Treinamento de soldados - parte 2

—Cadê o Vittorio, padrinho? Não vem?

—Estou saindo para buscá-lo com o seu pai agora. Ele me arrumou uma encrenca sem tamanho!

—O que aconteceu Pietro? - pergunta Lucca dando uma garfada em sua panqueca.

—Parece que ele acabou transando com noiva do tal de Samuel Bianchi e agora tenho que resolver essa merda!

—Fazendo jus ao o quê ele é, um filhote de Pietro! Tem o pau nervoso igualzinho o do pai.! - diz Enzo para a pilhéria dos homens.

—Não brinca com isso, vou ter que até a Sicília falar com o pai da garota que foi sequestrada no meio do casamento, e o pai dela é um Don da Cosa Nostra!

—Fora que estão fazendo o meu apartamento de cativeiro e motel ao mesmo tempo. - diz Nicolas

—Mas o Samuel queria se livrar desse casamento, nos mostrou a foto da menina num jantar que tivemos com ele para selar a aliança das nossas famílias em Nova York, a garota é feia! - diz Salvatore

—Tem b...c...ta tá valendo! O meu filho gosta é de mulher, assim como eu!

Antes de saírem,Enzo da as coordenadas para Erick.

—Eu vou resolver esse problema e estarei de volta no início da noite . Vê se não apronta e obedece ao meu pai,ouviu?

—Logo a ele?

—É o mais velho aqui, tenha respeito por ele. Mas não se engane,ele não é um idoso comum !

—Eu pude atestar!

—Ótimo...em breve isso vai acabar e você não será mais problema meu e poderá viver a vida do jeito que bem entender.

Enzo dá as costas para ele e beija o filho.

—Cuidado aqui, nada de dar mole pelas ruas sem soldados. Fica perto do seu avô!

—Eu sei babbo, vai tranquilo!

Enquanto Brunno se arruma, Erick o observa.

—Ele te trata igual a um criancinha,o seu avô também!Você é mais velho do que eu e é tratado cheio de vontades.

—Fazer o quê? Tenho um família que me ama!

Erick silencia e Brunno se sente culpado pelo comentário.

—Foi mal,cara ! Não falei para te magoar ou ofender.

—Beleza...realmente eu não tenho uma família que me ama. Minha mãe deu a minha guarda pra o meu pai quando eu tinha um ano, morreu e eu não a via faziam dois anos.

—O meu pai não a via desde quando eu tinha cinco anos. Ela não fazia questão de conviver com ninguém.

—Era estranha...bem feito, morreu sofrendo e sozinha!

—Não fala isso! Ela morreu de uma doença muito triste, deu o último suspiro segurando na mão do meu pai.

—Ele não tinha raiva dela?

—Tinha sim,parte dos problemas deles se deve ao abandono afetivo dos pais.

—Mas o seu avô e ele se dão muito bem, dividem até a mesma mulher...

—Depois que a minha mãe chegou na vida do meu avô, ela o ajudou a se aproximar do meu pai e a formarem em laço de pai e filho,hoje os dois se adoram,mas nem sempre foi assim...

Brunno acaba de se arrumar e o chama.

—Não vem?

—Não tenho escolha!

Os dois saem na companhia dos demais.

O dia de treinamento ocorreu de forma normal,até determinada parte.

—Agora,vocês irão fazer a caça humana. O meu irmão Enzo adora isso,mas ele precisou se ausentar hoje. - diz Lucca

—A caçada consiste em vocês sobreviverem em confronto direto.Que pode acontecer no meio da cidade ou em locais ermos. - diz Nicolas

—Iremos levá-los à um campo distante da cidade, soltaremos quarenta presos da máfia armados nesse lugar, vocês também estarão armados e devem abater um por um e sobreviver. - fala Salvatore

—Eles estarão com a camiseta laranja e vocês de preto. Lembrando que é um trabalho de equipe, devem se proteger e dar cobertura um ao outro. - afirma Rafael

Os aspirantes são levados em ônibus até uma aérea florestal próxima a cidade de Aversa.

—Eu não vou fazer parte disso, não sei manusear uma arma!

—Ninguém do clã participa da caçada,nós apenas observamos. - diz Rafael

—Eu não faço parte do clã!

—Tem razão! - Rafael grita - Cesare! Me arruma uma camiseta preta.

—Qual tamanho ,meu sogro?

Rafael olha para Erick.

—Tamanho médio.

—O que vai fazer?!

—Você não faz parte clã, esqueceu? Então vai para o campo tentar sobreviver!

—Não! Está louco! Eu vou morrer!

Rafael e os demais riem

—Isso não tem graça, seu velho babaca!

O silêncio se fez pesado

—Ele chamou Don Rafael de babaca ! -diz Salvatore

—Pior do que isso, chamou o meu pai de velho ! Isso ele não perdoa! - fala Lorenzo

Rafael muda de cor, respira fundo.

—Repete o que você falou seu fedelho abusado?

—Velho babaca!!

Brunno se encoleriza e parte pra cima dele.

—Ninguém xinga o meu avô! Já estou de saco cheio de você!

