"Tons de Verdade: Revelações e Aceitação"

Aldric

A desconfiança que Catherine expressou em relação à minha família não me surpreendeu, pois é uma verdade que muitos aqui nos consideram uma família macabra. Desde os tempos em que eu ia para o colégio, as pessoas nos chamavam de estranhos e proferiam comentários maldosos.

A localização isolada de nossa casa, no meio da floresta, só contribuiu para alimentar a aura de mistério que nos envolve. No entanto, esses julgamentos e olhares de desconfiança nunca me afetaram verdadeiramente.

Enquanto reflito sobre os desafios de revelar a verdade a Catherine, uma mistura de sentimentos contraditórios tumultua minha mente. Por um lado, sinto o desejo avassalador de compartilhar meu segredo com ela, de abrir meu coração e revelar a verdade que molda minha identidade. Por outro lado, o medo e a incerteza me assombram, fazendo-me questionar se ela seria capaz de aceitar quem realmente sou.

O pensamento de revelar a Catherine que a maioria de nós é composta por lobisomens, e que eu mesmo sou um deles, me enche de angústia e apreensão. Será que ela entenderia? Ou será que, como uma garota cristã, me veria como uma besta fera demoníaca?

Esses pensamentos me fazem sorrir ironicamente, pois a ironia da situação não passa despercebida por mim. Quando Catherine percebe meu sorriso, ela imediatamente me questiona, demonstrando sua curiosidade genuína.

— O que foi, Aldric? O que há de tão engraçado? — ela pergunta, com um brilho travesso nos olhos. — Também quero saber para poder rir junto com você.

Seus olhos fixos em mim, sua expressão aguardando minha resposta, fazem meu coração apertar de angústia. Neste momento, sinto uma urgência avassaladora de abrir meu coração para ela, de compartilhar o peso dos meus segredos e medos. Mas ao mesmo tempo, o medo da rejeição e do afastamento me paralisa, deixando-me em um impasse doloroso. Respiro fundo, tentando reunir coragem para responder à pergunta de Catherine, enquanto a turbulência de emoções continua a lutar dentro de mim. O céus, por que tudo tem que ser tão difícil?

Engolindo em seco, meus olhos encontram os dela, buscando conforto e compreensão, enquanto luto para articular as palavras que pesam em minha mente.

— É apenas... uma ironia da vida, Catherine — murmuro, tentando disfarçar a tensão em minha voz com um sorriso trêmulo. — Às vezes, as situações mais complexas parecem tão absurdas que só podemos rir delas, não é mesmo?

Minha resposta é vaga, e eu sei disso. Mas, neste momento, é tudo o que posso oferecer. A verdade é que estou lutando com meus próprios demônios internos, debatendo-me com o dilema de revelar ou não minha verdadeira natureza para Catherine.

Ela me observa por um momento, seus olhos buscando alguma pista sobre o que realmente se passa em minha mente. Sinto-me vulnerável sob seu olhar penetrante, como se ela pudesse ver através de todas as minhas defesas e acessar os segredos mais profundos de minha alma.

— Aldric, você pode confiar em mim. — ela diz suavemente, colocando a mão sobre a minha com um toque reconfortante. — Se houver algo que esteja te incomodando, algo que queira compartilhar comigo, estou aqui para te ouvir.

Suas palavras são um bálsamo para minha alma atribulada, e eu me sinto grato por sua presença compassiva em minha vida. No entanto, a decisão de revelar ou não minha verdadeira natureza ainda paira sobre mim como uma sombra escura, me deixando dividido entre o desejo de proteger Catherine e a necessidade de ser honesto com ela.

Por enquanto, decido guardar meus segredos mais profundos, pelo menos até encontrar a coragem necessária para enfrentar as consequências de minhas revelações. Mas uma coisa é certa: com Catherine ao meu lado, sei que não estou sozinho nesta jornada, e isso é suficiente para me dar forças para continuar.

Com o coração batendo descompassadamente no peito, reúno toda a coragem que posso encontrar dentro de mim antes de decidir revelar uma parte da verdade que sempre mantive oculta. Encaro os olhos de Catherine com determinação, buscando força em seu apoio silencioso enquanto me preparo para compartilhar minha vulnerabilidade com ela.

