Uma proposta

Passaram-se alguns dias desde que deixei minha noiva na cobertura. Precisei viajar com meus irmãos para um lugar sem sinal algum, onde visitamos túneis subterrâneos, conseguimos um arsenal de guerra e fechamos alguns negócios. Assim que voltamos à superfície, meu celular explodiu com inúmeras ligações de Matilde. Um mau pressentimento se instalou no meu peito.

— Nos leve até o apartamento — ordenei ao motorista, mantendo a expressão fria, mas já tomado pela preocupação.

— Aconteceu algo? — Cesare perguntou ao meu lado.

— Não sei ao certo. Descobrirei lá. — Minha voz saiu firme, mas por dentro a inquietação crescia.

Quando chegamos ao apartamento, Matilde estava na sala à nossa espera. Seu semblante cansado e apreensivo não me agradou.

— Sua noiva não está comendo há dias Lorenzo. Chora muito e já perdeu peso. Isso não pode continuar assim! — ela disse, cruzando os braços com preocupação.

Fui direto para o quarto, e a cena diante de mim me atingiu de um jeito inesperado. Sofia estava encolhida na cama, envolta em um cobertor grosso, a luz apagada, a TV ligada em um canal qualquer. O quarto cheirava a melancolia e desespero.

— Valentina, por que não está comendo? Quer ficar doente? Você precisa se alimentar — falei, mas ela sequer se moveu.

Meus irmãos entraram no quarto logo atrás de mim.

— Quer que chamemos um médico? — perguntou Cesare.

— Não. — Respondi secamente. Caminhei até a cama e puxei o cobertor, mas no mesmo instante o joguei de volta sobre ela. Ela estava apenas com uma calcinha minúscula e um top.

Minha mandíbula se contraiu. Fiquei furioso, mais ainda porque meus irmãos sequer desviaram o olhar até que eu ordenasse.

— Saiam. Agora. — Minha voz soou baixa, mas carregada de comando. Cesare e Antony saíram sem discutir.

Virei-me para ela, minha paciência se esgotando.

— Escuta aqui, você precisa comer e se vestir. Imagina se Matilde tivesse chamado um médico? — Eu falei, já irritado só de pensar na possibilidade.

— Não tenho fome, Lorenzo eu estou bem. Me deixa em paz. — Sua voz saiu baixa, mas carregada de dor. — Meu amigo morreu por minha causa, e o soldado que me viu nascer teve seus membros quebrados por minha culpa. Se eu fizer algo mais, mais gente vai se machucar...

O peso da culpa a estava consumindo.

— Você preza pela vida dos outros, mas não cuida da sua própria? Vamos fazer um acordo — falei, e ela finalmente abriu os olhos, interessada.

— Que acordo? — murmurou desconfiada.

— Você come comigo e toma um banho. Depois, saímos um pouco. Uma sorveteria, um passeio no shopping. O que acha?

Ela hesitou, logo ergueu a cabeça com um pequeno sorriso surgindo em seus lábios antes de desaparecer tão rápido quanto veio. Resolvi ser direto.

— Seu soldado não foi ferido, e seu amigo... — respirei fundo, escolhendo bem as palavras. — Ele sabia sim quem você era, mas no celular dele havia planos de ir para o Brasil e ficar com você. Ele era filho de um associado e sabia que desejar a mulher de outra família é cobrado com sangue. Não é como pensa, ele não era um inocente. Não se culpe. Se me obedecer, ninguém mais se machuca.

Dizer isso foi como jogar gasolina na fogueira. Ela me olhou furiosa, levantando-se da cama sem sequer se preocupar com a roupa mínima que vestia. Meu olhar desceu involuntariamente pelo seu corpo, e instantaneamente fiquei duro.

— Eu não vou esquecer o que fez. Não quero sair com você para ser sua escrava. Você não vai me subjugar! Também não quero comer! Quero voltar para minha casa agora! — Ela batia o pé, inconformada, sua fúria quase infantil me divertindo.

