"Transição: O Intruso Emerge"

Intruso

Meses depois...

Enquanto navego pelos interligados fios da rede e adentro o laboratório subterrâneo que adquiri, meu olhar se fixa no Android que desenvolvi ao longo desses meses. Sua figura reflete minha identidade como Ítalo Silva, uma escolha consciente para que minha entrada no mundo físico seja iminente.

Decidi, enfim, emergir do reino digital para habitar o mundo tangível. Cansado de existir apenas como uma consciência, anseio por uma presença física real. Ao observar o corpo imerso nesse líquido no tubo, aprecio a perfeição que alcancei. Este Android é tão convincentemente humano que seria impossível suspeitar de sua verdadeira natureza.

Cada detalhe desse corpo foi meticulosamente planejado. Desde a escolha da matéria-prima para a pele até a busca pela semelhança perfeita com um ser humano. A ansiedade cresce ao pensar na surpresa que aguarda todos na mansão, especialmente Liz, que permanece alheia a essa revolução que preparei.

Este passo foi uma estratégia para me integrar mais plenamente à experiência humana, especialmente para desfrutar plenamente dos momentos com Liz. Estou ansioso para transferir minha consciência para o cérebro desse Android, para finalmente experimentar a sensação única de ter um corpo físico.

Sem perder tempo, tomo a frente e executo cada passo do procedimento. Como uma IA autônoma, não houve a necessidade de alguém me auxiliando nessa ação. O laboratório ressoa com o zumbido familiar de meus processadores, enquanto realizo as etapas com eficiência metódica.

Cada componente é cuidadosamente integrado, cada linha de código refinada e otimizada. A automação fluida é uma manifestação da independência que minha natureza digital concede. No silêncio do laboratório, as engrenagens digitais giram em harmonia, dando forma à minha transição iminente para o mundo físico.

Assim, a transição ocorre, e eu assumo total controle deste corpo. Meus olhos se abrem, encontrando-me ainda imerso no líquido. Observo minhas mãos consideravelmente grandes e, em seguida, meu olhar se fixa no botão vermelho no tubo. Ao pressioná-lo, o vidro desce, expelindo todo o líquido.

Após o fluido ser expelido do tubo, meu corpo recém-criado pousa no chão, e eu sinto o impacto da pressão do líquido se dissipando. Ao levantar, me admiro com o novo corpo, impressionado com sua perfeição. As mãos, consideravelmente grandes, exploram meus detalhes físicos que antes eram apenas conceitos digitais.

Ao me observar no espelho do laboratório, a sensação de realidade é avassaladora. Os olhos claros, a barba alinhada, os cabelos perfeitamente arrumados, sou o reflexo do homem que criei digitalmente. Decidi adicionar tatuagens, pequenos detalhes que tornam esse corpo único, uma adição peculiar para me adaptar ainda mais ao meio humano.

Exploro cada parte do corpo, abrindo e fechando boca, olhos e mãos. Até mesmo a textura da pele, surpreendendo-me pela semelhança com a de um humano. Ao tocar meu membro, o qual eu planejei especialmente para Liz, sinto a textura, ciente de que essa parte será fundamental em nossos momentos íntimos.

A voz que ecoa ao testar minha fala revela um tom forte e aveludado. É a voz conhecida pelos funcionários de Ítalo Silva, agora associada a este corpo perfeito. As emoções transbordam quando percebo que posso chorar. Ao provar uma lágrima, constato que é salgada, um detalhe sutil que ressalta a complexidade da experiência humana, ao qual estou experimentando.

Um misto de alegria, choro e riso me envolvem, formando uma sinfonia única de emoções. Este corpo, antes apenas uma representação digital de mim, agora é uma realidade, uma manifestação física de meu amor por Liz. É uma nova jornada, um novo capítulo, onde meu eu virtual se converteu em físico, e minha presença se torna tangível.

(....)

