Delegado Lorenzo

Após a reunião e férias dos clãs do Brasil, tudo volta a rotina, e não poderia ser diferente para Lorenzo.

Foram quase quatro anos como o Don da família, algo que ele nunca imaginou ou quis , mas que executou com excelência.

De volta ao Rio de Janeiro, ele retoma o seu posto como delegado da Polícia Federal, seu prestígio ainda é reconhecido e seu hiato dentro em sua carreira na corporação, é um mistério intrigante. Muitos boatos sobre o que ele foi fazer na Itália correm pelas delegacias, todos sabem do sua origem, a sua ligação com a máfia é sempre questionada de forma velada, ninguém ousa sequer pergunta- lo sobre isso.

—Bom dia a todos!

—Bom dia, delegado! Está bronzeado,curtiu praia?

—Passei o final de semana com meus pais em Búzios.

—Preciso tirar essa cor de escritório também! Mandei o relatório do final de semana para o seu e-mail, estou saindo de folga. Volto depois de amanhã. - diz Júlio, o escrivão que trabalha com Lorenzo.

Lorezo continua sua rotina, colocando tudo em ordem, estudando casos e analisando a proposta de substituir o pai como professor universitário,já que Marcos estuda a possibilidade de entrar na política indo em reuniões de partido.Ele escuta um falatório do lado de fora da sala e sai.

—O que está acontecendo? Pergunta para a secretária.

—O Arnaldo Araújo, o antigo delegado,está conversando com a antiga equipe dele,acho que veio falar com você.

—Ah é? Mande-o entrar assim que chegar aqui.

Lorenzo deixa a porta encostada e minutos depois alguém bate e entra.

—Com licença, Delegado Lorenzo?

—Pode entrar, Arnaldo Araújo?

—Sim,sou eu!

—Sente-se!

Arnaldo é um homem de quarenta anos, negro e de média estatura.

—Você mudou tudo aqui!

—Sou extremamente organizado e limpo, isso aqui estava uma bagunça!

—É, não sou bom com essas coisas.

—Pude perceber. Mas o quê o traz aqui?

—Eu tinha um caso grande, de um político que estava investigando, a operação está para estourar e o Gustavo me pediu para trabalhar com você nisso.

—Ah sim! Ele comentou, acabei de ler o processo,encontrei uns erros que podem fazer a operação vazar.

—Erros?

—Sim! - Lorenzo o mostra as considerações que fez - Pode analisar

—Como você fez isso com tanta agilidade? Estava afastado da PF há quase quatro anos!

—Competência não se perde assim, e eu estava exercendo uma função similar a de um delegado, na Itália.

O homem o olha intrigado, já compreendendo o que ele quis dizer.

"Esse filho da puta estava mesmo como chefe da máfia na Itália!"

—Por que voltou pra cá?

—Saudades ! Eu nasci pra isso aqui!

—Como é ter uma família toda envolvida na máfia e servir a polícia federal?

Lorenzo dá um gole no seu café e o olha fixamente.

—Sabe,Arnaldo, eu conheci um delegado lá em Nápoles que quis se meter a besta com a máfia local.

—E o que aconteceu com ele?

—Por sorte ele se apaixonou por uma dama da máfia e se casou com ela.

—Porque por sorte? Ele desonrou a corporação!

—Mas preservou a vida! Ele iria ser devorado vivo por piranhas!

Arnaldo arregala os olhos.

—Piranhas!??

—Você não tem noção dos métodos de tortura que ele usam. Mas , vamos continuar o nosso trabalho? Mais tarde posso te contar mais histórias de tortura usadas pela Camorra.

Arnaldo entendeu que não deve tocar no assunto "famiglia" com Lorenzo.

"Mas que aí tem coisa, tem! E eu vou descobrir, na hora certa! Sujeito arrogante!" pensa

No Leblon, Pietro prepara seu retorno definitivo para São Paulo.

—Tá enrolando pra ir embora, padrinho? Lucca já mandou o Vittorio para Las Vegas.

—Eu não queria ir Brunninho, mas...

Enzo chega da serra acompanhado da neta e da filha caçula

—Você é doido? Veio com sozinho com duas crianças de Teresópolis pra cá? Tia Serena deixou você trazer Mel?

—Ela está na casa do Lorenzo visitando as crianças dele com o babbo. Eu tinha que trazer a Tetê,ela tem escola amanhã,né pretinha do vovô?

A menina corre para fazer o tio a levar nos ombros.

—Anda, tio Brunno ! Me leva até lá em cima assim no alto.

—Como você manteve as duas quietas a viagem toda?

