(20) "A Revelação e a Revolta"

Damon

Assim que retorno do lavabo, onde fui me recompor depois de ter vomitado, encontro uma senhora limpando o chão. Ela trabalha de forma rápida e eficiente, mas seus olhos se encontram com os meus por um breve momento. Há algo no olhar dela, uma súplica silenciosa, uma mistura de medo e resignação.

Ela termina a limpeza e sai apressada, sem dizer uma palavra. Respiro fundo e me dirijo de volta à mesa, tentando recompor meus pensamentos. Ao sentar-me novamente, sinto os olhares de todos os presentes sobre mim, especialmente o do ser que passava as imagens. Seus olhos são frios e inquisitivos.

— Você se importa com eles? — pergunta ele, sua voz carregada de desprezo.

Por um instante, fico processando o que ele disse. A sala parece mais silenciosa, o ar mais pesado. Finalmente, encontro minha voz e respondo, tentando manter a firmeza.

— E por que eu não deveria? Porque estão caçando essas pessoas? Que tipo de perigo elas oferecem? São pessoas comuns.

Um murmúrio percorre a sala. Alguns dos presentes parecem surpresos com minha ousadia, enquanto outros mantêm expressões impassíveis. Meu pai, sentado à cabeceira da mesa, franze a testa, mas permanece em silêncio.

— Pessoas comuns? — repete o ser, quase rindo. — Você está muito enganado, jovem Damon. Esses indivíduos são uma ameaça ao nosso modo de vida. Se deixados sem controle, podem trazer caos e destruição. É nossa responsabilidade manter a ordem.

Sinto um calor subir pelo meu corpo, uma mistura de raiva e incredulidade. Como podem justificar uma caçada a seres humanos com tanta frieza? Olho para os outros membros da cúpula, esperando ver alguma reação de discordância, mas encontro apenas indiferença ou aprovação silenciosa.

— E o que exatamente eles fizeram para merecer isso? — pergunto, minha voz tremendo levemente.

O ser sorri, um sorriso que não alcança seus olhos.

— Eles possuem habilidades que podem ser usadas contra nós. Já vimos isso antes. É melhor eliminá-los antes que possam causar problemas.

A imagem de Maria, assustada e confusa, surge em minha mente. Ela não é uma ameaça. Ela é uma garota comum, com sonhos e medos como qualquer outra pessoa. E agora, por alguma razão absurda, ela está na mira deles.

Meu pai finalmente fala, sua voz calma mas firme.

— Damon, você precisa ver o quadro maior. Há coisas que você ainda não entende. Confie em nós. Estamos fazendo o que é necessário.

Eu balanço a cabeça, incapaz de aceitar essa justificativa. Cada fibra do meu ser grita que isso está errado. A reunião continua, mas minha mente está longe.

Preciso encontrar uma maneira de proteger Maria e os outros alvos dessa caçada insana. Não posso permitir que isso continue. Não importa o custo, devo fazer o que é certo.

Tentando entender melhor, respiro fundo e pergunto:

— Me digam a verdade. O que eles são? Como assim, possuem habilidades?

O ser que comanda a reunião troca um olhar significativo com meu pai antes de responder.

— Esses indivíduos, Damon, são diferentes. Eles possuem habilidades especiais, dons que a maioria dos humanos não tem. Telepatia, telecinese, manipulação de elementos... habilidades que, se não forem controladas, podem desequilibrar a ordem que mantemos há séculos.

— E vocês acham que matar essas pessoas é a solução? — pergunto, minha voz ganhando força. — Elas não têm o direito de viver? De aprender a controlar essas habilidades sem serem caçadas?

O ser se inclina para frente, seus olhos fixos nos meus.

— Damon, essas pessoas representam uma ameaça existencial para todos nós. Não é uma questão de direito, mas de sobrevivência. Já perdemos muitos de nossos próprios por causa deles. Não podemos arriscar.

Então um dos outros seres se levanta, sua figura imponente e estranha. Sua pele é pálida, quase translúcida, e seu crânio é alongado de uma forma antinatural. Quando ele fala, sua voz é profunda e ressonante, quase inaudível, como se cada palavra exigisse um esforço imenso.

O ser gira o dispositivo sobre a mesa, e a imagem holográfica de Maria surge diante de todos nós. Meu coração dispara e aperto a mão em punho, tentando manter a compostura.

— Claus — ele se dirige ao meu pai — parece que você não contou para seu filho nem a metade de como realmente as coisas são. Mas farei isso por você.

O ser me encara com seus olhos frios e opacos, cada palavra que ele profere é uma lâmina cortante.

— Existem muitos seres de dimensões superiores entre os humanos, jovem Damon. De tempos em tempos, eles despertam e tentam se libertar do nosso controle. Essa jovem que vocês estão vendo — ele aponta para a imagem de Maria — é uma princesa de uma dimensão superior. Há milênios, ela desceu até aqui visando um tratado de paz universal. Porém, durante sua visita, foi assassinada. Desde então, ela tem reencarnado em nosso sistema, presa em um ciclo contínuo.

Minha mente gira com essa revelação. Maria, a garota que parece tão comum e humana, é na verdade uma princesa de uma dimensão superior. E agora, ela está presa em um ciclo de reencarnações, controlada e caçada por seres como os que estão sentados ao meu redor.

— E o que vocês pretendem fazer com ela? — pergunto, minha voz tensa.

— Ela é uma ameaça ao nosso controle — responde o ser com um tom de frieza. — Cada vez que ela reencarna, tenta retomar sua missão original. Se ela conseguir despertar completamente, poderá desequilibrar toda a nossa estrutura. Não podemos permitir isso.

— Então, vocês pretendem matá-la? — pergunto, a incredulidade tomando conta de mim. — Vocês estão dispostos a matar uma princesa de outra dimensão só para manter o controle?

Um ser robusto, de pele escura e olhar penetrante, afiando uma enorme espada com um sorriso sádico nos lábios, me responde:

— Exatamente, pequeno lobinho, e eu mesmo irei matar essa princesinha — disse ele, os olhos brilhando com uma maldade quase palpável.

Algo em mim se rompeu. A visão de Maria, indefesa e marcada como alvo, alimentou minha fúria. Sem pensar, parti para cima dele, derrubando-o no chão com um estrondo.

Minha voz ecoa pela sala enquanto eu grito, dominado por uma raiva avassaladora:

— Ela é minha! Minha! Está me ouvindo!?

Os outros seres ao redor da mesa se levantam em alvoroço, a tensão no ar se transformando em caos. Sinto as mãos firmes do ser robusto tentando me afastar, mas minha força, alimentada pela fúria, o mantém preso ao chão.

— Damon, pare! — A voz de meu pai corta o tumulto, carregada de autoridade e choque. — O que você está fazendo?

Ignorando meu pai, continuo pressionando o ser robusto contra o chão, minha voz saindo em um rosnado:

— Se você tocar nela, eu juro que vou acabar com você!

O ser robusto solta uma gargalhada, apesar de sua posição desvantajosa.

— Parece que temos um lobinho apaixonado — zombou ele. — Isso só torna a caçada mais interessante.

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