Capítulo 4

- Doutor, chegou a cadela de...

A assistente não pôde terminar de falar porque viu o Ômega curvado sobre a sua secretária à procura das chaves do carro.

- O que se passa? Está tudo bem? - perguntou a assistente.

- Não, eu... eu... preciso, do meu carro, preciso de sair.

- Doutor, chegou a cadela, a sua consulta das 3h, ela está com um quadro de...

Novamente ela não conseguiu terminar de falar porque o Ômega se levantou e, como pôde, chegou à porta. Apoiou-se no batente e disse à sua assistente com um olhar assassino:

- Laura... contacta a Laura e não, não posso atendê-la... e... eu tenho de ir para casa... - ele começou a libertar feromonas, mas claro que a sua assistente não saberia, já que tal como a outra doutora ela era uma Beta, apenas viu o seu chefe a passar mal, pela porta das traseiras da clínica, ele não queria dar de caras com ninguém, só queria chegar ao seu carro.

O Luc estava no parque de estacionamento, ainda não se tinha acalmado de tudo, mas ele sabia, aquilo nunca lhe tinha acontecido antes, nunca tinha sentido tanta necessidade de feromonas na vida. Até o formigueiro no seu maxilar e depois ao ver-se no espelho e notar os seus olhos de um azul intenso a mudarem para a cor dourada característica que só o seu Cio lhe oferecia...

Ele estava pronto para ir e ligou o carro, quando num segundo ouviu a sua pequena parte Alfa animal que lhe dizia por dentro:

VOLTA PARA TRÁS!

E assim ele fez, virou o rosto para encontrar, do outro lado do passeio, um lindo rapaz loiro de belos olhos cor de mel com uma íris ligeiramente rosada, que indicava o início do seu cio, aquele Ômega era lindo aos olhos de qualquer um, com uma altura perfeita e um corpo tão divino como o de uma musa.

Lábios tão vermelhos e carnudos como as maçãs de que o Luc tanto gostava, ele viu-o cambalear algumas vezes e apoiar-se na parede e num contentor de lixo para depois cair no chão.

O Luc não soube em que momento chegou ao seu lado, só sabia que o tinha de ajudar...

- Ei, estás bem...?

- Eu... preciso... carro... do meu carro... - respondeu o Luan, bastante tonto e com o calor a emanar do corpo.

O Luc reparou no aroma que lhe inundou novamente as narinas, e por um momento teve o impulso de o agarrar e levar consigo, o seu Alfa exigia-o; no entanto, ele não o fez, tapou o nariz para se conseguir controlar, o formigueiro nos seus caninos dizia-lhe que o devia morder, mas a sua consciência e a pouca sanidade que ainda lhe restava esbofeteavam-no de forma agressiva.

- Ei... estás no cio... tens alguém a quem ligar? Tens supressores no teu carro?

Um... um Alfa... - pensou o Luan enquanto levantava o olhar para ver o forte moreno que estava à sua frente, sem dúvida era muito bonito, alto com braços tão fortes, os pelos finos nos seus braços e as veias ligeiramente marcadas nas suas mãos... indicavam uma ferocidade macabra dentro da mente do Ômega.

Por alguma razão, aquelas mãos não lhe pareceram nada más, ele até se pôs de pé para o poder olhar nos olhos, azuis, azuis como o mar que ele tanto adorava, azuis tão profundos que lhe transmitiam a paz que o seu coração tanto ansiava... A sua Lua interior sentia-o, aproximou-se e soube, o aroma que ele exalava era perfeito, ele respirou fundo e aspirou lentamente...

Cheiras a mar... - pensou ele... sem hesitar, aproximou-se dele, o Luc ainda tinha as mãos no nariz, a tentar conter a pouca calma que ainda lhe restava e agarrando a sanidade por um pé para que não escapasse porque, francamente, estava prestes a acontecer...

- Ei... a minha irmã também é Ômega e ela... ela toma supressores, francamente não sei o que fazer, o meu Cio é diferente... mas eu posso, ou melhor, podes dar-me alguma informação e eu ligo...