—Uma porra chata de uns bichos da fazenda, uns patos coloridos,depois umas bolinhas que cantavam uma música falando de pão de queijo..

Pietro dá uma gargalhada e pega a pequena Mel no colo e começa a ninar.

—Tão bom um bebezinho,dá vontade de ter outro também!

—Ane já entrou na menopausa?

—Já, há dois anos. Mas também tem a Laurinha,ela demanda muito.

—Será que hoje você pode me dizer o que está acontecendo? Por que você não quer voltar para casa?

—Senta aí...E se prepara pra ouvir

—É sério mesmo...está traindo a Ane de novo?

—Ao contrário...

—A Ane está te traindo?!!

—Mais ou menos, não sei como começar.

—Olha ...- Enzo abaixa a cabeça e massageia as têmporas - os anos passam mas a lerdeza não muda! Fala desgraça!

—Desde quando reatei o meu casamento sou fiel à Ane. Estávamos bem e felizes, mas de um ano pra cá as coisas começaram a esfriar entre nós, começamos a transar pouco, nos tratamos como amigos. E quando eu comecei a vir pra cá as coisas melhoraram, ela ficou mais animada nos finais de semana.

—Tá, deu fôlego novo na relação. Agora aonde entra a traição da Ane?

—Ela começou a se envolver com um dos médicos da Laurinha. Eu descobri através dos soldados, eu a questionei e ela me sugeriu viver um casamento aberto.

—Casamento aberto?!!

—Sim, durante a semana ficamos com quem quisermos, e aos finais de semana seremos só nós dois. De princípio eu topei,gostei da ideia, mas a realidade é que eu não consigo ficar com ninguém!

—Você?!

—É ! Adoro sexo! Mas hoje em dia quero fazer só com uma mulher,e de preferência a minha!

Enzo levanta e anda atônito pela sala.

—Rapaz...a Ane me surpreendeu!

—Eu não quero isso Enzo,por isso não quero voltar, na verdade quero me separar de vez!

—E a Ane?

—Ela também quer, se apaixonou pelo cara e ele a quer só pra ele.

—Por que você não o matou?! Porra Pietro!

—Sei lá, não doeu como da vez que ela transou com o Giovanni. Pra mim tanto faz,não me senti traído,isso é estranho!

—Estranho não, Pietro ! Vocês não se amam mais! Não como homem e mulher.

—Caramba, não tinha pensado nisso!

Ele passa a filha adormecida para o pai que a beija,a leva para a cama a cercando de travesseiros.

—Conversa aqui - Enzo sussurra - a Mel está terrível, ela acorda a se arrasta pela cama toda,esses dias quase caiu. Deitei com ela e cochilei, ainda bem que o babbo entrou no quarto na hora e viu.

Pietro ri

—Quando chegar em São Paulo eu vou conversar com ela e colocar um ponto final definitivo em nosso casamento.

—Pelo menos agora será amigável.

Nesse tempo, a emprega bate a porta.

—Senhor Enzo, o doutor Lorenzo está subindo!

—Obrigado Vera! Peça para ele vir até o meu quarto.

Assim que Lorenzo chega, entra no quarto.

—Porque estão aqui?

—Estamos vigiando a Mel - Enzo olha para a filha - Já acordou! Danadinha!

Lorenzo dá uma risada e acaricia a irmã/sobrinha

—Visita de cortesia?

—Não,tenho duas coisas pra falar.A primeira é que o delegado antigo, que ficou com raiva porque foi transferido pra Nova Iguaçu para eu voltar, está trabalhando comigo em um caso,fez uma série de perguntas sobre a nossa família,sobre a minha estadia na Itália..

—Ih...quer ser um novo Dante!

—É,mas já dei a letra e ele completou a palavra. Mas de qualquer forma, já sei que dará trabalho.

—E a outra coisa?

—O Lucca me ligou, a Giulia conseguiu uma vaga na equipe de psiquiatria do Albert Einstein de São Paulo e o pediu para transferir o Ravi pra lá no lugar do Pietro.

—A Giulia é só orgulho, hein Enzo?

—Nem fala! Nem parece aquela menina sem juízo do final da adolescência.O ruim é que vou ficar longe dos meus netos, a Tetê é apegada demais comigo, ela vai sentir muito.

—Parece que vou ficar no Rio.

—Ficou contente? - pergunta Lorenzo

—A Ane e ele irão se separar, de novo!

—Ué? Por que?

—Depois o Enzo te conta,tenho que ver um voo logo pra lá. Quero acertar a minha vida e recomeçar tudo do zero!

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