada mesa, pousando sobre nossas mãos enquanto a luz que rodeia eles desaparecem, e dão lugar a uma ansiedade profunda.

— Um ponto a mais pra cada um que conseguir desenhar o símbolo da magia sem instruções. Caso pegue alguém navegando pela biblioteca online da escola estará suspenso das aulas, assim como qualquer meio de trapaça que eu encontrar.

— Você sabe fazer, Bel? — Ayla pergunta baixinho na mesa do lado.

— Lembro um pouco, mas não tenho certeza...

Esfrego minhas unhas nas pasmas de minhas mãos.

— Poxa, boa sorte. Espero que consiga uma criatura foda para você calar a boca de todos esses babacas.

Também espero!

— Ótimo, comecem. Vocês tem apenas 1 hora de relógio.

Lembro um pouco dos detalhes, mas ainda é confuso. Tem os símbolos dos elementos: ar, água, terra, fogo e uma espiral no meio ligando-os e concentrando sua energia no centro da espiral, onde tem um símbolo diabólico de uma cruz de ponta cabeça junto com uma bola com 2 partes pontudas no topo, como um demônio feito de palitos como de crianças. — Ativar... — murmuro, mas nada acontece.

— Algum problema novata? Uma garota ao lado pergunta enquanto sorri. — Espero que não consiga entrar nessa sala nunca mais nesse ano.

— Bel, não lingue para ela. — Ayla sequer olha em nossa direção, apenas continua escrevendo os desenhos sobre a mesa com o lápis vermelho. — Todos sabem, é o básico de uma magia poderosa. Você precisa dar algo para que ele der algo a você — ela morde o dedo, e esfrega o sangue contra o centro da espiral. — Ativar.

A espiral brilha e roda em uma cor vermelho sangue que se torne um prego escuro. Uma sombra negra surge e se estica por um um buraco que se abre em sua banca. Onde sai sua criatura, que tem a forma de uma mulher com chifres e um sorriso diabólico e que nunca some do seu corpo negro, sem face e obscuro.

Eu repito, tendo mais cuidado do que devia para que nada desse errado. Surge um brilho, uma voz profunda em minha mente. A sensação de algo segurando meu coração entre as mãos e o apertando sem parar. Eu seguro o grito de dor enquanto agarro meu peito e me remexo em minha cadeira.

— Bel! está tudo bem? — Ayla se aproxima.

— Isso é demais para ela, mas também como não seria se é apenas uma plebeia. — Demétrio diz com frieza. — Desista Mariybel, se não consegue lidar com sua magia deve desistir e esquecer totalmente de como é usar uma magia descente como todos os outros da nossa raça.

— N-nao!

O sangue escorre pelo meu nariz e pinga contra o desenho, o brilho aumenta.

S-so mais um pouco...

A dor não para, só aumenta e se torna cada vez mais difícil segurar enquanto perco mais e mais sangue. Estou quase desmaiando. Estou no meu limite pelo esgotamento da magia negra.

— Chega. Você falhou. — Demétrio traça um novo risco por cima do desenho, quebrando todo e qualquer conexão mágica que possuía comigo.

Seguro o choro enquanto puxo o ar com força para meus pulmões.

— Você não é qualificada o suficiente para essa aula. Vá pra enfermaria e não volte mais.

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