O fim da tradição.

Quando fomos para o quarto, minha esposa estava uma pilha de nervos, ainda abalada com as palavras do pai. Não queria que nossa primeira noite fosse um trauma para ela. Apesar de ser um casamento por contrato, eu desejava que ela viesse até mim por gosto e prazer. Teríamos filhos, e o divórcio não era uma opção, exceto em casos de traição ou esterilidade. Se houvesse traição, eu teria duas escolhas: matar ou conceder o divórcio. Mas eu faria o possível para sermos um elo inquebrável.

Ainda naquela madrugada, o ancião esperava pelo cumprimento da tradição do lençol de sangue como prova de fidelidade.

Era uma prática humilhante e ultrapassada. As meninas casavam-se aos dezoito anos, sem noção da vida, e eram forçadas a se expor a esse ritual. Eu decidira terminar isso. Minha esposa não passaria por essa humilhação.

Depois que ela dormiu, vencida pelo cansaço e com o peso da sua ansiedade ainda pairando sobre si, peguei o lençol sujo e saí do quarto. Dei ordens ao meu soldado para que ninguém entrasse ou saísse. Em seguida, me dirigi ao salão de reuniões, onde o ancião e os outros aguardavam. Era pouco mais de seis da manhã. Eu finalizaria isso hoje.

Quando meu sogro chegou, procurou a filha com os olhos e não a encontrou, ficou visivelmente preocupado. Não falei nada, apenas aguardei. Ele se levantou e perguntou:

— O que houve que sua esposa não está aqui? E por que estão presentes os filhos dos capos para a tradição? Aconteceu algum imprevisto na consumação? Não me diga que ela…

Levantei a mão para interrompê-lo e respondi com frieza:

— Não se atreva a falar nada contra a honra da minha esposa, sua filha. O casamento foi consumado. Agora, vamos direto ao ponto.

Ele sentou, parecendo aliviado. Quando todos estavam presentes, comecei:

— Bom dia a todos.

Os presentes responderam em uníssono.

— Resolvi falar com vocês logo cedo para mudar algumas coisas. Está na hora de retirar alguns antigos de seus cargos e iniciar uma nova era. Por isso, pedi a presença de algumas pessoas de fora. Quero nomear Cesare Mansur como meu consigliere, retirando meu tio Osvaldo do cargo.

A reação foi imediata, especialmente do filho de Osvaldo, que parecia esperar essa nomeação. Continuei sem hesitação:

— Meu irmãoAntony será o novo subchefe e executor. Somos um elo inquebrável. Ninguém toca em um sem atingir o outro. E começamos nossa nova era com uma questão direta ao meu consigliere: Cesare, você exporia sua futura esposa diante dos anciões e de todos os capos?

Ele respondeu sem hesitar:

— De forma alguma. Essa tradição é ultrapassada e ridícula.

Assenti e finalizei:

— A partir de hoje, não haverá mais essa exposição. A tradição do lençol está extinta.

Um capo da velha guarda se levantou abruptamente, indignado:

— Isso é inaceitável! Nossa tradição existe há gerações! Você quer acabar com ela em um dia? Acaso sua esposa não era virgem e você quer a proteger?

Em um único movimento, ergui minha arma e disparei. O corpo do infeliz tombou no chão. Serviria de exemplo.

— Não admitirei que ergam a voz contra a honra da minha esposa. Quem não aceitar minhas decisões morrerá como esse verme. Alguém mais tem algo a declarar?

O silêncio foi absoluto.

— Estão todos liberados. Jurem lealdade ou morram — finalizou meu irmão Antony.

Todos me saudaram e saíram, menos meu sogro, que permaneceu imóvel. Cruzei os braços e provoquei:

— Está liberado, Otávio. A reunião agora é apenas para a elite.

Ele respirou fundo, mas se controlou e saiu.

Fiquei apenas com meus irmãos na sala e disse:

— Devemos ficar atentos à antiga geração. Acho prudente reunir os herdeiros e avaliar quem pode ser mantido em posição de poder ou retirado definitivamente. Cesare em seis meses será seu casamento. Fique de olho em sua noiva. Seu pai está tramando algo contra nós e pode usá-la para isso.

Ele assentiu e saiu. Eu sabia que ele já havia levado a noiva para um local seguro, o que me tranquilizava. Antes de sair, confirmei com Antony o sucesso da missão com os russos. Ele mencionou um novo grupo surgindo, e concordei que deveria investigar.

Voltei para o quarto e encontrei minha esposa discutindo com meu soldado, que tentava impedir sua saída. Ela gritava que queria sair e o golpeava nas costas.

— Senhor, sua esposa insiste em sair. Avisei que não tinha ordens para autorizá-la, e ela começou a me agredir — disse o soldado, visivelmente divertido.

Suspirei, passando a mão pelo rosto.

— Que fofoqueiro! Fiquei preocupada porque você sumiu. Achei que algo tinha acontecido e queria ir atrás de você, mas esse idiota não deixou! — resmungou ela, cruzando os braços.

— Pode voltar ao seu posto — ordenei ao soldado, fechando a porta.

Me virei para minha esposa e adverti:

— Nunca ameace meus homens. Eles não te tocariam, mas também não podem desobedecer ordens. E jamais vá atrás de mim se achar que estou em perigo, terceiro você nunca fará nada sem a minha autorização, então mesmo que seja a rainha da porra toda ainda é minha esposa e último fui ver os homens do conselho e falar sobre o lençol de sangue — falei e ela ficou vermelha.

— Não haverá cerimônia de lençol nenhum, acabei com esse gesto infeliz, então não precisará passar por isso.

— Você podia fazer isso? Não vai te prejudicar? — Ela parecia preocupada e eu ri, Sofia não tinha dimensão do meu poder

— Amore eu sou o Rei, acima de mim não há ninguém, eu sou quem crio e determina as leis, não se preocupe meu amor, agora, vamos tomar café e curtir nossa semana de lua de mel.

— Uma semana? — perguntou parecendo incrédula.

— Sim — falei e ela pulou no meu colo me beijando.

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