Capítulo 06

...Lis narrando…...

Arthur: Você deve se lembrar de mim.

Lis: Claro, você me defendeu no restaurante.

Arthur: Pois é, depois que você entrou na cozinha, o seu chefe veio me pedir desculpas e disse que você tinha ido pra casa descansar. Até aí tudo bem. Eu fui embora e só voltei ao restaurante hoje cedo para saber como você estava.

Lis: Saber como eu estava?

Arthur: Na verdade, foi mais que isso. Eu queria te fazer uma proposta… foi quando a moça do restaurante me contou que, na verdade, você tinha sido demitida. Eu então pedi o seu número e liguei, mas você não atendeu. Decidi pedir o endereço da sua casa, mas ela disse que só tinha o número da creche da sua filha. Então, foi o único lugar que eu poderia vir e tentar a sorte de te encontrar mais uma vez.

Alice: Mamãe, eu tô cansada.

Arthur: Ficar no colo é desconfortável pra ela e ruim pra você. Vamos para o carro, eu posso levar vocês embora.

Lis: Vamos embora sim, mas é andando.

Arthur: Por favor, você está com essa mala e com uma criança que já passou por muita coisa hoje… entra no carro.

Alice: Vamos, mamãe!

Lis: Calma, Alice.

Coloco ela no chão e ela vai correndo para o carro.

Arthur: Até a Alice confia em mim e você não.

Lis: Eu só tô achando essa história de você vir atrás de mim muito estranha.

Arthur: Lis, é que eu preciso muito da sua ajuda e sei que nesse momento você também precisa de um emprego. Entra no carro e vamos para um restaurante comer alguma coisa, lá conversamos melhor.

Lis: Não sei se devo. Aliás, eu nem quero mais que me explique… isso tudo me parece uma armação do Marlon!

Arthur: Não, Lis, por favor! Me dá um voto de confiança! Se quiser sair do carro, eu prometo que paro onde quiser. Mas o céu está fechando, vai chover e eu não posso deixar vocês assim. Anda, vem.

Ele caminhou até o carro e eu fui atrás. Mesmo desconfiada, vi que o céu estava realmente fechando, eu não aguentaria levar a Alice embora debaixo da chuva.

Arthur: Tem preferência de lugar pra comer?

Lis: Menos no meu antigo emprego, por favor.

Eu não queria acabar cruzando com o Marlon.

Ele dirige por alguns minutos até um restaurante bem bonito.

Lis: Não tenho dinheiro pra comer num lugar desses.

Arthur: Vocês são minhas convidadas, eu vou pagar.

Acordo a Alice no banco de trás e entramos junto com dele.

Sentamos, fazemos os pedidos e, enquanto esperamos, a Alice me conta o motivo de ter fugido.

Alice: Eu achei que esse moço fosse me levar pro papai, eu não queria ver ele, mamãe.

Lis: Eu te entendo, meu amor, mas se ele disse que estava me ligando, você tinha que ter esperado. Foi muito perigoso o que você fez.

Alice: Eu não vou fazer isso nunca mais, eu prometo.

Arthur: Sendo assim, eu vou pedir um sorvete duplicado para a mocinha.

Mesmo ainda desconfiada, ela dá um sorriso tímido pra ele.

Os pedidos chegam e a gente come. Depois, ele pede sobremesa e a Alice já estava mais solta.

Arthur: Alice, tem uma área bem legal reservada para crianças atrás de você.

Ela vira o rosto e eu também.

Alice: Deixa, mamãe, por favor!

Lis: Filha, isso deve ser uma fortuna. A mamãe tá sem dinheiro pra isso no momento.

Arthur: Deixa disso, Lis. Se eu ofereci é porque vou pagar. Pode ir, Alice.

Alice: Sério?

Arthur: Bem sério.

Ela olhou pra mim como se pedisse permissão.

Lis: Tudo bem, mas cuidado!

Ela sai correndo na primeira palavra.

Olho para ele.

Lis: Não precisava disso… é muito caro.

