Capítulo 14

São dez horas da noite quando termino de escovar os dentes. Margaret de Lana del Rey toca na minha caixa de som Bluetooth.

Saio do banheiro. Vou até a cozinha e pego um copo d'água. Vou para o meu quarto e, na mesa da sala de jantar, o buquê de dálias ainda está vivo. As flores começam a murchar e há pétalas caídas.

—Por que essas coisas acontecem comigo? —pergunto às flores.

Pego as pétalas caídas e minha mente traz a conversa que tivemos hoje. Christian é um homem de coração sensível. Como fui aceito em sua empresa? Por que terminei fazendo meu estágio lá? Por que tivemos que nos conhecer?

Mas a pergunta mais importante ainda não havia sido feita.

—O que vai acontecer conosco no futuro?

Porque, sinceramente, acho que estou vivendo uma fase que não imaginei viver. E o que vai acontecer comigo? Será bom ceder aos sentimentos que estamos criando? Seremos felizes se decidirmos ficar juntos?

Deixo escapar um suspiro. Me sinto feliz! E, em parte, me sinto assim porque acho que estou apaixonado. Será bom se sentir assim?

...🍬🍬🍬...

—Bem-vindo! —é a primeira coisa que digo a Christian quando ele chega ao seu escritório—. Bom dia!

Ele coloca as mãos escondidas atrás das costas e, depois de alguns segundos, as estende para mim. É uma barra de chocolate!

—Para você! —diz ele.

Seu gesto me faz sentir muito bem no fundo da minha alma.

—Obrigado!

Ele assente e caminha até sua cadeira. Senta-se.

—Qual é a agenda para hoje?

Abro sua agenda e a entrego para que ele mesmo a analise. Nossas mãos se tocam na troca!

—Você gosta muito de doces, né?

—Sim. Mas chocolate é meu favorito!

Ele assentiu. Analisou sua agenda.

—Você vai me acompanhar nas minhas reuniões de hoje?

—Você quer que eu vá com você?

Ele sorriu.

—Claro. Afinal, você é meu secretário. Você deve estar atrás de mim.

—Tudo bem. Eu irei com você.

—Às onze nós vamos.

Assenti.

—Vou verificar outras pendências.

—Claro.

Eu me virei para sair.

—Juls —desta vez, sua voz pronunciou aquele nome que irradiava carinho por mim.

—Sim?

—Eu quero ver você comer o chocolate.

—Agora?

—Não. Quando você pensar em comer seu chocolate, eu quero ver você. Eu gosto de te ver comer!

Eu ri.

—Ainda não entendi porque você diz isso. O que há de tão especial em me ver comer?

O celular dele começou a vibrar.

—A propósito, minha mãe adorou as flores! Eu disse a ela que você as escolheu!

—Sério?

Ele assentiu. Atendeu a chamada. Saí do seu escritório. Caminhei até minha mesa com o chocolate nas mãos e um sorriso largo causado por Christian.

—Por que você está sorrindo? —Erick me pergunta.

—Por nada.

—O chefe contou uma piada?

—Talvez.

Ele abaixou o olhar para a minha mão e viu o chocolate.

—Você me dá um pouco do seu chocolate?

—Não, é que…

Mas ele não se importou e tirou de mim. Ele o abriu rapidamente, levou à boca e me deixou em choque. Por que ele comeu meu chocolate?

—Está muito bom! Onde você comprou?

—Eu…

Christian saiu do seu escritório.

—O que está acontecendo aqui? —perguntou o chefe.

—Bom dia, chefe! —cumprimentou Erick—. Eu estava perguntando a Julen sobre o lugar onde ele comprou este chocolate, está muito bom.

Instantaneamente, Christian voltou seu olhar para mim e eu estava muito desapontado.

—Ele não comprou esse chocolate.

—Não?

—Eu dei para ele! —a voz do chefe era autoritária.

Ele estava chateado com o que aconteceu? Erick pareceu ficar envergonhado.

—Eu não pensei que…

—Está na hora de irmos —Christian se dirigiu a mim.

O chefe começou a andar, Erick ficou me olhando.

—Desculpe, eu não sabia que ele tinha te dado…

—Pelo menos você gostou —eu me limitei a dizer.

...🍬🍬🍬...

Enquanto Gilberto dirigia, estávamos em silêncio. A essa hora, a cidade estava tranquila e o calor começava a esquentar o ambiente.

Christian digitava em seu celular. Eu olhava pela janela e nenhuma música tocava para relaxar o ambiente.

—Minha mãe nos convidou para almoçar na casa dela —diz ele.

—Sério?

—Ela quer ver seu amigo de copo.

Fiquei em silêncio. Apenas concordei, mas não estava me sentindo bem assim.

—Eu…

—Eu te dou outro chocolate. Sem problemas! —disse ele.

—Eu…

—Agora só posso te dar um pirulito —e do bolso interno do paletó, ele tirou um pirulito.

Ele me ofereceu.

—Obrigado! —eu sorri.

Desembrulhei o pirulito e o coloquei na boca.

—Você escolhe a sobremesa. Eu quero que você escolha.

—Escolher a sobremesa?

—Sim. O que você gostaria de levar para a casa da minha mãe?

O sabor de cereja doce dominava minha boca.

—Um pote de sorvete? Está fazendo calor.

—Parece-me bem. Gilberto, leve-nos para comprar sorvete.

Entramos no Costco.

—Já que estamos aqui, vou fazer algumas compras para minha casa —diz ele.

Suas mãos pegam um carrinho de compras.

—Se você quiser, eu posso levar —me ofereci para pegar o carrinho.

—Não. Aproveite esse pirulito.

Ele pegou uma caixa de leite. Comprou café. Algumas garrafas de vinho. Ele foi até a farmácia. Fomos buscar o sorvete. Pão. E…

—Você gosta dessas flores?

—Tulipas holandesas?

—É assim que elas se chamam?

—Sim.

—E se eu te comprar um buquê? —sua voz era sedutora.

—Como você quiser.

Ele se aproximou do balcão, pegou um buquê de tulipas vermelhas e se abaixou repentinamente na minha frente. Fiquei nervoso!

—O que você está fazendo? —Tentei fazê-lo se levantar.

As pessoas ao nosso redor estavam nos olhando.

—Juls.

—Christian.

—Você aceitaria este buquê de tulipas que quero te dar? —Ele moveu as sobrancelhas de forma sedutora.

Seu gesto me fez corar.

—Sim, mas se levante. As pessoas…

Ele se levantou rapidamente e aproximou o rosto do meu ouvido direito. Meu nariz roçou seu ombro e o cheiro de suas roupas era delicioso. Fez meu coração disparar!

—O que você sente por mim? —ele sussurrou.

—Eu…

—Eu te deixo nervoso?

—Sim.

—Excelente! Esse é um bom sinal.

E ele se afastou de mim com um largo sorriso. Era a primeira vez que o via sorrir assim!

...🍬🍬🍬...

—Que bom te ver de novo! Eu disse ao Christian para te trazer o mais rápido possível. Eu queria te ver de novo.

—Muito obrigado pelo convite! Juliana, agradeço muito.

Ele assentiu.

—Bem. Vamos aproveitar a comida.

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