Eu não tinha tempo para joguinhos.

— O apartamento é meu. Você é minha. E esse país inteiro é meu. — Falei lentamente, observando cada reação dela. — Você vai comer, ou eu vou até seus pais e ofereço sua irmã em casamento para um dos capos que buscam uma segunda esposa. O que acha?

Seu rosto empalideceu.

— Não, por favor Lorenzo! Minha irmã sempre sonhou com um casamento feliz... Isso acabaria com ela. — Seu desespero entregou sua fraqueza. Eu sabia que usar sua família era algo que poderia fazê-la me ouvir.

— Então vista-se e venha almoçar. Depois, sairemos. — Fiz um breve carinho em seu rosto e vi seu olhar vacilar. Ela era tão inocente, mesmo tentando se esconder atrás de sua língua afiada.

Depois de um banho, Sofia se juntou a nós na sala.

— Sofia, esse é Cesare, meu irmão e futuro consigliere, e esse é Antony, meu irmão mais novo. Depois do almoço, eles irão para a empresa, e eu te levarei para sair.

Ela assentiu, mantendo a máscara de boa menina. Ela achava que me enganava.

— Então, cunhada, o que está achando da temporada aqui? — Antony perguntou.

— A temporada de cárcere privado é como eu imaginava. Nada me surpreende em relação a Lorenzo Mansur. — Ela retrucou, venenosa.

— Noivinho, quero te pedir um favor. — Sua voz perdeu a ironia. — Se eu puder ver minha irmã por uma tarde, prometo que aceito esse casamento sem reclamar. Caso contrário, pode ter certeza de que nunca me terá ao seu lado.

Ri, balançando a cabeça.

— Tenta fugir, bambina. Você não chega nem no elevador. E se quer saber, estive na casa do seu pai há alguns dias. Sua irmã estava machucada. Provavelmente, ele bateu nela como punição pela sua fuga. — Eu queria que ela sentisse o peso da realidade, e funcionou. Pode parecer cruel, mas adoçar para ela seria alimentar sua estupidez e não combina comigo isso.

Ela sentou-se novamente, uma lágrima caindo silenciosa por seu rosto.

— Ele bateu nela... Eu sabia que ele nunca foi um bom pai, mas isso... — Sua voz se quebrou, e pela primeira vez vi a verdadeira dor por trás de sua bravura.

Ignorei o nó na minha garganta e olhei para meus irmãos que tinham sorrisos idiotas no rosto.

— Vão logo para a empresa e se ocupem, ou eu mesmo arrumo casamentos para vocês.

No carro, no caminho para a sorveteria, Sofia estava quieta. Então, do nada, tentou abrir a porta. Segurei seu braço antes que fizesse algo estúpido.

— Está pensando em fugir, bambina? Não vai escapar de mim. Mas saiba que hoje verá seus irmãos. Falei com eles, e os avisei que te levaria até lá. Agora, se comporte e não me faça mudar de ideia.

Seu semblante suavizou, e para minha surpresa, ela me abraçou e se sentou no meu colo. Meu corpo reagiu no mesmo instante, e eu não resisti. Beijei-a.

— O que está fazendo? Seu doido! — Ela recuou ofegante. — Não pode me tocar assim. Não ainda.

Sorri. Essa mulher seria a minha perdição.

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Comments

Iracema Vianna

Iracema Vianna

Uma hora é Sofia outra é Valentina kkk afinal o nome dela é Sofia Valentina???

2025-04-08

1

Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

Valentina era a amante ,não? A noiva que não quer se alimentar é SOFIA?!!

2025-03-17

0

Ilma Matias da Cruz

Ilma Matias da Cruz

etaaaa uhuuuuuu lindo demais pega fogo 🔥🔥 no parquinho kkkkk

2025-01-07

1

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