Não existe alguém bom assim.

Fernando naquela noite ficou me ajudando, me mostrou a cozinha e cozinhou para mim, fez uma lasanha e caramba, acho que devorei metade sozinha, me mostrou a internet e programas de TV, disse que não precisaria me preocupar com nada por enquanto, que investigaria sobre o tal Hasan e ali ninguém me acharia, falou também que contar ao meu pai seria o mesmo que o condenar, não sei definir ainda o que sinto nesse momento pelo meu pai, a dor de vê-lo virar as costas enquanto aqueles monstros me levavam doeu muito, ele sabia que me estuprariam, igual já sabia qual era o preço que o Arnaldo cobrava, quando me deitei estranhei a cama macia e ele disse que iria embora, deixou Luigi aqui, esse é o nome do soldado, se eu precisasse de algo podia avisar que ele ligaria para ele, quando fiquei sozinha dormi rapidamente e quando pisquei já estava dia, olhei no relógio e vi faltarem 5 minutos para as 10 horas, caramba, nunca dormi tanto, levantei e fui ao banheiro para me lavar, resolvi tirar o pijama, mas eu não usaria aquela roupa colada que o homem comprou, vi que tinham camisas masculinas no armário, acho que ele não vai se importar que eu use, peguei uma que ficou parecendo um vestido e fui para a cozinha, olhei na geladeira e tinha muita comida, que horas será que trouxeram que eu não vi, mas não reclamaria, lá no vilarejo eu não teria muita opção, então resolvi aproveitar, ouço barulhos na porta e me escondo debaixo da mesa, mas quando vejo que era o Fernando eu me levanto.

Bom dia! Porque estava debaixo da mesa? - ele pergunta curioso e com ares de riso.

Não sabia quem era, esconder para não ser pega é a minha especialidade- falei e ele ficou sério.

Não tenha medo de nada- ele disse e seus olhos percorreram meu corpo usando sua camisa.

O vestido que trouxeram é muito justo, não gosto de usar, achei que não se importaria, mas posso tirar- falei puxando a barra rapidamente e ele disse que não precisava.

Iria adorar um striptease, mas não assim e não com uma menor de idade- falou e isso me incomodou, ele deveria ter seus 30 anos, mas eu não era uma criança, até porque faço 18 anos em poucos meses.

Ei, não sou uma criança, e não quero fazer isso para você- respondi cruzando os braços e ele riu mais uma vez.

Certo então, desculpe, mas veja, eu trouxe roupas para você, vejo que fez sanduíche, tem um para mim?- ele perguntou olhando para os dois feitos, disfarcei e sorri, comeria os dois, mas depois faço outro para mim, ele pode pensar que sou uma morta de fome.

Me fala Luna, algo sobre você- ele perguntou.

Tenho 17 anos, meu pai nunca me disse quem é a minha mãe, somos pobres, não sei dizer se encaixo nessa categoria, às vezes acho que somos miseráveis, meu pai pescava até ficar doente, aí começou a pedir favores e favores, entrando nessa dívida, antes que eu nascesse ele trabalhava na casa de um advogado, alguém com sobrenome Romano, não sei ao certo o que aconteceu e se a minha mãe era empregada lá, mas meu pai disse, isso não para mim, em uma conversa de bêbado com alguém na casa que morávamos, ele disse que trabalhava lá, mas com meu nascimento teve que fugir, eu não toco no assunto, pois ele disse que saber quem era minha mãe me mataria de tristeza, sonho em ser advogada e lutar pelas causas, um dia faria isso, minhas amigas e eu tínhamos um pacto, iriamos trabalhar e mudar de vida, mas eu sou a única menor ainda, Arnaldo está em todas as confusões, tanto com a mãe de uma como o pai da outra, agora o meu também, sou boa cozinheira, gosto muito de dançar música lenta e também amo ler, tinha uma mulher que levava na escola do vilarejo livros lindos e eu amava ler, meu dizia que eu perdia meu tempo com romances, pois não existia, no fim ele estava certo mesmo- falei ele disse:

Romance existe, sim, alegria também, claro que nem tudo são flores, mas existe amor, meu irão e minha cunhada são provas vivas, Meu pai viveu a vida inteira com minha mãe e sofreu muito com a morte dela, nós nos apaixonamos por quem o destino coloca no nosso caminho, posso trazer livros para você, tem comida se quiser cozinhar e também posso dançar com você- ele falou colocando uma música super linda e me deu a mão, dançar coladinho com um homem como ele é estranho, nem nos meus maiores sonhos imaginei isso,

Ele pôs a mão em minha cintura e começamos a ouvir o som, seguíamos o balançar juntos, seu perfume era forte e marcante, escorei a cabeça em seu peito e movida pelo momento me emocionei.

Ei, por que chora? - ele perguntou enxugando a lágrima.

É a situação, nunca imaginei isso, não quero me iludir, sei que está me ajudando, não posso acreditar que alguém me amaria, se interessaria por mim, não posso viver com o risco de ser pega, e também queria muito saber da minha mãe, conhecer ela, tenho medo do meu futuro- respondi e ele me puxou no sofá.

Olha, amor existe, sim, e você é perfeita, linda e doce, seu único defeito é não ter 18 anos, o que eu mais queria agora era me enterrar em você e não enxugar suas lágrimas, pois não gosto de te ver assim, prefiro a menina espevitada que fala pelos cotovelos, você será feliz, sim, espere seus 18 anos, garanto que se me pedir terá proteção até lá e ninguém tocará em você - falou e me senti verdadeiramente protegida.

Eu quero, sim, quero ficar com você, sinto sua proteção e agradeço por isso- respondi e ele passou o polegar pelo meu lábio molhado pela lágrima, depois me olhou nos olhos e suspirou.

Queria muito beijar você, mas não posso me aproveitar da sua vulnerabilidade, você deve querer um menino da sua idade fazendo isso né- ele disse.

Não sei ao certo, pois nunca me beijaram antes, gostaria muito que você fosse o primeiro- quando respondi sinceramente ele sorriu para mim e se aproximou.

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