Capítulo 09

Após o café da manhã, nós três fomos para a sala.

Lis: Bom, a mala já está aqui… Então está na hora de irmos, meu amor. Vai lá falar com a dona Lia, que cuidou muito bem de você.

Alice corre para a cozinha.

Lis: Arthur, obrigada mais uma vez pela força que você me deu. Serei eternamente grata e saiba que você estará nas minhas orações pelo resto da vida.

Arthur: Eu agradeço pelas suas orações, mas você sabe que pode me agradecer de uma outra maneira também.

Lis: Arthur, eu…

A Alice volta e nós disfarçamos.

Lis: Conseguiu falar com a titia? Ótimo! Agora vai buscar o celular da mamãe lá no quarto, acabei esquecendo... Você só precisa subir a escada e virar no corredor, é a terceira porta.

Alice: Eu já sei, mamãe! É tão fácil que até uma criança sabe.

Ela sai correndo e eu rio com Arthur.

Lis: Essa menina é muito mais inteligente do que eu e tem a resposta na ponta da língua, você ouviu?

Arthur: E além disso, é uma criança bonita e saudável... Não é à toa que eu quero que você seja a mãe do meu filho.

Lis: Eu realmente espero que você encontre uma moça tão bacana quanto você e que se casem. Você merece isso e qualquer mulher iria aceitar construir uma família ao seu lado. Mas faça isso amando alguém, para que seu filho cresça com uma mãe ao lado. Dê uma nova chance ao amor, você merece.

Eu o abraço e, quando menos esperamos, ouvimos um barulho. Ao olhar para a escada, vemos Alice descendo correndo e chorando com o celular nas mãos, gritando por mim.

Lis: Alice!

Quando ela chega aos últimos degraus, acaba se desequilibrando e cai. Foi tudo tão rápido que não deu para fazermos nada para evitar.

Lis: Minha filha!

Arthur: Calma, foi só um susto.

Ele a pega no colo e a leva até o sofá.

Lis: Dói alguma coisa? Fala comigo, meu amor!

Arthur: Calma, Lis. Ela está nervosa com o susto, isso é normal... Já passou, Alice.

Lia: Meu Deus! O que aconteceu?

Arthur: Traga uma água para ela, por favor.

Logo a água chegou e a Lia entregou pra ela.

Lis: Pronto, meu amor. Foi só um susto. Agora me conta o que aconteceu para você descer daquele jeito.

Alice respirou fundo.

Alice: O papai ligou e disse que vai me pegar e me levar pra casa para sempre! E eu não vou ver você, mamãe! Nunca mais!

Eu abracei minha filha imediatamente. Agora nós duas estávamos chorando.

Lis: Por que você atendeu o celular, meu amor? Eu já não te disse que não pode atender antes de me falar?

Arthur sentou ao nosso lado no sofá e pediu para Lia nos deixar sozinhas um pouco.

Arthur: Fique mais um pouco até ela se acalmar. Estarei naquela sala, me chame quando estiverem mais calmas.

Lis: Obrigada.

Arthur foi para a outra sala e eu desfiz o abraço com a Alice, me sentando ao lado dela.

Lis: Olha pra mim.

Ela olhou.

Lis: Quando saímos daquela casa, eu prometi que sempre iria te proteger. Você se lembra?

Ela balançou a cabeça afirmativamente.

Lis: Então, a mamãe está aqui e nada vai te acontecer. Ele não vai nos encontrar porque vamos embora e ficaremos na casa da amiga da mamãe. Ele não vai te levar a lugar algum porque estou do seu lado. Vou te proteger de tudo e de todos.

Alice: Mas ele disse que vai me levar para longe de você.

Lis: Não vai, filha. Ninguém vai nos separar jamais, não importa onde estivermos ou a situação. Do meu lado, você não sai.

Beijei a testa dela e ela se aconchegou no sofá, segurando a almofada. Fiquei ali fazendo carinho no cabelo dela até que ela dormisse.

Arthur: Ela dormiu?

Lis: Arthur…

Levantei, secando as lágrimas.

Lis: Sim, ela dormiu.

Arthur: Foi o seu ex-marido, não foi? Por que você não denuncia esse cara, Lis? Dá pra ver que vocês têm muito medo dele.

Lis: Eu já o denunciei por agressão, mas ele ficou apenas alguns meses preso… E sim, eu morro de medo dele e a Alice também… Ela escutava tudo desde que estava na minha barriga e tem muito medo do pai.

Arthur: Espera um pouco. Você quer me dizer que esse infeliz te batia até mesmo grávida?

Lis: Sim, é isso mesmo… O Marlon é um homem desprezível…

Arthur: Mas como alguém como você foi parar com um cara assim? Eu consigo entender que provavelmente ele se fazia de bom no início, mas quando ele começou a ser agressivo, você não pensou em se separar de uma vez?