Arthur: No máximo uma taxa, nada mais.

Lis: Ok. Quero que me conte tudo bem explicado agora e, por gentileza, o seu nome.

Arthur: Você está certa. Vamos começar isso do jeito correto. Meu nome é Arthur… Arthur Medeiros.

Ele estende a mão e eu pego.

Lis: Lisandra Taylor… Então Arthur, o que você quer?

Arthur: Eu vou começar dizendo que nunca foi minha intenção causar tudo isso que aconteceu com a Alice. Eu sinto muito mesmo… Parando pra pensar agora, eu deveria ter encontrado outra forma de chegar até você. Foi estupidez minha.

Lis: Eu também acho que você poderia ter encontrado outras formas, mas a culpa da minha filha ter fugido não foi sua. Você até ajudou a procurá-la.

Arthur: Que bom que você entendeu que não foi minha intenção.

Lis: Você falou que tinha uma proposta… E eu ainda estou pensando que tipo de proposta é essa pra você ir atrás de uma desconhecida.

Ele riu.

Arthur: Eu pareço um louco, não é mesmo? Tudo bem, às vezes eu faço as coisas por impulso… Sempre fui acostumado a ter tudo na hora, do meu jeito.

Lis: Ou seja, nós somos bem diferentes.

Arthur: Sério? Você não me parece o tipo de mulher que pensa antes de agir.

Lis: Digamos que eu seja um pouco impulsiva sim, mas também sei esperar a hora certa… depende da situação.

Arthur: Entendi.

Lis: Não me enrola mais Arthur. Me diz o que é essa proposta e por qual motivo acha que eu sou a pessoa certa para pra isso.

Arthur: Eu vou dizer sim Lis, mas quero que seja num lugar mais reservado. Que tal irmos para a minha casa e lá conversamos melhor?

Lis: Eu não vou pra sua casa.

Arthur: Podemos ir pra sua então.

Lis: Tá.

Só depois que digo me lembro que não tenho mais um teto.

Lis: Na verdade não. Não podemos…

Arthur: Lis, você não quer me dizer nada?

Fico calada.

Arthur: Você está com aquela mala e agora me diz que não podemos ir na sua casa…

Lis: A minha mãe me colocou pra fora com a Alice. Ela achou que eu estava atrapalhando o relacionamento dela… Agora eu só preciso esperar até amanhã, ir para a rodoviária e pegar um ônibus de volta para a minha antiga cidade. Lá eu tenho uma amiga, só preciso conseguir o número dela e ligar avisando.

Arthur: O que te garante que essa amiga ainda esteja lá? Você nem tem o telefone dela.

Eu tento segurar minhas lágrimas, mas é impossível. Estava chovendo lá fora e eu nem havia ido ao restaurante buscar o dinheiro para pagar o hotel, já estava imaginando ter que dormir na rua com a minha filha.

Ele me entrega um lenço.

Lis: Obrigada.

Arthur: Lis, eu posso te ajudar.

Lis: Me ajudar? Você nem me diz nada sobre essa tal proposta. E tem mais… enquanto eu conseguir comprar comida para a Alice, não vou virar garota de programa…

Arthur: Lis, a proposta não é pra você virar uma garota de programa… Meu Deus! Você estava achando isso?

Lis: O que mais queria que eu pensasse? Você vem atrás de mim do nada e ainda fica nesse mistério todo pra contar o motivo… Não sei nem o que estou fazendo aqui, muito menos se devo confiar em você.

... Arthur narrando…...

Ela me olha por um segundo.

Lis: Quer saber? Eu vou embora…

Ela levanta e eu seguro a mão dela.

Arthur: Tudo bem! Eu conto aqui mesmo.

Ela pensa um pouco, mas acaba voltando para a cadeira.

Lis: Tá bom Arthur… então me conta de uma vez.

Olho ao redor para ver se não tem ninguém próximo o bastante para escutar e depois volto minha atenção pra ela.

Arthur: Quero que tenha um filho meu.

Lis: Quê?

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