Capítulo 10

...Bastian...

E aqui que estou, duas semanas depois, fazendo as malas, já que…

A Eider chega amanhã. Pontual como prometeu, que saco.

Vejam só, nessas duas semanas, meus pais tiveram uma segunda lua de mel durante uma semana inteira. Nos abandonaram aqui na matilha e foram para uma ilha curtir o mar e a areia. Meu pai chegou enfeitiçado, mal me viu e já disse:

Aisen: Filho, vou sentir muita falta de vocês nesse tempo que estarão fora, mas eu entendi que é pelos seus estudos e suas carreiras. Só lembre-se que eu estou aqui e vou te defender e proteger sempre, então se aquele idiota tocar em um fio de cabelo seu, vai se ver comigo. Eu mato ele se ele tentar te tocar, ok?

Eu escutei o discurso dele até o final e apenas franzi a testa.

Bastian: Por que está falando no plural, pai?

Aisen: Bom, é que sua irmã me disse que ela também está pensando em ir para a Itália fazer um estágio com seu tio Lucas. Para falar a verdade, eu não concordo com meus dois filhotes indo embora da minha casa, mas já entendi que eles só vão voar por um tempo e vão voltar para o ninho, já que este é o lar de vocês. Sua irmã já disse que vai trabalhar no meu lugar e você, bom, você vai ser o bebê da casa, mas enquanto isso se cuida e…

Bastian: Mas, pai, vocês vão ficar sozinhos se eu e minha irmã formos embora. É melhor eu…

Aisen: Não, não, não, meu amor, como assim? Olha, não se preocupe, nós vamos ficar bem. Eu e seu pai já conversamos sobre os prós e contras e, obviamente, os prós ganharam…

Enquanto ele dizia isso, seus olhos brilharam e seu cheiro ficou mais forte. Sem dúvida meu pai está pensando em algo a mais.

Bastian: Pai, para com isso! Que nojo! Não quero ficar imaginando como você come o papai. Olha só, já basta a gente te ver carregando ele por aí porque ele não consegue nem andar!

Aisen: Bom, o que posso dizer? Seu pai é…

Saí correndo daquela sala. Não quero saber mais nada sobre esse assunto. Quem sabe meu pai esquece tudo amanhã e volta a se recusar a ficar sozinho.

E mais uma vez, meus planos não saíram como o esperado…

Carla: Para de chorar, ratinho! Vão ser só alguns meses. Eu vou sentir sua falta, mas sei que você vai se sair bem. Aproveita, se diverte, viva bons momentos e, acima de tudo, use anticoncepcionais para evitar uma gravidez, ok?

Eu apenas franzi a testa. Anticoncepcionais? Mmm?

Droga, não me toque!

E aí meu cérebro fez “clique”.

Carla: Ratinho? Ratinho? Estou falando com você!

Bastian: Amiga, acho que eu não me cuidei.

Carla: O que você disse? Droga, Bastian! Como você foi deixar isso acontecer? Vamos, mexe esse traseiro e vamos para a cidade comprar um teste de gravidez.

Bastian: Por que tão longe? Aqui na matilha também tem farmácia.

Carla: E quem vai comprar? Você ou eu? Quer que todo mundo saiba que pode ter um filhote seu ou meu por aí? Não! Meu pai me mata se eu não contar a verdade e o seu te mata se você não contar quem é o pai! Vamos logo!

E assim, entramos no meu carro e fomos direto para a cidade.

Entramos em uma farmácia pequena, um pouco afastada da muvuca do centro, e lá estávamos nós dois. Eu queria ela comigo e ela sabia disso, e não me deixaria em paz. Talvez fosse melhor não ter vindo e evitar tudo isso.

X: Mas veja só, Carla Flores.

Pela cara da minha amiga, aquele humano era seu companheiro, e agora eu entendi a iluminação e a desilusão dela. O cara era filho do diretor da universidade, era o capitão do time de futebol americano e, portanto, o mais popular da escola. E sua namorada, a capitã das líderes de torcida, era um esqueleto com peitos de silicone.

Droga!

O cara veio com a namorada pendurada no braço e não se esqueceu de falar em voz alta com a vendedora, pedindo preservativos. A loira oxigenada ao seu lado apenas sorriu com escárnio para a minha ratinha, que havia abaixado o olhar.

Eu me aproximei da outra vendedora e cutuquei minha amiga, que reagiu e pediu um teste de gravidez. Ela falou tão baixo que a vendedora teve que perguntar de novo o que queríamos.

Bastian: Não escutou, senhorita? Queremos um teste de gravidez para a minha namorada.

Carla levantou o olhar, surpresa. Eu a abracei pela cintura. A vendedora assentiu e nos entregou o teste. Pagamos e viramos as costas, Carla com o teste na mão.

A cara do dito cujo era um poema. Ele finalmente recebeu o que queria há um tempão, mas não conseguia sair do lugar. Olhou para a Carla como se quisesse perguntar algo. Ela franziu a testa e cerrou os punhos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. A garota ao lado dele o olhava com surpresa, então apertei meu aperto na cintura da minha amiga e praticamente a arrastei para fora da loja. A ajudei a entrar no carro e fiz o mesmo, assumindo o volante e começando a dirigir em busca de um banheiro público.

Carla: Por… Por que você fez aquilo?

Bastian: Por quê? Para aquele cara continuar te humilhando?

Carla: Mas você vai embora e eu vou ficar aqui. Amanhã a universidade inteira vai saber do teste de gravidez e você já vai ter ido. Vão pensar que você me abandonou. Vou virar piada!

Bastian: E quem disse que eu vou sozinho?

Carla: Hã?

Estacionei o carro e segurei o rosto dela, olhando em seus olhos.

Bastian: Ratinha, você realmente achou que eu iria para a Escócia sozinho? De jeito nenhum, querida. Você vai comigo. Somos como a água e a areia. Não somos iguais, mas juntos criamos grandes obras de arte. Somos diferentes, mas tão parecidos ao mesmo tempo. Você é minha melhor amiga, além de ser minha irmã. E com o papai, você é a única com quem posso compartilhar qualquer coisa vergonhosa que aconteça comigo. A diferença é que, com você, não tenho vergonha de dizer nada. Não conseguiria viver essa aventura sem a minha parceira.

Peguei as mãos dela e ela começou a chorar. A abracei.

Bastian: Vamos, magrela, vamos ver se você vai ser titia.

E assim seguimos nosso caminho. Sei que ela não estava assim só pelo que eu disse, mas também pelo que aconteceu na farmácia com o companheiro dela. Mas essa viagem… Sei que vai ajudar os dois.

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