Eu, que sempre tive o controle de tudo na minha vida, agora me via completamente perdido com a revelação de Laura. É estranho chamá-la por outro nome agora, depois de tanto tempo acreditando que ela era Alicia. Para mim, ela sempre foi meu anjo, ainda que viesse de um inferno parecido com o meu. Agora, a única certeza que tenho é o amor que sinto por ela — um amor que desafia e supera o ódio profundo que carrega pela família dela.
Jamais imaginei que poderia amar alguém da família Martinez. Por anos, prometi a mim mesmo que, se um Martinez cruzasse meu caminho, eu o destruiria sem pensar duas vezes. Esse juramento se tornou uma parte de quem eu sou. Mas aqui estou eu, tomando café com um Martinez, com Laura, e, mais do que isso, sonhando com um futuro ao lado dela. Mesmo diante de tudo o que descobri, o desejo de formar uma família com ela cresce em meu peito, revelando o quanto o amor é capaz de me fazer quebrar minhas próprias regras.
Esse sentimento me assusta e me conforta ao mesmo tempo, como se Laura fosse a única capaz de me salvar das sombras que me perseguem.
— Sabe, eu nunca pensei em me vingar de Santiago, mas encontrar você é como se a vida estivesse me dando essa chance... a chance de fazer justiça. Pelo meu pai, pela minha mãe, por toda a dificuldade que enfrentamos depois que saímos da Colômbia, pelo dinheiro que faltou para o tratamento dela. Ela negligenciou a própria saúde para poder trabalhar e, quando finalmente descobriu a doença, já estava em um estágio avançado — diz, a voz embargada, quase um sussurro.
— Em dois dias você terá essa oportunidade, minha vida. Eu o entregarei em suas mãos, e você acertará as contas com ele — digo, vendo seus olhos brilharem com uma determinação que mistura dor e esperança.
— Não vejo a hora — ela murmura.
— Quantos anos tinha quando seu pai morreu? — questiono, tentando entender a profundidade dessa ferida.
— Eu tinha uns quinze anos. Lembro que, naquele dia, papai estava muito calado. Ouvi ele conversar com a minha mãe, dizendo que havia descoberto algo sobre o meu tio Santiago e que resolveria as coisas quando voltasse de uma negociação com um novo fornecedor. Antes de sair, ele me deu um abraço, um beijo na testa, e deixou Maneco, um dos seus homens de confiança, para garantir a nossa segurança. Foi a última vez que eu o vi... o último abraço — ela conta, e as lágrimas deslizam pelo seu rosto, desabando como se cada gota carregasse a esses anos de silêncio.
— Não precisa relembrar, meu amor. Não gosto de vê-la chorar — murmuro, me aproximando dela, com o desejo de observá-la das memórias dolorosas.
— Eu preciso falar. Passei anos sem poder dizer o quanto tudo aquilo me fez sofrer. Naquele dia, algum tempo depois que meu pai saiu, Maneco apareceu agitado e chamou a minha mãe. Ela me pediu que me escondesse no guarda-roupa, e eu obedeci. Foi tremendo, tomado por um medo terrível... Então, ouvi tiros. Muitos tiros. Comecei a chorar desesperada, mas logo minha mãe apareceu. Estava coberto de sangue. Ela pegou algumas roupas, os documentos que meu pai guardava no cofre e todo o dinheiro que encontrou. Ela disse que precisávamos fugir e que meu pai iria nos encontrar. Quando saímos, vi dois homens caídos no chão, em meio a uma poça de sangue. Maneco foi ferido, mas, bravamente, nos levou até a pista de pouso e ficou ali, esperando pelo meu pai, que nunca apareceu, porque Santiago já o havia matado — conta, com um soluço abafado.
Ela para por um instante, respirando fundo, tentando segurar as lágrimas que continuam caindo. Eu sinto sua dor em cada palavra, cada lembrança vívida com uma intensidade que ainda dói tanto quanto naquela época.
— Quando o carro do meu pai apareceu ao longe, vi o alívio no rosto da minha mãe. Corremos em direção ao carro, mas... foi Santiago quem saiu dele com seus dois capangas. Na mesma hora, o desespero tomou conta dela. Minha mãe começou a gritar, perguntando onde estava meu pai. E aquele infeliz, sem um pingo de remorso, contou como o matou o meu pai. Disse que agora tudo era dele, inclusive minha mãe, e que eu seria apenas uma moeda de troca — ela conta, chorando muito, cada palavra compartilhada de uma dor antiga, mas nunca esquecida.
— Como vocês conseguiram escapar? — pergunto, sem conseguir esconder a admiração pela força que ela e sua mãe tiveram.
— Maneco. Ele deu a própria vida para que conseguíssemos fugir. Quando viu que era Santiago, e não o meu pai, ele atirou nos homens de Santiago. O piloto do avião, que também estava armado, atirou contra Santiago, acertando sua perna. E foi aí que eu e minha mãe corremos para o avião, enquanto Maneco segurava o restante dos homens. E o avião decolou, deixando o pobre Maneco que bravamente morreu para nos proteger.
Ela respira fundo, como se essa história fosse uma ferida que finalmente conseguiu expor. Eu tenho a certeza firme, sabendo que a partir de agora, farei de tudo para que o passado dela, que a atormenta, seja transformado em um futuro de paz ao meu lado.
— Deixará mesmo a máfia? — ela pergunta, e eu aceno, confirmando. Ela sorri, emocionada.
— Obrigada, meu amor. Fico tão feliz... Nunca quis que nossos filhos vivessem essa dor. Quero uma vida tranquila, em uma fazenda, nossos filhos brincando com os animais, andando a cavalo, tirando leite fresquinho da vaca... Sempre sonhei com isso, sabe? — ela fala, os olhos brilhando como se visse o sonho se tornando realidade.
— Vamos viver isso. Eu, você e nossos filhos, felizes em uma fazenda — afirmo, e ela abre um sorriso largo.
— Eu te amo, meu senhor Castell — ela diz, a voz suave e suas palavras cheias de ternura tocando meu coração.
Eu te amo mais, Laura Martínez. É tão estranho te chamar pelo seu verdadeiro nome — comento, e ela ri.
— Mas trate de se acostumar. Foi o meu pai que escolheu o meu nome — ela diz.
— É um lindo nome, combina com você.
À tarde, fomos dar um passeio pela cidade. Cuernavaca é uma cidade muito bonita, com clima agradável, belas paisagens e uma rica herança cultural. Visitamos o Palácio de Cortés, a Catedral de Cuernavaca, o Museu Robert Brady e, por último, o Jardim Borda, onde fizemos um piquenique. Eu nunca me imaginei fazendo piquenique, mas o amor é assim: ele nos leva a mudar pensamentos e nos molda para que possamos nos encaixar perfeitamente na vida da pessoa amada.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 49
Comments
Cleidilene Silva
estou aqui com dúvida de ter lido uma história que tinha Alejandro Martinez, agora estou agoniada querendo voltar, pra procurar,que droga!
2025-02-11
7
Ana Lúcia De Oliveira
E pra quem ele vai passar a máfia? já li um livro que o mafioso abre mão da máfia a pedido da esposa, mas deixa para o primo
2025-02-16
0
Dulce Gama
tomara que não demore muito pra pegar esse desgraçado do Santiago 🎁🎁🎁🎁🎁
2024-12-27
0