Lis: É complicado, Arthur… Eu havia acabado de perder o meu pai e o meu luto me fez cometer muitos erros… Quando percebi quem ele era, já tinha engravidado. Eu amo a Alice mais que tudo, mas se eu pudesse voltar atrás...

Arthur colocou a mão no meu ombro.

Arthur: Fique mais um dia aqui. A Alice está com medo e não será bom viajarem hoje.

Lis: Agradeço a gentileza, mas agora estou com ainda mais vontade de ir embora da cidade. Minha amiga mora em uma vila bem protegida e em um bairro pouco conhecido, o Marlon não vai nos encontrar lá.

Arthur: Espero que sim, mas ele também deve saber que você tem essa amiga, não acha? Além disso, essa mulher pode ter se mudado, você mesma disse que não tem mais contato com ela.

Lis: Não, ela com certeza ainda mora lá. E o Marlon não sabe onde ela mora.

Arthur: Pelo menos faça outra denúncia contra ele, Lis. Mostre as provas de que ele está te ameaçando. Eu vou com você e ainda falo com meu advogado para nos ajudar a deixá-lo longe o máximo possível.

Lis: Como eu poderia aceitar uma ajuda dessas? Claro que não, Arthur! Se eu for, será sozinha como da primeira vez… Ninguém tem culpa da minha falta de responsabilidade, muito menos você, que acabei de conhecer e já me ajudou tanto.

Arthur: Já vi que você é uma mulher muito difícil de convencer.

Sorri fraco e ele levou a mão até o bolso para tirar a carteira.

Arthur: Já que você não vai passar mais uma noite aqui nem aceitar minha proposta, pegue isso para te ajudar com a Alice enquanto você não acha um emprego.

Ele tirou algumas notas de dinheiro da carteira e colocou na minha frente.

Lis: Mas de jeito nenhum! Guarde isso, Arthur!

Arthur: Pegue! Estou dando para a Alice!

Afasto a mão dele de perto de mim.

Lis: Arthur, não me faça ficar mais envergonhada do que já estou. Guarde esse dinheiro, eu não vou aceitar e pronto.

Ele insiste.

Arthur: Por favor, não vou me sentir bem se você não aceitar. Pense na sua filha, talvez essa amiga não esteja mais lá.

Lis: Eu tenho meu cartão de crédito.

Arthur: Você vai ficar se endividando sem ter um trabalho? Custa aceitar a minha ajuda? Eu não quero nada em troca, Lis… nem mesmo vou insistir para que aceite minha proposta.

Lis: Eu sei que não, mas mesmo assim eu não posso aceitar. Me desculpe se vou te deixar chateado, mas não vou me aproveitar da sua boa vontade, eu me viro, pode confiar.

Vou até o sofá e pego a Alice no colo.

Arthur: Pelo menos aceita a minha carona?

Lis: Aceito sim. Por favor, não fique chateado. Se fosse você no meu lugar, também não aceitaria.

Arthur: Vamos, eu vou levar a mala.

Me despeço da Lia e saímos pela porta da frente. O carro dele já estava esperando e nós entramos. A Alice começou a acordar e já estava mais tranquila. Quando chegamos na rodoviária, Arthur disse que esperaria o ônibus com a gente e ficou com a Alice na lanchonete enquanto eu ia comprar as passagens.

Lis: Obrigada.

Sigo para a lanchonete.

Lis: Faltam quarenta minutos para o nosso ônibus.

Alice: Arthur, você vai com a gente?

Sento com eles na mesa e coloco as passagens na bolsa.

Arthur: Não, pequena… eu vou voltar para casa e você irá com a sua mãe.

Ela balança a cabeça um pouco chateada e volta a comer.

Arthur: Esse lanche e o café são para você, Lis. A Alice disse que é o que você costuma pedir.

Lis: Não precisava. Tomamos café há menos de duas horas.

Arthur: Vocês precisam se alimentar para a viagem, não faça desfeita disso também.

Lis: Arthur, não foi desfeita. Eu só...

Arthur: Tudo bem, Lis. Coma antes que o ônibus chegue e não dê mais tempo.

Começo a comer enquanto Alice continua tagarelando com Arthur, parecia até duas crianças conversando. Me pego olhando para os dois e pensando como seria bom se Marlon fosse um pai assim para ela, que fossem amigos e que ela se sentisse à vontade como está agora. Nesse pensamento, lembro da proposta que Arthur me fez e fico pensando quais seriam as chances de eu não me apaixonar por esse homem na primeira noite em que ficássemos juntos.

Lis: Seria impossível…

Arthur: Falou comigo?

Me recomponho na mesma hora.

Lis: Não! Não, eu só… só pensei alto.

Ele voltou a conversar com a Alice.

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