(10) "Metamorfose"

Damon

Assim que Maria fecha a janela do seu quarto, sinto a urgência tomar conta de mim. Rapidamente puxo a cortina da minha própria janela e me afasto, sentindo a transformação iminente. Meu coração acelera e meus músculos começam a se contrair e expandir de forma descontrolada.

Olho para minhas mãos e vejo as garras começarem a surgir, afiadas e imponentes. Sinto a familiar sensação de poder e ferocidade tomando conta de mim, mas também a dor que acompanha essa transformação. Meus ossos estalam em um ritmo intenso e desconcertante, e a sensação de alongamento e torção é ao mesmo tempo maravilhosa e tenebrosa.

Giro a cabeça, sentindo meu pescoço se alongar e meu focinho começar a se formar. A pressão interna aumenta, e meus sentidos se aguçam enquanto meu corpo se adapta à nova forma. Tento controlar a respiração, mas é difícil com a intensidade do processo. Cada fibra do meu ser parece estar em um estado de transformação, meu sangue fervendo com a energia primal que flui através de mim.

Os espasmos se intensificam, e sinto meus músculos rasgando e se regenerando rapidamente. Minha pele se estica e se transforma em uma camada densa de pelo escuro, meu corpo se moldando para se tornar a criatura que realmente sou. A força crua e indomável que vem com essa forma é avassaladora, e mesmo com a dor, há um prazer inexplicável em abraçar minha verdadeira natureza.

Finalmente, o processo chega ao fim, e estou completamente transformado. Minha respiração é pesada e irregular, mas sinto o poder pulsando dentro de mim. Levanto a cabeça e miro meu reflexo no espelho. Os olhos brilhantes de uma fera me encaram de volta, cheios de um misto de instinto e inteligência.

O quarto fica pequeno diante da minha majestosa presença lupina. Minhas patas enormes batem nas coisas do quarto, derrubando objetos e causando um ruído ensurdecedor.

— Droga! — digo mentalmente a mim mesmo, sentindo a frustração aumentar.

Em um impulso, salto pela janela, voando pelo ar e aterrissando no gramado do quintal com uma agilidade sobrenatural. Meu corpo se adapta instantaneamente ao terreno, e sinto a grama úmida sob minhas patas enquanto olho ao redor, em estado de alerta.

De repente, ouço um som acima de mim. Maria abre a janela do seu quarto rapidamente, e eu, instintivamente, me abaixo próximo à pequena cerca que separa nossos quintais.

Ela tira a cabeça para fora da janela, a expressão preocupada e curiosa, e grita:

— Senhor Damon!?... Delegado?

A voz dela ecoa na noite silenciosa, carregando um tom de preocupação que me afeta profundamente. Ela está preocupada comigo, mas agora é impossível eu responder. Se eu voltar à minha forma humana agora, estarei completamente nu na frente dela, e isso só complicaria ainda mais a situação.

Minha respiração é pesada e irregular, tentando não fazer barulho enquanto permaneço escondido. Observo Maria da minha posição, vendo a confusão e a ansiedade em seus olhos enquanto ela olha ao redor, tentando entender o que está acontecendo. A brisa noturna agita seus cabelos, e sinto uma mistura de sentimentos.

Ela chama por mim mais uma vez, e sinto meu coração apertar. Queria poder acalmá-la, mas sei que preciso esperar. Depois de alguns momentos, Maria suspira, desistindo de sua busca, e volta para dentro, fechando a janela.

O silêncio retorna, e aproveito a oportunidade para retornar à minha forma humana. Sinto os ossos estalarem novamente, a pele e os músculos se reajustando enquanto me transformo de volta. Estou completamente nu e ofegante, sentindo o frio da noite contra a pele exposta.