Na manhã seguinte ao baile, o esplendor do evento parecia uma memória distante para Miranda. As primeiras luzes do amanhecer penetravam pela janela de seu quarto, enchendo o espaço com uma suave luminosidade. Ela estava sentada em sua penteadeira, olhando seu reflexo no espelho com uma expressão de contemplação. Seus pensamentos vagavam pelas conversas e danças da noite anterior, particularmente a breve troca de palavras com Percy, que deixara uma marca indelével em seu coração.
Enquanto seus criados ajudavam-na a se preparar para o dia, ela pensava na promessa implícita de compreensão e apoio que vira nos olhos de Percy. Esse pensamento trouxe-lhe uma sensação de consolo e esperança, algo que parecia ausente nas palavras formais e frias de Eduardo.
— Senhorita Modesty, seu pai deseja falar contigo na biblioteca. — anunciou um dos criados, interrompendo seus devaneios.
Miranda assentiu, levantando-se com graça. Ao descer a grande escadaria da mansão, sentiu o peso do momento. A biblioteca era um lugar reservado para conversas sérias, e ela sabia que seu pai, Dominique, tinha algo importante a discutir.
Entrando na biblioteca, encontrou seu pai sentado em uma poltrona de couro, envolto por uma aura de autoridade que sempre o acompanhava. Ele a olhou com uma expressão grave, gesticulando para que se sentasse.
— Miranda, precisamos falar sobre teu futuro. — começou Dominique, com a voz firme e determinada. — O baile de ontem foi um sucesso, e a aliança com a família Cavalcanti é um passo crucial para a nossa posição na sociedade. Eduardo é um homem respeitável, e este casamento trará benefícios mútuos.
Miranda ouviu em silêncio, sentindo o peso das expectativas recaírem sobre seus ombros mais uma vez. Sabia que argumentar seria inútil, pois seu pai estava decidido. No entanto, ela desejava mais do que um simples acordo social; ansiava por algo verdadeiro, algo que desse sentido à sua existência.
— Pai, compreendo a importância dessa união para nossa família. — respondeu ela, com uma voz calma e controlada. — Mas peço que compreenda que desejo encontrar minha própria felicidade, além das convenções e das expectativas sociais.
Dominique a observou por um momento, sua expressão suavizando-se levemente. Embora rígido em seus princípios, ele ainda era um pai que se preocupava com o bem-estar de sua filha.
— Entendo teus sentimentos, Miranda. — disse ele, com um suspiro. — Mas as responsabilidades que temos para com nossa família e nossa posição na sociedade são algo que não podemos ignorar. Espero que, com o tempo, compreendas a importância dessas decisões.
Após a conversa com seu pai, Miranda decidiu procurar um refúgio fora da mansão, um lugar onde pudesse refletir em paz. Caminhou até os jardins, onde as flores de verão desabrochavam em um espetáculo de cores vibrantes. Ali, entre as rosas e os lilases, encontrou um momento de tranquilidade, longe das pressões e das obrigações que a esperavam.
Enquanto se perdia na beleza do jardim, ouviu passos suaves se aproximando. Virando-se, seu coração acelerou ao ver Eduardo, seu noivo, caminhando em sua direção com um buquê de rosas vermelhas em mãos. Ele parecia ainda mais imponente à luz do sol da manhã, com um sorriso que sugeria uma mistura de satisfação e expectativa.
— Bom dia, minha querida Miranda. — disse Eduardo, com uma reverência cortês. — Trouxe estas rosas para ti, em sinal de meu afeto e nosso futuro juntos.
Miranda pegou o buquê com uma expressão mista de surpresa e hesitação. Embora apreciasse o gesto, não conseguia afastar a sensação de aprisionamento que acompanhava cada uma das palavras e ações de Eduardo.
— Agradeço pelas flores, Eduardo. São realmente belas. — respondeu ela, com um sorriso forçado, enquanto seu coração lutava contra a incerteza que a atormentava.
Eduardo parecia não notar a hesitação em sua voz. Ele pegou a mão de Miranda e a conduziu para um banco de pedra sob uma árvore frondosa, onde poderiam conversar em privado.
— Miranda, desejo falar-te sobre nosso futuro. — começou ele, com um tom de voz que refletia a seriedade de suas intenções. — Nosso casamento trará grandes benefícios para ambas as nossas famílias, mas, acima de tudo, quero que saibas que meu desejo é fazer-te feliz e proporcionar-te uma vida de conforto e segurança.
Miranda assentiu, mas não conseguiu encontrar as palavras para expressar seus verdadeiros sentimentos. Ela sabia que Eduardo tinha boas intenções e que, aos olhos da sociedade, ele era um bom partido. Contudo, não podia ignorar a sensação de que sua verdadeira felicidade estava em outro lugar, talvez em uma vida menos restrita pelas convenções sociais.
— Eduardo, aprecio teu cuidado e consideração. — disse ela, tentando escolher suas palavras com cuidado. — Mas espero que possas compreender que meus desejos vão além das convenções e das expectativas. Quero encontrar meu próprio caminho e viver uma vida que seja verdadeira para mim.
Eduardo franziu a testa, sua expressão refletindo uma mistura de confusão e leve irritação.
— Compreendo teus anseios, Miranda. — respondeu ele, sua voz assumindo um tom mais sério. — Mas a realidade é que nossas famílias esperam muito de nós, e é nosso dever cumprir essas expectativas. Prometo fazer o possível para garantir tua felicidade dentro dos limites de nossa posição.
Miranda sentiu-se sufocada pelas palavras de Eduardo, como se a liberdade que tanto ansiava estivesse sendo gradualmente retirada de suas mãos. Olhou para o buquê de rosas em suas mãos, sentindo a ironia da beleza das flores contrastando com a realidade de sua situação.
— Obrigada, Eduardo. — disse ela finalmente, com um suspiro resignado. — Agradeço tua compreensão e teus esforços.
Após alguns minutos de conversa cortês, Eduardo se levantou, despedindo-se de Miranda com uma reverência e um beijo na mão. Ele partiu, deixando-a sozinha com seus pensamentos e o buquê de rosas, que agora parecia um símbolo de uma vida que não desejava.
Sentada no banco, Miranda sentiu uma onda de tristeza e desesperança tomar conta de seu coração. Olhou para o horizonte, onde o sol brilhava alto no céu, e desejou com todas as suas forças encontrar um caminho que lhe permitisse viver de acordo com seus próprios termos.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Lúpulo
Peguei nojo desse homem /Skull/
2024-06-26
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