(13) "Um encontro com a verdade"

Maria

Enquanto guardo minha bicicleta e entro para dentro, me sento no sofá e solto um longo suspiro, caindo deitada no mesmo. Abraçando a almofada, olho fixamente para o teto, e lágrimas começam a escorrer dos meus olhos ao pensar na minha vida.

— Por que essas coisas acontecem comigo? Já não bastou eu ser a causa da morte da minha mãe? — sussurro com a voz embargada.

Todo esse emaranhado de emoções me sufoca: a morte de Carol, o bullying na escola, essa sensação de ser alguém desconexa de tudo ao meu redor, e essa coisa que está acontecendo entre mim e Damon. Ele é mais velho, é um delegado... nada disso faz sentido.

— Ahhhh!!! — grito angustiada, tampando o rosto com a almofada para abafar o som.

Mas então sou tirada deste momento infortúnio pelo som da campainha tocando.

"Ding-dong", o som ecoa alto na sala.

Bufo frustrada, tirando a almofada do rosto. Levanto-me do sofá, arrumo minha calça legging, puxo minha camiseta para cobrir melhor e me encaminho até a porta. Respiro profundamente antes de abrir a porta e dou de cara com Théo. Ele tem sua mochila pendurada nas costas, veste uma blusa preta de moletom com capuz e calça jeans.

Seus dentes protuberantes são expostos quando ele me abre um sorriso genuíno. Sem hesitar, corro para abraçá-lo forte. Lágrimas rolam novamente pelo meu rosto, mas desta vez são de alívio. A familiaridade com Théo me acalma momentaneamente. Ele retribui o abraço apertado, esfregando minhas costas de forma reconfortante.

— Ei, Maria. Está tudo bem, estou aqui — diz ele suavemente.

— Théo, está tudo tão difícil — murmuro contra seu ombro, soluçando levemente.

Ele me puxa para dentro, fechando a porta atrás de nós, e me guia até o sofá. Sentamos juntos, e ele segura minhas mãos, olhando diretamente nos meus olhos.

— Maria, você não está sozinha. Eu sei que parece que o mundo está desmoronando, mas eu estou aqui. Nós vamos passar por isso juntos.

Seu tom é sério e tranquilizador. Ele sempre sabe o que dizer para me fazer sentir um pouco melhor.

— A morte da Carol, o bullying, tudo parece demais... — minha voz treme ao falar.

Após minhas palavras, seus olhos transmitem uma mistura de compreensão e determinação, ao dizer:

— Eu sei Maria. Mas vamos superar isso. Sei que tínhamos marcado de ver um filme hoje, mas com tudo acontecendo, não tem clima. Mas eu trouxe um videogame. Quer jogar? Talvez te ajude a se distrair um pouco.

Seu gesto simples, mas carregado de amizade, aquece meu coração. Mesmo em meio à escuridão, Théo consegue trazer um pouco de luz para o meu mundo. Olho para ele, com um leve sorriso surgindo em meus lábios.

— Obrigada, Théo. Jogar videogame parece uma ótima ideia — respondo, sentindo um peso se aliviar dos meus ombros.

Ele liga o console e me entrega um controle, e logo estamos imersos em uma partida intensa. A cada risada compartilhada, cada momento de concentração no jogo, sinto-me um pouco mais leve. A presença de Théo ao meu lado é como um bálsamo para a minha alma.

Enquanto jogamos, as preocupações e tristezas parecem se dissipar, pelo menos por um momento. E é nesses momentos simples, ao lado de um amigo verdadeiro, que encontro um pouco de paz em meio ao caos que é a minha vida no momento.

Eu sorrio para Théo e sugiro:

— Que tal fazermos uma pausa? Quer pipoca? Posso preparar para nós.

Ele sorri e concorda, deixando o controle no sofá.

— Está bem, eu aceito. — responde.

Com um sorriso ainda maior, levanto-me e deixo meu controle no sofá também, dirigindo-me à cozinha.

— Já volto. — aviso em voz alta.

Enquanto estou na cozinha, começando a preparar nossa pipoca, sou surpreendida por Théo, que entra na cozinha com a mão no bolso da blusa. Sorrio para ele.

— Veio me ajudar? Se quiser, pode pegar os refrigerantes na geladeira. — digo com mais entusiasmo.

Mas ao ver sua expressão preocupada, meu coração acelera, temendo algo.

— O que foi, Théo? Está acontecendo algo? Me fala! — digo, já apreensiva.

Ele engole em seco e me encara profundamente.

— Eu estive com a Carol, um pouco antes dela morrer, Maria.

Suas palavras me atingem como um golpe. Com os olhos arregalados, digo desesperada:

— O que!? Por que não me contou antes!? Théo, há uma investigação em andamento, você sabe disso. Pelo menos mencionou isso em seu depoimento?

Ele nega:

— Não, eu não contei. Estou com medo, Maria. Estou com medo por nós dois também.

Intrigada, pergunto:

— Medo? Por quê? O que está acontecendo? O que você estava fazendo com a Carol?

Ele pega uma lata de refrigerante na geladeira, abre e bebe rapidamente e a coloca no balcão, visivelmente ansioso e nervoso, ao dizer:

— Foi ela quem me abordou. Disse que nós três somos diferentes, que explicaria tudo.

Estou atônita com o que ele me diz. E então respondo:

— Mas somos diferentes mesmo, Théo. Sofremos bullying, somos os estranhos na escola. Só não seguimos o padrão idiota dos outros alunos.

Théo começa a andar de um lado para o outro.

— Não, Maria, você não está entendendo. O que a Carol queria me dizer vai além da escola, dos alunos. Alguém está nos caçando.

Um tremor percorre meu corpo e deixo cair a tigela com a pipoca.

— Como assim, Théo? Você está louco!? Somos adolescentes! Quem estaria nos caçando? Não somos importantes.

Nesse momento, antes que Théo pudesse se explicar mais detalhadamente, fomos interrompidos pelo som agudo do bipe do seu celular. Ele olha para o aparelho e, em seguida, seus olhos se arregalam ao fitar-me novamente.

— É da delegacia, Maria. Eles querem conversar comigo novamente. — sua voz carrega uma tensão palpável.

Sinto um arrepio percorrer minha espinha ao compreender a gravidade da situação. A perspectiva de outra conversa com a polícia apenas aumenta minhas preocupações. Meu Deus, o que está acontecendo conosco? Tudo parece estar se desdobrando em um verdadeiro caos ao nosso redor.

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