Os dias passaram, e logo chegou a temporada em que Tristan me dedicaria seu tempo e conhecimento para me treinar. Ele considerava que já estávamos bem estabelecidos em nossa nova moradia e que era o momento ideal para começarmos a desenvolver nossos planos para o futuro incerto que se desenrolava diante de nós.
Durante os dias de treinamento, Tristan me levava até uma parte da praia, um local isolado, um refúgio tranquilo onde quase ninguém costumava ir. Ao chegarmos lá, descalçávamos nossos sapatos e deixávamos a areia acolhedora abraçar nossos pés.
Enquanto as ondas batiam suavemente na praia, Tristan começava a me ensinar técnicas de combate. Sua abordagem era paciente e dedicada, e eu absorvia cada movimento com concentração intensa. Seus músculos se contraíam de forma graciosamente poderosa enquanto demonstrava os golpes, e eu não podia deixar de admirar sua forma física e habilidade marcial.
À medida que os dias passavam, uma cumplicidade crescia entre nós. Tristan não apenas era meu mestre de combate, mas também meu confidente e amigo.
Seu toque era firme e suave ao corrigir minha postura ou movimento.
— Lembre-se, Aveline, a postura é fundamental. Mantenha os pés firmes no chão e os ombros relaxados. Assim você terá mais estabilidade e poderá se movimentar com mais agilidade — ele explicava, demonstrando os movimentos com precisão.
Eu assentia, absorvendo suas palavras com determinação.
— Entendi, Tristan. Vou me concentrar na postura — respondi, tentando imitar seus movimentos da melhor maneira possível.
À medida que praticávamos, uma sensação de confiança começava a surgir em mim. Sentia-me mais forte e capaz a cada golpe executado sob a orientação de Tristan. Sua voz calma e encorajadora me motivava a dar o meu melhor.
Após algumas tentativas, ele se aproximou e corrigiu levemente minha posição.
— Isso mesmo, você está indo muito bem, princesa. Só precisa manter os punhos mais cerrados e os movimentos mais fluídos — ele disse, ajustando minha postura com cuidado.
Enquanto treinávamos sob o sol quente da praia, o brilho dourado refletido em sua pele fazia com que ele parecesse ainda mais irresistivelmente belos. Seus olhos, intensos e determinados, encontravam os meus com uma lume que me fazia perder o fôlego por um instante. Mas deveria buscar esquecer isso, e me concentrar em meus desafios.
À medida que o sol pintava o céu com tons dourados, nos acomodamos na areia, deixando nossos corpos relaxarem após o intenso treinamento. O som suave das ondas quebrando na costa criava uma melodia tranquilizadora, acompanhando nossas conversas.
— Como se sente, Aveline? Está progredindo rapidamente — Tristan perguntou, seu sorriso encorajador aquecendo meu coração.
— Sinto-me melhor a cada dia, Tristan. Os treinos têm sido incrivelmente úteis. Além de aprimorar minhas habilidades de combate, percebi que eles também têm me ajudado a controlar minhas emoções. As chamas estão se tornando menos frequentes, e estou começando a entender melhor como canalizá-las.
Tristan assentiu, compreensivo.
— Controlar o que sente é fundamental para um guerreiro. É o equilíbrio entre a mente e o corpo que nos torna verdadeiramente poderosos. Estou feliz em ver seu progresso, Aveline. Você está se tornando uma guerreira excepcional.
Senti um calor reconfortante se espalhar dentro de mim, impulsionado pelas as suas palavras gentis.
Foi então que olhei para a areia, perdida em meus pensamentos por um momento.
— Você pensa em Isolde com frequência, Tristan? Ainda a ama? — perguntei, sentindo um aperto no peito ao mencionar o nome dela.
Tristan suspirou, seu olhar distante por um instante antes de se voltar para mim.
— Isolde... Ela foi uma parte fundamental da minha vida. Conhecemo-nos desde que éramos apenas crianças, e nossa história juntos atravessou décadas. Sim, ainda a amo. Mesmo depois de sua partida, seu amor continua a ecoar em meu coração, moldando quem sou.
Tristan fez uma pausa, como se relembrasse cada detalhe da história que compartilhou com Isolde. Seus olhos refletiam dor e a saudade.
— É impossível esquecê-la — continuou ele, com a voz embargada pela emoção. — Tivemos um filho juntos. Um filho que nunca pôde respirar, nunca pôde sorrir, nunca pôde viver. Mas, ainda assim, será meu filho para sempre, presente em cada batida do meu coração, em cada suspiro que dou.
Enquanto olhava para Tristan, uma onda de tristeza me invadiu. Primeiro, pela história dolorosa que ele compartilhara comigo. Ambos havíamos perdido toda a nossa família.
Segundo, porque estava claro que o lugar dela em seu coração seria para sempre inabalável. Não havia sequer uma chance de competir por um espaço ali. E se houvesse, eu não deveria nem considerar essa possibilidade. Meu foco deveria estar em canalizar minhas energias para minha vingança, em fazer aqueles traidores pagarem, por mais atraente que Tristan fosse.
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Atualizado até capítulo 56
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