Cap.07 CONHECENDO O VOVÔ

A Lupe vem cedo para a mansão e coordena as empregadas para que o café seja servido, ninguém tem permissão de se aproximar dele. Somente ela. Ela o serve e espera ele terminar o café, parada em pé, atrás das costas dele. Que homem esquisito!

Quando ele sai para o trabalho ela dá as ordens para as outras empregadas e volta para casa fica com a Aurora e é a minha vez de trabalhar. Cuido do quarto e banheiro dele, ajeito e tiro pó do escritório, pego as roupas cheirosas mas sem graça dele e levo para a lavanderia fora. Ele só gosta da roupa lavada nesse lugar. E eu tenho que levar e buscar. O meu trabalho é esse. Tenho muito tempo livre para ficar com a minha filha. Estou até fazendo um curso online, eu queria fazer administração, mas a faculdade é cara, então estou fazendo o curso para ser secretária executiva.

Aurora adaptou-se bem à rotina, depois do serviço, fico brincando com ela nos jardins da frente da edícula. O Patrão nunca vem sem avisar, então podemos correr à vontade por aqui.

Fiquei esse mês inteiro preocupada com o que aconteceu em Vegas, procurei notícias pela Internet da morte do sujeito, mas não tinha nada. Talvez eu não tenha matado o velho. Para ter certeza, quando fui levar as roupas para a lavanderia, encontrei um telefone público e liguei para a Sara. Se a polícia me procurou, ela sabe.

Ela me disse que o Luigi chegou em casa e não me achou, quebrou tudo em um acesso de fúria. Foi até a casa dela e a ameaçou, e ela disse a ele que chamaria a polícia e ele foi embora, alguns dias depois, uns homens mal encarados arrombaram a porta e o levaram e até agora ele não voltou. Perguntei se a polícia apareceu e ela disse que não.

Cheguei a conclusão de que não matei ninguém. Morto não cobra dívida. Se vieram atrás dele quer dizer que o homem está vivo.

Graças a Deus! Não sou uma assassina.

Volto para casa mais tranquila. Sempre que vou à lavanderia a Lupe me empresta o carro e posso levar a minha filha comigo, ela até providenciou uma cadeirinha para o carro.

Vick _ Pronto meu amor, chegamos! Vamos para a casa que a mamãe vai fazer o seu almoço, você vai almoçar e depois tirar uma sonequinha para a mamãe estudar.

Aurora _ Quelo brinca

A tiro da cadeira e coloco no chão, enquanto pego a minha bolsa, ela corre pelo gramado.

Vick _ Eu vou te pegar.

Ela gargalha gostoso. E faço barulho de monstro para correr atrás dela.Tropeço em uma pedra e caio na grama.

Vick _ Estou pior do que criança, caindo de madura.

Olho e não a vejo mais. Me lembro da piscina e me bate um desespero e saio correndo. Quando a encontro, já é tarde, ela está no colo de um homem. E agora o patrão a pegou.

Homem _ Quem é você bonequinha? O que será que estão me escondendo? Você é muito linda. Cadê a mamãe?

Vick _ Estou aqui senhor. Peço perdão. Ela não pode estar aqui.

Homem _ E porque não?

Vick _ Eu sou sobrinha da Lupe e estou passando alguns dias com ela. E a minha filha não tem permissão de vir a sua casa.

Homem _ Posso ver a semelhança com a Lupe. Como se chama?

Vick _ Vick, senhor.

Enquanto conversamos noto que o perfume não é o mesmo do patrão, e o homem está de camiseta azul, e o patrão só tem branca.

Homem _ Muito prazer, sou Daniel, pai do patrão.

Faz uma careta engraçada, como se tivesse rindo do próprio filho, por todos o chamarem de patrão.

Vick _ Prazer senhor Daniel, pode me dar a minha filha?

Daniel _ Tem certeza? Não posso ficar um pouco com ela no colo? Sabe há quantos anos eu não tenho a oportunidade de chegar perto de uma criança?

Vick _ Desculpe senhor, mas ela não pode ficar aqui. É contra as regras.

Daniel _ Está bem! Então vou com vocês na casa da Lupe, sei que ela não vai se importar. E você?

Vick _ Claro que não! O senhor pode brincar com ela, enquanto eu faço o almoço.

Daniel _ Ótimo! Acho que essa bonequinha gostou de mim.

Vick _ Parece que sim!

Ela fica o tempo todo acariciando o rosto dele.

Daniel _ Você gostou do vovô?

Aurora _ Vovô.

Vick _ Não, Aurora, não é vovô.

Daniel _ Por favor, Vick, deixe que ela me chame de vovô, pelo jeito aquele robô do meu filho não vai me dar netos mesmo! Pelo menos posso ter o prazer de ser chamado de vovô.

Vick_ Tudo bem! Mas o senhor tem que me prometer não falar nada para o seu filho.

Daniel _ Ele não sabe que estão aqui? Não, lógico que não! Se soubesse já teria expulsado vocês daqui. Às vezes parece que aquele meu filho não tem coração.

Vick_ Ele sempre foi assim?

Daniel _ Não! Era um menino muito doce e feliz, até que a mãe dele desapareceu, sem deixar rastro. Nós nunca entendemos isso! Ela nos amava e um dia desapareceu. A procurei pelo mundo todo, mas nunca tive uma pista do seu paradeiro. Um velho amigo e sócio a viu em Londres com um homem. Até cheguei a ficar lá por um tempo, procurando, queria que ela me dissesse na cara o que aconteceu para que ela mudasse assim tão de repente, mas não encontrei qualquer pista. Um dia desisti e procurei seguir a minha vida com o meu filho.

Vick _ Sinto muito! Sr.Daniel.

Daniel _ Só Daniel, eu acabei de conhecer você e já me abri desse jeito. Você tem um jeito tão meigo e doce que desarma as pessoas.

Vick _ Então o seu filho mudou por conta do desaparecimento da mãe. Pobrezinho se sentiu abandonado. Eu sei como é isso! Também fui abandonada, assim que nasci.

Lupe _ Sinto muito querida! Eu não sabia.

Vick _ Eu não falo muito sobre isso.

Lupe_ Você nasceu onde?

Vick _ Eu nasci em Las Vegas mesmo. Pelo menos acredito nisso. Fui criada no orfanato Santa Ana. Por isso o meu sobrenome é Santanna.

Daniel _ Espere um pouco. Vocês não são parentes?

Eu olho para a Lupe com cara de e agora?

Lupe _ Na verdade, eu a contratei para trabalhar de arrumadeira na mansão e pedi que morassem comigo.

Daniel _ Vocês são parecidas que achei que eram parentes mesmo!

Lupe olha para mim com os olhos brilhando.

Lupe_ Bem que eu gostaria que fosse!

DANIEL CAMPBELL 55 ANOS

AURORA SANTANNA 3 ANOS