Quando chegamos à lanchonete, senti meu corpo relaxar levemente. Tudo estava saindo conforme o planejado. Mantive minha expressão tranquila, tentando disfarçar a adrenalina que percorria minhas veias. Caminhei até o balcão, pedindo meu lanche com um sorriso casual. Diogo, atento, deslizou o cardápio na minha direção e, junto dos guardanapos, senti o volume discreto dos documentos falsos. Peguei tudo sem levantar suspeitas e voltei à mesa, sentindo a aliança fria em meu dedo enquanto meu coração martelava no peito.
Comi dois hambúrgueres inteiros, mastigando lentamente, garantindo que ninguém desconfiasse de nada. Minha irmã e minha cunhada riam e conversavam animadamente, completamente alheias ao fato de que, em poucos minutos, eu desapareceria. Houve um instante em que me permiti hesitar. Meu coração apertou. Mas não havia volta. Eu não me acovardaria agora.
— Com licença, estou com muita dor de barriga, vou até o banheiro — falei casualmente, me levantando.
— Quer que a gente vá com você? — perguntou minha irmã.
— Não, meu amor, fiquem aí. Com a dor que estou sentindo, o banheiro vai feder por um mês inteiro — brinquei, soltando uma risada despreocupada para reforçar minha mentira.
O soldado designado para me vigiar acompanhou-me até a porta do banheiro e ficou parado ali, braços cruzados, esperando. Eu já esperava por isso. Com agilidade, saquei do bolso um pequeno frasco e derramei seu conteúdo no vaso sanitário. O cheiro horrível se espalhou no mesmo instante. Dei a descarga e gemi alto, como se estivesse sofrendo.
Já conhecia cada detalhe daquele banheiro. Diogo me enviara diversas fotos, descrevendo a melhor rota de fuga. A pequena janela, previamente destrancada, estava entreaberta. Respirei fundo e, sem hesitação, subi no vaso sanitário, forçando-a um pouco mais para abrir. Escorreguei para fora, caindo sobre o gramado úmido. O táxi já me esperava a poucos metros dali. Corri sem olhar para trás, cada passo ecoando como um estrondo em meus ouvidos.
Assim que entrei no carro, o motorista arrancou sem demora. Tinha, no máximo, vinte minutos até darem pela minha falta. Meu coração disparava, mas uma parte de mim sentia um êxtase insano. Eu estava conseguindo.
No aeroporto, me misturei à multidão. Com as mãos trêmulas, entreguei os documentos falsos no guichê. O atendente me olhou por um segundo que pareceu uma eternidade, mas, por fim, carimbou minha passagem. Quando embarquei no avião rumo ao Brasil, senti um alívio sufocante. Estava livre. Pelo menos, era o que eu achava.
O voo foi uma tortura. Não consegui comer nada. Cada vez que um comissário de bordo passava ao meu lado, minha mente imaginava mil maneiras de ser pega. Mas, horas depois, finalmente pisei no Brasil. O ar quente e úmido me envolveu e, por um breve momento, acreditei que realmente tinha escapado.
Até que os vi.
Três homens, vestidos discretamente, mas com olhares de predadores. Eles não eram qualquer um. Sabia que pertenciam à máfia, mas não sabia se eram aliados ou inimigos do meu pai. O medo se espalhou pelo meu corpo como um incêndio. Não pensei. Apenas corri.
Desviei por corredores, passei pelas esteiras de bagagens, mergulhei na multidão. Mas não foi suficiente. Mãos pesadas me agarraram pelos braços e me ergueram do chão como se eu não pesasse nada. Debati-me, chutei, arranhei, mas era inútil. Eles riam, me mandavam calar a boca. Um deles sacou o telefone e disse:
— Pegamos o pacote.
Minha cabeça latejava, e minha boca tinha o gosto metálico do sangue seco. Meus pulsos ardiam pela força com que tentaram me conter. O lugar era frio, mal iluminado, e o cheiro de óleo e metal denunciava que era algum tipo de hangar ou galpão.
Mantive meus olhos entreabertos, respirando devagar, tentando não demonstrar que estava consciente. Minha mente fervilhava, mas meu corpo estava exausto. E então, ouvi as vozes.
— O chefe quer que esperemos. Ele vem buscá-la pessoalmente. — A voz era grossa, impaciente.
— Não entendo por que tanto trabalho por causa dessa garota. Mas, meu amigo... — o outro riu, e pelo tom de voz, sabia que ele sorria. — Ela é linda.
Meu coração disparou.
— O que você acha, hein? Daria um bom presente antes do casamento, não acha?
Meu estômago revirou. Mantive a respiração contida, o medo me dominando.
— Melhor não brincar com o que é do chefe. Ele arrancaria nossas línguas por menos do que isso.
— Verdade... Mas não podemos nem olhar? — Ele riu de novo, um riso carregado de malícia. — Esses italianos fazem um escândalo por suas esposas. Mas um rostinho assim...
Minha mente gritava para que eu reagisse, mas meu corpo estava paralisado pelo pavor. Eles falavam em português, achando que eu não entendia, achando que eu era apenas uma boneca frágil e ingênua. Idiotas.
— Melhor calar a boca. Se ela souber português e contar para o chefe, estamos ferrados.
Meu estomago revirou. Eu não era uma pessoa para eles. Era um objeto. Algo a ser recuperado.
Fui levada para um hangar abandonado, o cheiro de óleo queimado e metal enferrujado impregnando o ar. O pânico tomou conta de mim. Meu corpo tremia, mas meu instinto de sobrevivência era mais forte. Mirei com precisão e chutei as partes baixas do homem que me segurava. Ele grunhiu de dor, mas antes que eu pudesse correr, sua mão enorme atingiu meu rosto. Um tapa forte o suficiente para fazer minha visão turvar. O gosto de sangue invadiu minha boca.
Gritei. Esperneei. Mas a escuridão me envolveu antes que pudesse continuar.
Quando despertei, estava deitada em uma cama. Meus pulsos não estavam mais amarrados. Minha mente estava confusa, mas o medo ainda pulsava em minhas veias. Assim que me sentei, a porta se abriu.
E ali estava ele.
Lorenzo.
Minha respiração falhou. Eu deveria temê-lo. E por um instante, temi. Mas então, sem entender o porquê, corri até ele. Como se sua presença fosse a única coisa sólida no meio do caos.
Ele me pegou antes que eu caísse.
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Atualizado até capítulo 39
Comments
Dulce Rodrigues
SOFIA, conhecendo como funciona tudo dentro da máfia, não deveria ter colocado a vida do Amigo em perigo. Deveria ter simplesmente fugido,agora o Diogo será um homem morto. Foi inconsequente e não pensou na retaliação que sua família poderá sofrer.
2025-03-17
1
Márcia Jungken
foi muita maldade do Lorenzo matar o Diogo,ele não merecia tudo que passou espero que Sofia tenha aprendido a lição 🤔🤔
2025-01-10
3
Jaildes Damasceno
Ela estava no desespero total. o pai canalha e violento e a fama de Lorenzo então. Ela foi inconsequente porém é muito nova e teve medo
2024-12-09
2