Seis meses depois...
A dor da perda da minha mãe ainda era intensa. Embora eu tentasse seguir em frente, a saudade era esmagadora, e, às vezes, eu ainda me pegava chorando. Desde o dia em que estive na casa do Sr. Ramon, não o vi mais. Ele me deu três meses de descanso, e eu achei que, ao voltar ao trabalho, o veria com frequência. No entanto, sempre que chegava ao escritório, ele já estava em sua sala, e quando eu saía para almoçar, ele já tinha ido embora. Nossa única comunicação era por telefone. Era estranho, mas eu sentia uma vontade enorme de vê-lo.
Era mais um fim de tarde. Fechava o escritório para ir embora. Santos, como de costume, deveria me buscar, mas hoje, logo no dia em que chovia muito, o carro dele quebrou. Saí do escritório e, lá fora, o vento forte misturado à chuva era demais para o meu frágil guarda-chuva, que se quebrou com a força do vento. Não havia táxis à vista, então tirei meus sapatos para não estragá-los – eram os únicos adequados para o trabalho – e os guardei na bolsa. Comecei a caminhar em direção ao ponto de ônibus quando percebi um carro se movendo devagar ao meu lado. Olhei para ele com cautela, era um veículo desconhecido, com vidros escuros. Meu instinto me mandou correr, até que ouvi aquela voz grave e familiar.
— Alicia — o Sr. Ramon me chamou. Meu coração quase saltou do peito. Parei e olhei para ele. Seu semblante estava mais triste que o habitual, mas ele me deu um meio sorriso. — Entre, eu te levo para casa — ele ofereceu a carona.
— Não, senhor. Obrigada, mas estou encharcada e não quero molhar o seu carro — respondi, hesitante.
— Não tem problema, venha, eu insisto — ele falou. Embora eu quisesse muito aceitar e ficar perto dele, hesitei.
— Não se preocupe, o ponto de ônibus está logo ali e o ônibus deve passar em breve — disse. Ele, porém, balançou a cabeça em negação e, para minha surpresa, saiu do carro em meio àquela tempestade. Parou na minha frente, desafiando a chuva.
— Você tem duas opções: ou entra no carro e vai comigo, ou eu faço companhia enquanto você espera o ônibus — ele disse em tom divertido, seu rosto suavizando com um leve sorriso.
— Não tem uma terceira opção? — perguntei, rindo.
— Não, venha. Vamos — ele respondeu, abrindo a porta do carro. Sem mais hesitar, entrei.
De volta ao volante, ele passou a mão pelos cabelos, tentando tirar o excesso de água.
— Se eu soubesse que você sairia do carro naquela chuva, teria aceitado a carona de primeira — brinquei, e ele estreitou os olhos, ainda com humor.
— Agora corro um sério risco de ficar doente, e se isso acontecer, você terá que cuidar de mim — ele disse, rindo.
— E se eu também ficar doente? — perguntei.
— Então faremos companhia um ao outro, e a Carmen terá que cuidar de nós dois — ele respondeu, brincando.
— Coitada da Carmen, ter que cuidar de dois doentes! — provoquei, e nós dois rimos.
Ele deu partida no carro. A chuva parecia piorar, e, ao ligar o rádio, o radialista anunciava os pontos da cidade que estavam alagados e intransitáveis. Um desses lugares era justamente onde eu morava.
— Parece que não será possível te levar para casa hoje. Se seguirmos por outra rota, posso te levar para o meu apartamento, que fica aqui por perto — ele disse, e eu fiquei um pouco apreensiva, mas não havia outra escolha.
— Tudo bem, acho que não temos outra opção — concordei.
— Exato, não temos — ele confirmou, fazendo o retorno.
Vinte minutos depois, chegamos ao edifício onde ele tinha um apartamento. Entramos pela garagem, e pegamos o elevador. Ele apertou o botão da cobertura.
Dentro do elevador, meu olhar se fixou nos nossos reflexos nas portas de metal. O espaço parecia se comprimir, menor do que realmente era, e eu me sentia nervosa e tímida sob o olhar atento do Sr. Ramon. Meu coração batia acelerado no peito, e o silêncio entre nós só aumentava a tensão que eu estava sentindo.
— O senhor estava sumido... faz tempo que eu não o via — comentei, tentando puxar assunto para aliviar a pressão que parecia tomar conta de mim.
— Estive resolvendo algumas questões, por isso passei muito tempo no meu escritório — ele respondeu calmamente.
— Engraçado... nós dois trabalhando no mesmo ambiente e eu não o via pessoalmente. Só sabia que estava lá porque atendia suas ligações para o escritório. Às vezes, pensei que estivesse me evitando — soltei de uma vez, falando mais do que o necessário, talvez pelo nervosismo.
Ele deu uma risada leve e parecia prestes a dizer algo, mas desistiu assim que a porta do elevador se abriu.
Saímos juntos, e a atmosfera que antes era tensa parecia ter suavizado um pouco. O Sr. Ramon caminhava à minha frente, guiando-me pelo corredor elegante até o apartamento. Ele abriu a porta e fez um gesto com a mão para que eu entrasse primeiro.
— Você nunca deveria pensar que eu estava evitando você, Alicia — disse ele, quebrando o silêncio de forma inesperada enquanto fechava a porta. — Se tem algo que eu nunca quis foi me afastar de você.
Suas palavras me pegaram de surpresa. Havia algo naquela declaração que soava diferente, carregado de um peso que eu não conseguia entender completamente. O que ele estava tentando dizer? Meu coração, já acelerado, agora batia ainda mais forte.
O apartamento era luxuoso, com uma vista incrível da cidade. As luzes lá fora cintilavam sob a chuva pesada, e o som distante das gotas batendo nas janelas era quase reconfortante.
— Venha, precisamos tirar essas roupas encharcadas — ele disse, segurando minha mão e me conduzindo pelo corredor.
Ele abriu a porta de um dos quartos e gesticulou para que eu entrasse.
— Fique à vontade. Tem toalhas e um roupão no armário. Quando terminar, traga suas roupas, eu vou colocá-las na secadora — ele disse calmamente, mas minha mente parou por um segundo. Ficar apenas de roupão?
Fiquei um pouco apavorada com a ideia. Olhei ao redor do quarto, tentando processar o que fazer. Não vou sair desse quarto até que minhas roupas estejam secas, pensei. Eu não sabia como lidar com aquela situação.
Tirei minhas roupas molhadas e tomei um banho quente. Depois, vesti o roupão e me sentei na cama. Por mais que o roupão cobrisse meu corpo, eu me sentia nua, apenas por saber que o senhor Ramon sabia que eu não tinha nada por baixo dele. Após algum tempo ali sentada, ele bateu à porta, me chamando.
— Está tudo bem aí? — perguntou.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 49
Comments
Arilene Vicente
Alicia minha querida vc tá de roupão, agora se vc quiser é só tirar e se atirar nos braços desse gato 😊😊😊
2025-03-12
0
Cleide Almeida
nossa creio q Ramon todo este tempo tem evitado ela mas cm ela assim claro q ñ tem como evitar ajudar
2025-03-10
0
Fatima Maria
EITA QUE COISA ESTÁ FICANDO APERTADO PARA OS DOIS. ELES NÃO SABEM SE VAI OU FICA.
2025-02-21
5