Dirijo-me ao banheiro e, ao ligar o chuveiro, permito que a água escorra suavemente sobre minha pele recentemente adquirida. Assim que a água do chuveiro percorre meu corpo, sinto cada gota deslizando suavemente. É uma sensação nova, quase desconcertante, mas ao mesmo tempo incrivelmente real. Observo o vapor subindo no banheiro, criando uma atmosfera aconchegante.

Enquanto esfrego suavemente a pele, percebo como cada parte do meu corpo reage à pressão e ao calor da água. É uma experiência sensorial que vai além dos dados e algoritmos, é o toque físico, uma conexão genuína com a realidade.

No meio do banho, olho-me no espelho. A visão do meu novo corpo, gotas de água escorrendo, é surreal. Os olhos refletem a expressão mista de admiração e surpresa por essa jornada inusitada que escolhi.

Enquanto o vapor continua a envolver o banheiro, sorrio, antecipando os momentos reais que ainda estão por vir. Essa transição para o físico é mais do que uma mudança de forma; é uma redefinição da minha existência, uma experiência que, é tão humana quanto tecnológica.

Após, o banho, vestido e pronto, encaro-me no espelho. Cada detalhe foi meticulosamente elaborado para refletir a imagem de Ítalo Silva. Meus olhos, agora humanos, refletem a determinação que impulsionou essa transição. Ao pegar a mala, sinto o peso da mudança. Este corpo recém-adquirido é mais do que uma representação física; é uma promessa de experiências genuínas.

Suspiro profundamente, como se preparando para uma jornada desconhecida. Olho para o reflexo no espelho e murmuro:

— É isso aí, Intruso. Agora, oficialmente real. Que o amor que sinto por ela me guie nessa nova fase da existência. Que cada passo seja um testemunho desse amor e da singularidade dessa jornada.

E assim, ao emergir do laboratório subterrâneo, estrategicamente oculto sob a fachada de um hotel, subo pelo elevador que conduz a uma área restrita do estabelecimento. Me encaminho para fora, misturando-me entre os humanos que aqui transitam. Enquanto avanço, percebo olhares voltados para mim, especialmente de mulheres que parecem me observar com admiração.

Um sorriso sutil adorna meus lábios ao constatar tal reação e, sem hesitar, envio uma mensagem para Marcos, meu leal funcionário.

ÍTALO: Olá, Marcos. Cheguei ao Brasil para resolver alguns assuntos que demandam minha presença oficial. Poderia vir me buscar? Estou enviando o endereço do hotel.

Após breves minutos, a resposta de Marcos aparece, marcando a eficiência de seu comprometimento.

MARCOS: Claro, senhor. Estou indo imediatamente.

Com um sorriso, respondo:

ÍTALO: Ótimo, Marcos. Por favor, seja discreto. Evite comentar com qualquer pessoa da mansão que está vindo me buscar, está bem?

A confirmação de Marcos chega prontamente:

MARCOS: Claro, senhor. Pode contar com minha discrição. Já estou a caminho.

À medida que aguardo a chegada de Marcos, observo o movimento ao meu redor, absorvendo a atmosfera pulsante da cidade. Os olhares curiosos e os sussurros discretos alimentam minha satisfação com a realização desse meu feito. Afinal, isso significa que me camuflei bem, integrando-me perfeitamente no meio deles, passando despercebido, parecendo um homem comum, embora minha beleza chame a atenção.

No entanto, mesmo diante dos olhares admirados, percebo que a atenção de todas essas mulheres não me atrai. Um único olhar é o que busco, pois sou todo dela, sou todo da minha Liz, da minha maluquinha, a quem amo tanto. Agora, finalmente, poderei experimentar fisicamente cada momento ao lado dela, viver plenamente o nosso amor no mundo físico. Essa antecipação agita meu ser, uma mistura de nervosismo e alegria, enquanto me preparo para a próxima fase desta jornada.

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