CAPÍTULO 14

Os flashes não saíam da sua cabeça, deixando ele revoltado e amargurado pela dor que sentia. Sozinho abandonado pelo destino sem poder contar com mais ninguém. Sentiu um vazio no peito, sentindo-se uma das criaturas mais inútil do mundo, sua baixa estima tomou conta de si querendo se atirar da ponte que cruzava a cidade e morrer afogado dentro do rio, mas faltou coragem. E depois que saiu do salão aos prantos vagando pelas ruas da cidade de São Francisco. Júnior andava de um lado pro outro, com uma mágoa profunda invadindo a sua alma que aos poucos foi perdendo a sua calma, dominado pelo ódio embriagado depois de beber muito. Vencido pelo cansaço, caiu sobre a calçada e acabou dormindo. No baile, Nádia sentiu ausência dele, saindo à procura perguntando para suas amigas que num tom irônico diziam:

— Seu amigo bebeu tanto que deve estar dormindo por aí. — Nádia se sentiu culpada pelo acontecido, sentiu um peso na consciência, angustiada por incentivar a dançar com as suas amigas debochadas e preconceituosas filhinhas de papai. Triste pelo fato ocorrido com o seu grande amigo e saiu à procura de Júnior que estava dormindo ao relento acompanhado só pelo vento.

Ela então descobriu que Junior não era só seu grande amigo e sim o grande amor da sua vida. O seu desespero aumentou e saiu à noite gritando;

— Junior, cadê você? Preciso falar contigo! — Ele estava num bom sono dominado pela embriaguez, sequer ouviu a voz dela chamando pelo seu nome. — Nádia voltou à festa com o seu coração partido pela dor que sentia por se culpar pelo fracasso dele.

O dia amanheceu, e Júnior acordou com uma forte dor de cabeça e ressaca pelo porre tomado, ainda estava confuso sem saber o que havia acontecido na noite anterior, acreditando que sonhou e teve um pesadelo, mas se deu conta que não não foi um pesadelo e sim as cenas eram reais na medida que vieram à tona os flashes das humilhações que sofreu, e um raio de sol atingiu seu rosto, quando de repente tivera uma visão estranha à sua frente.

Era uma linda mulher morena de lábios carnudos com um batom vermelho e cabelos longos até as costas olhando para ele, e sorrindo acenando a mão direita para que ele a seguisse até a montanha, que ficava entre as duas cidades.

A de São Francisco e a Ilha das Bruxas, a montanha tinha mil metros de altura. Dava para ver as duas cidades ao mesmo tempo. Júnior ainda tonto pela ressaca do porre sentiu uma grande tristeza porque deu tudo errado e começou a lembrar da infância e adolescência, as rejeições de suas tias e por não saber onde estava a sua irmã Isabel, que estava no convento rezando e pedindo proteção ao seu irmão.

Isabel no convento acordou assustada pelo pesadelo que tivera com seu irmão, sentia-se angustiada e parecia estar adivinhando que o seu irmão estava passando pelo seu pior momento, os dois tinham uma conexão muito forte por serem irmãos gêmeos.

E Júnior com seu impulso curioso seguiu a tal mulher misteriosa, subindo até a montanha, ela estava vestida com um vestido preto com um chalé vermelho enrolado sobre o pescoço, deixando um doce perfume pelo caminho, atraído pela beleza da mulher por ser muito linda como nunca ele imaginou ver em toda sua vida, e se perguntou a si mesmo:

— O que está acontecendo comigo? Logo eu que fui rejeitado por todas do baile, e esta linda mulher me chamando para eu acompanhar? — Quando ele chegou à montanha dominado pela curiosidade e o encanto pela beleza da mulher misteriosa. E depois de ter chegado até lá, de repente por um descuido, a tal mulher desapareceu misteriosamente, para o seu desespero, ficou só o chalés vermelho quando um forte redemoinho de vento dançava em sua frente trazendo o chalés vermelho enrolando em seu pescoço fazendo sentir o doce perfume de mulher. Sentiu o cheiro dela e aquele sorriso que não saia da sua mente, e certamente seria marcado para sempre. Ele olhou para todos os lados, mas não enxergou mais ninguém. Quando surgiu inexplicavelmente um senhor com idade de 65 anos falando com um charuto sobre os lábios fumando e largando uma fumaça preta que parecia uma nuvem negra cobrindo a sua sombra, e disse: