Enterro...
Eu estava ali, observando Alícia destruída. Ela chorava e desmaiava enquanto o caixão da sua mãe descia na cova. Santos ficou ao lado dela, oferecendo apoio, mas eu, escondido atrás de uma árvore, assistia angustiado ao sofrimento dela. A dor que ela sentia parecia insuportável.
Ramon Castell
— Que se foda tudo! — eu exclamei, não aguentando mais vê-la assim. Saí de onde estava e fui até Alícia.
— Não vai, chefe! — Cristóvão me advertiu, mas já era tarde demais. Eu não poderia deixá-la sozinha.
Aproximando-me, fiquei surpreso quando ela veio até mim e me abraçou. Estava tão frágil, tão pequena em meus braços. Após jogar a última terra, ela deitou sobre o chão e começou a chorar. O som de sua dor era devastador.
— Vem, Alícia? — Santos disse, tentando tirá-la de lá.
— Todos podem ir. Eu cuido dela — eu declarei, impedindo Santos de se aproximar mais.
— Eu não vou deixar ela aqui. É o chefe dela e deve ter muitas ocupações — Santos insistiu.
— Eu não vou sair daqui! — Alícia disse entre soluços.
— Já ouviu? Ela não vai sair. Respeite a vontade dela, e fique tranquilo, eu cuidarei dela! — eu falei, lançando um olhar que fez Santos hesitar.
— Tudo bem, Alícia. Qualquer coisa, pode me ligar — ele disse, saindo do cemitério com os outros.
Fiquei ali, passando a mão pelos cabelos de Alícia, enquanto ela chorava inconsolável. O tempo parecia parar enquanto ela permanecia deitada sobre a terra.
— Vem, vou te levar para sua casa — eu disse, tentando levantá-la.
— Vem, por favor — insistir.
— Eu não quero ir para casa. Minha mãezinha não vai estar lá me esperando — ela respondeu, a dor evidente em sua voz.
— Posso levar você para a minha, então. Lá tem muitos quartos e você pode descansar um pouco — eu sugeri, e ela apenas consentiu com a cabeça.
Peguei-a no colo e a levei nos braços. Ao abrir a porta do carro, coloquei-a deitada no banco de trás. Depois, assumi o volante e dirigi em direção à minha casa, com uma pergunta martelando na minha mente: será que estava fazendo a coisa certa? Tentei me convencer de que era apenas um chefe preocupado com sua funcionária.
Alícia parecia perdida e, sem perceber, chorava, sentindo seu coração despedaçado. Ela chorou até adormecer.
Ao estacionar na garagem, percebi que Alícia dormia profundamente. Peguei-a no colo novamente e a levei até o quarto. Ao chegar, deitei-a na cama e pedi a Cármen que fizesse uma sopa.
— Quem é essa moça, patrão? — Cármen perguntou.
— É alguém que precisa de mim agora. Ela é muito especial para mim.
— E por que ela está assim, suja?
— Depois eu te conto, curiosa!
— Minha curiosidade não é para menos, é a primeira vez que vejo uma mulher nessa casa, sem ser as que já trabalham aqui.
— Ela é bonita, né? Olha, parece até uma princesa — Cármen disse, admirando a beleza de Alícia.
— Sim, uma linda princesa.
Após um banho voltei ao quarto de Alícia me acomodei na poltrona e fiquei admirando ela. Algumas horas depois, despertei com os gritos de Alícia. Ela estava de olhos fechados, tendo pesadelos.
— Não, mamãe! Mãe, não me deixa! Santiago maldito não toca em mim ! — ela diz angustiada, lágrimas escorre pelo seu rosto.
Ouvir ela dizer esse nome me fez lembrar do meu maior inimigo, Santiago, aquele que eu procurava há anos para vingar a morte dos meus pais. Aproximando-me de Alícia, percebi que ela estava ardendo em febre. Chamei Carmen.
— Cuida dela que vou ligar para o médico— pedi preocupado.
Não demorou e o médico chegou. Alícia continuou delirando e falando coisas que eu não entendia.
— Ela está ardendo em febre, mas com essa medicação aqui, ela ficará melhor — o médico disse, aplicando um remédio na veia.
Após o médico sair, voltei a velar pelo sono de Alícia, preocupado e ansioso, desejando que ela estivesse bem.