— Catherine, há algo que eu preciso te contar... um segredo que tenho guardado por muito tempo — começo, minha voz vacilante revelando a turbulência de emoções que sinto dentro de mim. — A verdade sobre mim é que... eu uso lentes. Esses olhos verdes que você vê... eles não são naturais. Na verdade, apenas um dos meus olhos é verde.

A cada palavra que pronuncio, sinto um peso sendo retirado de meus ombros, como se finalmente estivesse libertando-me de uma carga que carreguei por tempo demais. Catherine me observa com uma expressão de curiosidade e compreensão, seus olhos transmitindo uma mistura de surpresa e empatia.

Antes que ela tenha a chance de responder, antes que eu perca a coragem que reuni com tanto esforço, decido dar o passo final em direção à verdade plena. Com mãos trêmulas, retiro as lentes que cobrem meus olhos, expondo minha verdadeira essência a ela. Um instante de silêncio paira entre nós, enquanto Catherine absorve a revelação com uma calma surpreendente. Seu olhar penetrante se fixa em mim, examinando cada detalhe de meus olhos únicos.

Então, finalmente, ela sorri gentilmente, uma expressão de aceitação e admiração iluminando seu rosto.

— Aldric, seus olhos são... incríveis — ela murmura, sua voz carregada de sinceridade e genuína admiração. — Eles são parte do que faz você ser quem você é, e eu os acho simplesmente fascinantes.

A incredulidade ainda ecoa em minha mente enquanto observo a reação de Catherine diante da revelação dos meus olhos singulares. Seu sorriso caloroso e seus olhos brilhando com admiração me surpreendem, inundando-me com uma sensação de alívio e gratidão. Como alguém pode aceitar tão facilmente algo que sempre considerei uma peculiaridade estranha?

Diante da sua resposta, uma risada nervosa escapa dos meus lábios, misturando-se ao murmúrio suave da floresta ao nosso redor. Ainda abalado pela revelação, mal consigo acreditar na sinceridade de suas palavras.

— Você realmente acha eles incríveis, Catherine? — pergunto, minha voz ainda trêmula com a emoção. — Não acha estranho, um ser dourado e outro verde?

Minha mente está repleta de dúvidas e incertezas, questionando se alguém pode realmente encontrar beleza em algo tão incomum e fora do comum. Mas, ao mesmo tempo, sinto uma pontada de esperança se formando dentro de mim, uma esperança de que talvez, apenas talvez, minha singularidade possa ser vista como algo especial, em vez de algo para ser temido ou evitado.

Catherine sorri gentilmente, seu olhar transmitindo uma aceitação inabalável. Com a voz calma e reconfortante, ela responde:

— Aldric, eu entendo que possa parecer estranho para algumas pessoas, mas para mim, seus olhos são simplesmente fascinantes. Eles são únicos, como você, e é isso que os torna tão especiais. Além disso, acho que a combinação de cores é incrivelmente bonita. É como se cada olho contasse sua própria história, adicionando profundidade e mistério à sua aparência.

Suas palavras são um alívio, dissipando as últimas sombras de insegurança e dúvida que ainda residem dentro de mim. É reconfortante saber que ela não apenas aceita, mas também valoriza a parte mais singular e autêntica de mim.

Com um sorriso grato, eu assinto, sentindo um peso sendo levantado de meus ombros.

— Obrigado, Catherine. Suas palavras significam mais para mim do que posso expressar — murmuro sinceramente, me sentindo verdadeiramente abençoado por ter alguém como ela ao meu lado.

Com um gesto gentil, Catherine segura minha mão, transmitindo uma sensação reconfortante de conexão e apoio. Com um olhar firme e determinado, ela diz:

— Não precisa agradecer, Aldric. E se há algo mais que você gostaria de compartilhar comigo, estou aqui para ouvir. Sempre.

Com um sorriso grato, eu a abraço, sentindo-me infinitamente grato por ter encontrado alguém tão compreensivo e amoroso como ela. Juntos, enfrentaremos os desafios que o futuro nos reserva, fortalecidos pela nossa conexão e pelo apoio mútuo.

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