Capítulo 10

O tempo passava normalmente. Luc seguia o curso da sua vida, trabalhava incansavelmente, saturando a mente com trabalho a ponto de sonhar com dispositivos tecnológicos para não mais sonhar com o Ômega que lhe assolava o sono todas as noites. Ia para casa apenas para dormir e se aprontar para, no dia seguinte, voltar ao trabalho no escritório. A empresa ia de vento em popa e seu pai estava feliz com sua vida profissional, pois, por outro lado, a insistência para que seu filho arrumasse um companheiro era algo corriqueiro na vida do alfa.

Por outro lado, Luan seguia sua vida da mesma maneira, mas com uma diferença: ele estava ansioso há alguns dias... Coisas que antes não lhe causavam medo agora o assustavam... Dormia pouco à noite porque tinha sonhos nos quais um lobo o levava para uma caverna para nunca mais voltar... Ele chorava de se sentir sozinho ali. Esse sonho se repetia várias vezes e o acordava de madrugada suando frio ao sentir o escuro do quarto. Agora dormia com um abajur aceso e com música ou a televisão ligada para que sua mente soubesse que ele não estava sozinho e que sua consciência não lhe pregasse peças. Já havia acontecido antes: ele acordava com tanto medo que buscava tudo o que lhe desse segurança e se enroscava na cama, rodeado de coisas que pudessem acalmá-lo. Às vezes, essas crises de ansiedade eram muito fortes.

Ele estava em seu quarto. Já fazia dias que não dormia bem, mesmo que já não pensasse tanto naquele alfa...

Ele se deitou na cama e, sem perceber a hora, adormeceu. O sonho era o mesmo, mas agora havia algo diferente... O mesmo lobo, preto de olhos azuis profundos, andava ao seu redor, abanando o rabo peludo para depois lamber seu rosto. Luan sorria e o acariciava. O lobo se deitava no chão e ele podia montar em seu pelo macio para ir até a mesma caverna que tanto o aterrorizava. No entanto, o desfecho era o mesmo: o lobo ia embora e o deixava...

Ele gritava por socorro, estava escuro, ninguém o via ou vinha... Ele ouvia choro e soluços tão crus que quase podia senti-los oprimir seu coração... Caminhou às cegas naquela caverna até avistar uma luz fraca no final... Os soluços se intensificaram até que ele pôde ver na luz uma mulher linda segurando um par de filhotes de lobo que choramingavam enquanto a mulher os abraçava... Eles eram lindos, um filhote preto com olhos cor de mel e uma pelagem linda... e uma filhote branca linda com olhos azuis intensos como o mar... A mulher que os abraçava soluçava junto com eles, acariciando suas orelhas e acalmando seu choro...

Luan quis se aproximar deles, mas ao encontrar os olhos cor de mel da mulher, ele ficou paralisado... Ele já a tinha visto em seus sonhos antes e ela não era estranha, era nada menos que sua lua... Sua lua era quem chorava tristemente naquela caverna segurando aqueles dois filhotes que também estavam tristes... Ao longe, ele podia ouvir o uivo de um lobo que denotava dor... mas por mais que tentasse, ele não conseguia se mexer... Ele simplesmente caiu na escuridão novamente e o desespero o fez acordar.

-Nãoooo... minha... minha... lua, ela está sofrendo, o que está acontecendo? Por que me sinto assim?!

A vontade de chorar o invadiu, assim como a ardência na garganta que indicava que ele estava prestes a vomitar o pouco que havia conseguido comer naquele dia.

Ele estava há dias sem comer direito porque se sentia tão "ansioso" que tudo lhe dava náuseas.

Até mesmo as melhores sobremesas, já que ele era fã de doces, lhe pareciam horríveis. Ele correu para o banheiro e vomitou tudo o que estava em seu estômago.

-Isso não está certo... por que você está sofrendo, amiga?... O que a está magoando tanto? - ele perguntou à sua lua interior enquanto a dor em seu peito aumentava.

Ele foi para a cama, não sem antes escovar os dentes e prometer que iria ao médico na manhã seguinte.

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