Quando abri os olhos, percebi que Alícia estava acordando. Ela me encarava, parecendo confusa, olhando ao redor.
— Que bom que acordou — eu disse, aproximando-me dela.
Imaginando que, depois de horas sem comer e tendo febre, ela deveria estar com sede e fome, perguntei:
— Você deve estar com fome e sede, né?
Alícia apenas afirmou com a cabeça. Fui até a cozinha, enchendo um copo com água. Assim que voltei, percebi que ela parecia ansiosa, então coloquei o copo em suas mãos.
— Aqui, beba — eu disse. Ela bebeu rapidamente, como se estivesse morrendo de sede. Fiquei aliviado ao ver que estava começando a se sentir melhor.
— Desculpa estar tomando o seu tempo. Eu acho que é melhor eu ir embora — Alícia falou, tentando se levantar.
Mas eu não podia deixá-la sair assim.
— Não, amanhã, se quiser, pode ir. Mas hoje já está tarde, e estamos afastados um pouco da cidade.
— Como assim? — ela perguntou, olhando para mim com uma expressão de surpresa.
— Eu moro um pouco afastado da cidade. Gosto de privacidade — eu expliquei, tentando transmitir a ideia de que ela estava segura ali.
A preocupação em seu olhar me fazia querer protegê-la. Eu sabia que, naquele momento, ela precisava de mim mais do que nunca.
Ela leva as duas mãos à cabeça e começa a chorar novamente. Puxo-a para os meus braços, apertando-a contra mim.
— Sei que nenhuma palavra vai diminuir a dor que está sentindo, mas saiba que você não está sozinha. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para te ajudar — digo, enquanto ela desaba em lágrimas.
— Dói tanto... minha mãezinha, tão linda e carinhosa, agora não está mais aqui comigo — ela diz, fungando e agarrada a mim.
— Respira fundo, tenta se acalmar. Vou preparar um banho quente para você. Enquanto isso, peço à Carmen para preparar uma sopa, tudo bem? — digo, e ela acena, concordando com a cabeça.
Ela deita na cama, encolhida e chorando. Preparo a banheira e, quando ela entra no banheiro, vou até a cozinha. Carmen já estava terminando de colocar a sopa na tigela.
— Ela está mal, Carmen... e me sinto impotente, sabe? Não posso tirar essa dor dela — comento, sentindo o peso da situação.
— Só o apoio que você está dando já faz diferença. Imagine o quanto seria difícil para ela estar sozinha na casa cheia de lembranças da mãe. Lembra como foi para o senhor? Não conseguia dormir na sua antiga casa... — ela diz, trazendo de volta memórias dolorosas.
— Verdade... E seu apoio naquela época foi o que me ajudou a passar por tudo isso — respondo, e ela me abraça.
Antes de entrar no quarto, passo no meu e pego um conjunto de moletom para ela vestir, já que suas roupas estão sujas de terra do cemitério. Quando volto, ela ainda está no banho. Coloco a sopa sobre a mesinha ao lado da cama e deixo as roupas limpas cuidadosamente dobradas.
— Alicia, deixei sua sopa aqui e uma roupa limpa para você vestir. Se precisar de alguma coisa, estarei na biblioteca — digo, mantendo a voz suave.
— Tudo bem... obrigada, senhor Ramon — ela responde, sua voz ainda carregada de tristeza.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Neide Lima
Eu aqui pensando na minha Mãe , na hora Eu nao sei agir assim 🤔mais depois de uma semana e que a minha Ficha Cai , em todos os meusomentos Doloroso Eu sou assim 😭cada um tem o sentimento diferente de se Expressar 🤔😭😭
2025-02-21
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Miguel Siotani
Perder a nossa mãe é uma dor que não dá pra expressar em palavras. O tempo não faz passar a dor e a saudade só aumenta. Mesmo tendo se passado 19 anos desde que minha mãe passou para o outro lado, lembro dos momentos que passamos juntos, do cheiro dela e não consigo falar dela sem que a saudade escorra dos meus olhos.
2025-02-25
0
Andréa Debossan
nossa, sei muito bem o que ela está sentido, é uma dor muito grande! Só quem passa que sabe,sinto falta da minha mãe até hoje, td que faço lembro dela, já tem 25 anos que ela se foi e ainda doi
2025-02-23
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