MEU QUERIDO AVÔ

_Senhor Jones era o porteiro de minha cobertura, e aquele homem era a única pessoa ali que não me incomodava, pelo contrário todas as vezes que o via fazia questão de o cumprimentar. Confesso que senhor Jones era a minha pessoa naquele lugar, aquele homem me conhecia e sabia o que falar e não falar. A manhã estava realmente uma delícia, corri o suficiente para ficar bem suado. A areia da praia trazia uma serenidade, a água estava fria resolvi então da um leve mergulho. Quando de repente um dos seguranças resolveu me enterromper, eles nunca faziam isso. Na maior parte do tempo mal percebia a presença deles. Sai do mar totalmente irritado, e peguei o telefone da mão de um deles, sem me incomodar em saber quem era.

Alô! Porque me incomodar tão cedo meu avô?

_Temos um jantar de negócios hoje a noite. Se prepare e me encontre as 20:00 horas, não estou lhe convidando.

_Está me obrigando então?

_Entenda como desejar. É de seu total interesse, até mais.

_ Ele definitivamente queria me deixar louco e não estava nem um pouco a fim de me indispor com ele. Voltei para casa. Chegando a minha cobertura senhora Lupila já estava preparando meu café da manhã, apenas me cumprimentou como de costume.

_ Bom dia senhor! Seu café já está servido.

_ Obrigado. Logo após tomar meu café da manhã corri para o quarto e fui me preparar mais um longo dia de trabalho. Escolhi um terno claro como de costume. Tinha um voo para Washington, porém agora sabia que precisava voltar literalmente voando para encontrar vovô.

O dia corria normal nossos compromissos foram todos cumpridos e já se aproximava o horário do bendito jantar.

Tomei um bom banho, e fui escolher a roupa que usaria, tentei escolher uma roupa mais casual porém acabei usando um terno como de costume, escolhi as abotoaduras, um relógio e logo estávamos saindo, resolvi que queria ir dirigindo meu Rolls-Royce, logo estava correndo cortando o trânsito, que bom que escolhi esse carro ou chegaria atrasado, e vovô odiava atrasos. Cheguei ao restaurante faltando poucos minutos para o horário marcado, ele me esperava em um canto reservado, me olhando de cara feia ao olhar o relógio de bolso. O beijei o cumprimentando.

_ Olá Oliver, achei que teria que ir o buscar em casa.

_Olá vovô. Sei que deve está morrendo de saudades de mim, mais poderia ir direto ao ponto.

_ Você irá se casar.

_ Com um movimento meio involuntário levantei fazendo menção que iria embora. Ele bateu com sua bengala no chão e disse ríspido a voz como um trovão.

_ Senta, não ouse me desafiar seu moleque insolente, estou a beira da morte, mais ainda não morri.

VOVÔ 👴

Meu avô era um velho ríspido, briguento, rabugento diria, porém era a única pessoa que sempre tive como família. Meus pais morreram quando tinha apenas 16 anos em um acidente de trânsito, meu avô nunca superou essa perca, ele sempre cuidou muito bem de mim, até a catástrofe de meu casamento, quando me casei o velho ficou todo feliz, quando Heloisa engravidou Vovô não se aguentava de tanta alegria, até que aconteceu o triste incidente que veio a ceifar sua vida, e como ele não fui capaz de superar, passei dias sem sair de casa, não comia, não trabalhava, quando comecei a sair a única coisa que sabia fazer era destruir tudo a minha volta, bebia noite e dia, meu avô tentou de todas as maneiras me fazer me reerguer do fracasso que me tornei, por último veio a falência, o velho já sem controle nenhum tentou me internar, também sem êxito, meu avô já não sabia mais o que fazer até que me enviou a um velho amigo, nosso então único sócio restante. O homem me olhando e vendo o fracasso que restava de minha figura patética, me abriu um sorriso e me prometeu o mundo inteiro, com a promessa de que anos depois voltaria para me cobrar. Ali firmamos um contrato, que nos trouxe até os dias de hoje.

Meu avô ainda é o mesmo homem de sempre, porém sei que o velho lá no fundo da alma me ama como se fosse a primeira vez que me segurou em seus braços.