Capítulo 15

Era Steve quem estava ali. E também, furioso... Ele tinha descoberto tudo o que a sua companheira estava aprontando por baixo dos panos, tudo o que ela planejava fazer a Nyanni.

Alguém dedurou todos os planos maquiavélicos de Loris. Steve descobriria tudo uma hora ou outra... Todos os moradores daquele subúrbio o temiam e respeitavam ao extremo por uma razão. E aqueles que o apoiam jamais deixariam que algo acontecesse a alguém sem o seu pleno conhecimento.

— Por que você bateu na garota, Loris? O que ela te fez? — questionou duramente, se aproximando a passos apressados e pesados na direção da mulher, que já tremia por inteiro, com medo do que poderia acontecer.

Por instinto, e buscando uma proteção, ela olhou para Jackson, mas àquela altura, ele já havia sumido junto ao outro rapaz que acompanhava Loris naquela tentativa de ameaçar e coagir Nyanni a sumir do subúrbio.

— Eu só... Amor, eu só...

Ela estava muito nervosa e já havia baixado a sua cabeça, envergonhada e intimidada por aquele que já é quase o seu marido. — Não gagueje, eu quero respostas claras e objetivas! — rosnou, chegando mais perto dela e a obrigando a olhar em seus olhos. Naquele momento, faíscas voavam de suas órbitas, afinal de contas, estava irado.

As coisas pareciam ter fugido do seu controle. Steve estava bravo por saber que, se caso tivesse saído como planejava hoje mais cedo, poderia acabar acontecendo algo muito pior com Nyanni. Ele não se perdoaria jamais por isso.

Loris já havia começado e a chorar e Nyanni acompanhava tudo aquilo em choque, sem dizer uma palavra. Ela pode jurar que viu a sua vida passar diante de seus olhos, afinal de contas, Loris estava muito brava e seus olhos estavam escuros, demonstrando o nível da sua insatisfação com a presença da moça.

— Vá embora, Nyanni. Você não precisa presenciar nada disso. — ordenou, não dando brechas para que ela retrucasse ou se recusasse a sair dali. O olhar que Steve a direcionou foi o suficiente para que entendesse que tudo o que aconteceria dali para a frente não a interessaria.

E dessa forma aconteceu. Nyanni, ao voltar à sua consciência, saiu correndo dali sem ao menos olhar para trás. Ela estava morrendo de medo, apavorada. Sabia que corria muito perigo naquele subúrbio, e o pior de tudo é que não poderia ir embora dali tão facilmente, até porque não havia recebido ao menos o seu primeiro salário do novo emprego; ela mal havia começado!

Logo quando chegou em casa, ao se certificar de que não estava sendo seguida, trancou tudo e, com os dedos tremendo, pegou o celular e pensou em duas possibilidades diferentes: a primeira seria ligar para a polícia imediatamente, relatar toda a situação; e a segunda consistia em mandar uma mensagem de texto para Marianne, que sempre fora a sua confidente, e sempre tinha uma mensagem de ânimo e um conselho.

Entretanto, as duas possibilidades lhe eram inviáveis naquele momento. Porque aquela área em que estava não era muito patrulhada pela polícia e, se caso ela corresse o risco de acioná-la, todos saberiam quem fez a denúncia e a entrada de uma viatura no subúrbio seria um tanto quanto ofensivo para os criminosos que ali vivem. O tráfico de drogas ainda é uma realidade lá dentro, a chegada da polícia naquele bairro aquela altura seria extremamente reprovada e "perigosa". Ou seja, não seria uma boa ideia. Definitivamente não!

A segunda não poderia acontecer. Porque Nyanni sabia que, assim que relatasse à marianne tudo o que aconteceu, ela ficaria extremamente preocupada e este já seria um motivo para que ela cobrasse do seu tio algo que ele pouco tem haver. Isso não seria nada bom para a reputação de Nyanni, que ainda estava sendo construída sob a perspectiva de Apolo.

Assim sendo, ela decidiu ficar em silêncio. Guardar aquilo tudo para si mesma seria a opção mais viável, uma vez que não queria arranjar problemas e queria focar o máximo possível em seu emprego para não acabar sendo demitida. Ela não admitiria tamanha humilhação.

Perdeu completamente a fome. E depois de pensar bem sobre tudo o que aconteceu, beber uma água e relaxar, Nyanni sabia que tinha de repôr as suas energias para a semana que viria, já que dessa vez começaria a dar duro em seu trabalho para mostrar serviço ao seu patrão e permanecer por ali. Sua maior meta naquele momento era assinar um contrato mais longo com Apolo Hoffmann, e tentou ao máximo esquecer tudo aquilo que passou; pensar positivo.

Talvez aquilo não fosse adiantar muito... Nyanni sabia que ia ficar com medo sempre que fosse sair na rua (não que ela já não sentisse, mas, de certa forma, agora seria bem pior).

• • •

Ao amanhecer, Nyanni acordou bem cedo para organizar a sua casa. Sabia que precisava distrair a sua cabeça e por isso seu serviço ali começou bem cedo para que não desse tempo de ela se remoer sobre o que aconteceu.

A propósito, Steve não permitiu que Loris permanecesse na rua. A discussão chamou a atenção da vizinhança, e o mesmo, que nunca foi de se expor, decidiu levar a briga até a casa que os dois dividem.

Naquela mesma noite, houve um caos ainda maior na casa de Steve. Porque ele estava bravo por sua mulher ter se envolvido com Nyanni... — Eu só queria dar um susto nela, Steve. Não era a minha intenção assustar nem nada do tipo, eu só-

Ela até tentou explicar, mas Steve não permitiu. Pelo menos não naquele momento. — Pelo amor de Deus. Você tá ficando maluca, mulher? Será possível que eu vou precisar me preocupar em te deixar sozinha? Você vai me fazer passar vergonha até quando?! — as suas palavras duras foram ditas em alto e bom som — Já estou farto dessa situação, Loris. Farto! O estopim dos seu ciúme doentio foi isso, eu já não aguento mais viver assim. Você não confia em mim e ainda tenta me humilhar em público?

Loris não entendia a razão pela qual ele estava defendendo tanto Nyanni. Tinha tomado as dores da moça e isso irritou ainda mais o espírito da sua rival. — Por que está agindo desse jeito? Sou eu quem não estou lhe entendendo, não sei porque você considera tanto essa piranha. O que ela fez de tão importante pra você? — Steve passou as mãos pelo cabelo, os puxando um pouco. — Ein, Steve? O que seria tão mais importante que a mãe do seu filho? Ao ponto de você querer me deixar.

Ao ouvir aquelas palavras, Steve arregalou os olhos. Por um momento, foi como se ele tivesse esquecido do que aconteceu. Mas apenas por alguns segundos.

— O que você disse? — indagou, mas Loris não respondeu de imediato. — Responde, Loris! Porra! — gritou, assustando-a.

A gravidez é real. Loris está grávida e já descobriu há um tempo, mas não pretendia se manter com a criança; tendo em vista o sonho exagerado do seu marido em ser pai, ela queria abortar a criança secretamente para que ele não descobrisse e ficasse magoado. Uma gravidez naquele momento não era esperado e nem aceito por Loris.

Mas ela notou que estava prestes a perder o homem que tanto ama. Não viu outra alternativa a não ser contar-lhe a verdade. Ela pretendia mantê-lo por perto, sem essa história de separação.

— Eu disse que estou esperando um filho seu, Steve. Tudo o que eu fiz foi pela nossa família, porque já estou farta de tantas mulheres entre a gente, também estou cansada das suas traições.

— Não se brinca com esses assuntos, Loris.

— Eu não estou brincando, estou grávida de algumas semanas e estava buscando um jeito de lhe contar e olha só como acabou acontecendo... — lágrimas escaparam de seus olhos e aquela cena amoleceu o coração de Steve.

Ele decidiu, então, pegar leve. — Tudo bem. Vai ficar tudo bem, Loris! — a tranquilizou, chegando mais perto e a abraçando. — Só não se mete mais com a Nyanni, por favor. É só isso que eu lhe peço.

— Eu prometo!

Afirmou a paranóica, que já tentava buscar respostas para aquilo tudo.

"Por que ela é tão importante assim?" Era a pergunta que ela mais se fazia.

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