Vitória segue até a cozinha para beber água e depois vai ao banheiro, mesmo sem vontade de ir. Ela senta no sanitário com a tampa fechada, só queria ganhar tempo e encontrar uma escapatória, se tivesse de fazer alguma coisa tinha que ser antes de tornar-se uma Dornelles.
— Vitória, você está me fazendo perder a paciência, o seu noivo acabou de ligar e já está impaciente — Gregório grita, batendo na porta.
Sem opção, Vitória sai do banheiro arrastando o seu longo vestido. Ela não usava véu, apenas uma tiara de predarias, a maquiagem ela mesma fez, quer dizer não fez, pois só passou um rimel, um batom e nada mais, e ainda pensou ser maquiagem demais para a ocasião.
— Desfaz essa cara, o que as pessoas vão pensar? Quer mesmo que digam que está se casando obrigada?
— E não estou? — Sem paciência ela pega a bolsa da mão de Venância.
— Onde pensa que vai com essa bolsa? — O pai pergunta sem entender, mas ela o olha de lado, saindo de casa — Parece mais uma criança birrenta, nem parece ter 20 anos.
— Ela só está nervosa pelo casamento — Venância tenta defendê-la.
— Ela está querendo é me irritar, isso sim — Gregório entra no carro na companhia da filha.
No trajeto Vitória vai pensando em como era a vida, há algumas semanas tudo parecia ser perfeito, morava desde que nasceu no sítio que amava, não gostava de festas, adorava andar descalça e correr na chuva, sentindo o cheiro de terra molhada. Cuidava dos seus porquinhos e com eles conversava, nunca frequentou a escola, mas isso não a deixou infeliz, teve professores particulares que lhe deram aula em casa e assim pode se formar no ensino médio, isso depois de fazer uma prova de proficiência, obtendo excelentes notas.
Muitas pessoas podiam se perguntar como uma jovem conseguia ser feliz em um lugar tão remoto, cuidando de porcos e sem amigos de sua idade. Seus amigos eram os funcionários do sítio e alguns clientes que gostavam dela por ser uma jovem educada e de bom coração.
Aos vinte anos era responsável pela criação de suínos no sítio que herdou da mãe, mas mesmo sendo a responsável, era o seu pai quem cuidava das finanças e ela pouco sabia sobre o rendimento do sítio.
Quem a olhasse não diria ser ela a pessoa que estava a frente dos cuidados com os porcos, podia-se dizer ser ela a suinicultora, já que era ela quem coordenava as granjas. Vitória era loira e tinha os cabelos volumosos, os seus olhos eram azuis angelicais, nos seus lábios havia sempre um sorriso, mesmo quando estava falando, coisa que gostava muito de fazer, até com os porcos ela conversava.
Vitória era filha única, de Gregório e Célia, mas apesar se ser filha única não soube o que era o amor de um pai, Gregório nunca gostou de morar no sitio por isso, depois que se casou com Célia, ele se dedicou aos negócios do sítio fora dele, e de alguma forma ele conseguiu aumentar as vendas, e em pouco tempo os negócios aumentaram e com os investimentos necessários aumentou gradativamente o número de granjas do lugar, sempre procurando manter a boa qualidade da criação.
Antes de Vitória assumir aquela responsabilidade, sua mãe era quem fazia esse serviço, mas Célia, mãe de Vitória, também era instrutora de sobrevivência e o que não faltava eram alunos para ela dar aulas, mas um certo dia em uma expedição, houve um acidente e o carro em que ela estava rolou em uma ribanceira, e nesse mesmo dia Vitória ficou órfã de mãe.
Vitória tinha apenas doze anos, mas mesmo assim o pai não a levou para morar com ele, a deixou com Nana, que era a única que trabalhava na casa. Gregório raramente a via, ele não ia ao sítio e contratou alguém para ficar à frente da criação dos suínos, e as vezes mandava alguém buscar Vitória para ficar alguns dias com ele.
Esses dias eram como se fosse uma obrigação, pois Gregório quase não lhe dava atenção, mas Vitória não se importava, já estava acostumada a viver sem a atenção do pai. Além disso, era um favor ele não a levar para passear, pois ele morava em apartamento e ela detestava elevador.
Vitória olha pela janela do carro, a chuva havia parado, mas continuava nublado. Ela olha para o pai ao volante e pensa se não teria sido melhor ele continuar longe dela. Estranhou quando o pai apareceu no sítio acompanhado de Dornelles, a chamando para conversar. Primeiro o pai veio com a história de que Dornelles o procurou para dizer que estavam apaixonados e que ficavam juntos sempre que podiam, ela negou veementemente, mas o pai não acreditou nela, ou preferiu não acreditar.
Depois Gregório veio com a pior parte, Dornelles havia assumido a divida do sitio, já que a intenção dele era se casar com ela e por fazer parte da familia pagaria as dívidas do sítio. A informação deixou Vitória chocada, pois as vendas não haviam diminuido e as despesas não haviam aumentado, mesmo assim o pai disse que o sítio estava endividado e se eles não aceitassem a ajuda de Dornelles, corriam o risco de ficar sem o sítio.
Gregório era um homem ambicioso, ele era advogado e trabalhava para os pais de Célia, e quando os pais dela morreram ele se casou com ela, mas por ser um homem da cidade, não quis abrir mão da agitação urbana, onde gostava de frequentar bons restaurantes e lugares sofisticados.
Desde que se casou com Célia, assumiu a finança do sítio, por ela alegar não saber lidar com os números. A única coisa que ela fez questão foi se casar em comunhão parcial de bens, ela queria que o sítio passasse de gerações, por esse motivo o sítio era apenas de Vitória.
Gregório ao ser procurado por Dornelles pensou estar tomando a melhor decisão, ele acreditava que Vitória nunca iria sair do meio do mato, onde gostava de viver e se ela não se casasse com Dornelles, acabaria se casando com um empregado do sítio, como a mãe dela fez.
Depois de uma calorosa discussão entre pai e filha, o casamento foi acertado e ali estava ela indo ao encontro daquele que mais odiava na vida, pois soube que Dornelles mentiu não apenas para o pai dela mas para todos da região, dizendo ter lhe tirado a virgindade, mas por se amarem iriam se casar.
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Eufrasia Agizzio
Deve ter interesse no sitio, além de mentiroso, cafajeste,ordinário e mais uma lista de adgetivos.
2025-05-12
2
Eufrasia Agizzio
Mas ela não esta casando por amor, está sendo obrigada.
2025-05-12
1
Maria Izabel
Isso não é pai e sim um monstro.
2025-01-22
1