Com um soco, ele derruba Erick no chão, o chuta diversas vezes no estômago,nas costas e na cara, Cesare tentou separar e Rafael o segurou.

—Ele merece!

Quando o rosto de Erick começou a ficar lavado de sangue, Rafael tirou o neto de cima dele.

—Já chega,figlio!

—Desgraçado! Você pensa que pode chegar na vida da minha família do nada e sair bagunçando e desrespeitando todo mundo?!

Erick chorava e gritava de ódio no chão.

—Levem ele para o nosso ambulatório em Casoria. - ordena Lucca. - Depois o deixem na mansão.

Dois soldados o acompanham e o levam para o ambulatório montado especialmente para o treinamento.

Ele recebe curativos, é medicado e depois é levado até a mansão da família.

—O que aconteceu com esse menino?!- pergunta Marieta,a governanta

—Chamou Don Rafael de velho babaca e tomou uma surra do filho do Enzo. Bem feito!

Erick se senta na sala de leitura e fica olhando o jardim da casa.

—Quer alguma coisa,bambino?

—Ir embora daqui!

—Terá que esperar o treinamento de soldados acabar.

—Eu odeio essa família!

—Que isso! Porque esse ódio? Você não foi acolhido por seu irmão para não ficar na rua da amargura?

—Preferia ter ficado na rua pedindo esmola do que aturar essa família cheia de mi mi mi! Todo mundo se ama, todo mundo se adora...argh!

—Eles são uma família linda! Está jogando no lixo a oportunidade de ser amado de verdade.

Marieta se retira e o deixa com a cabeça encostada no vidro.

—Pedir esmola na Itália deve ser melhor do que no Brasil!

Ele sai pelos jardins e finge estar passeando,olhando as flores e na distração dos soldados se esconde atrás de uma árvore, a escala e pula o muro da mansão.

Ele começa a correr até que esbarra com três homens altos de terno.

—Onde vai correndo assim, bambino? É um Paolli?

—Eu não falo italiano!

—O que ele disse?!

—Sei lá, parece ter falado em português.

—Então é da família! Vamos levá-lo!

—Onde estão me levando, me soltem,socorro!

Os três homens o amordaçam, o levam para dentro de um carro e somem pelas ruas.

No final da tarde,Pietro e Enzo retornam da Sicília com Vittorio e encontram com os demais na sede.

—E como foi a caçada humana?

—Tivemos quatro baixas de soldados. Dentre duzentos e cinquenta achei um número bom. - fala Lorenzo

—Sim, ano passado tivemos dez baixas.

—E aí Vittorio! O comedor de noiva alheia ! - diz Nicolas

Todos os homens caem na gargalhada

—Vai se casar daqui a um mês e levará a mulher para Las Vegas com ele.

—Não segurou o pau nas calças, vai casar com a feia! - diz Brunno

—Não sei de onde tiraram que a menina era feia, maior gatinha! Mostra a foto pra eles,Vittorio! - diz Enzo

—Ué,mas não era essa que vimos não! - surpreende-se Nicolas

—Ela mudou de visual,mas mesmo assim o noivo não quis ficar com ela. - diz Vittorio- Quem perdeu foi ele! Ela é legal e bem gostosinha...

—Ah moleque bom! - diz Rafael

—Vamos pra casa? Hoje foi cansativo, quero cama! - fala Enzo

—Seu irmão aprontou...- diz Lucca

—O que foi que aquele,stronzo fez?

Eles contam tudo para ele no meio do caminho.

—Marieta! Marieta!

—O que foi Don Enzo?!

—Cadê o Erick?!

—Estava na sala de leitura.

Ele não o encontra, então começa a procurar por toda a casa.

—Não está dentro da mansão!

—Nem fora!

Os homens se olham e respiram fundo torcendo as caras.

— Vamos olhar nas câmeras!

Analisando as imagens externas eles veem Erick pulando o muro e batendo de frente com três homens com aparência de mafiosos do extremo sul da Itália.

—Ndrangheta...- Nicolas esfrega a cara

—Deveriam estar nos rondando...- Lucca bate na mesa - Estamos em guerra com eles ,não podemos esquecer!

—Por mim,deixa esse moleque por lá mesmo! - Rafael cruza os braços

—O que vou falar no juizado de menores, babbo?! Vai dar merda não só pra mim,mas para a família toda!

—Eles vão entrar em contato em breve... vamos aguardar- fala Pietro.

A quilômetros dali, Erick é jogado numa sala com um buraco na porta,a única passagem se luz e ar.

—Não é possível que seja um Paolli! Ele não fala italiano!

—Era para vocês terem pego o filho do Enzo ou do Pietro! Ou ainda o irmão caçula do Nicolas Leone!

—Quem fala português?

—O Joaquim,ele é português.

—Chamem ele!

O homem se aproxima de Erick e começa a conversar com ele.

—E aí, Joaquim? O que descobriu?

—Ele é irmão por parte de mãe do Enzo Paolli,parece que ele tem a guarda do garoto.

—Então não foi tão ruim assim! Amanhã mandaremos uma surpresa ser entregue na mansão Paolli!

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