Saí sem entender o que havia acontecido. Aquele homem chamou muito a minha atenção, não só pela aparência, mas pela dor que ele carregava. Dava para ver nos seus olhos. Por um momento, quis abraçá-lo e perguntar o que havia acontecido para que tivesse um olhar tão triste. Talvez as pessoas ao redor não percebessem, pois quem o visse à primeira vista diria que era um homem sério ou até muito frio, mas eu conseguia enxergar que havia muito mais naquele olhar.
Ramon Castell
Fui até o banheiro para atender o meu celular, que tocava mais uma vez.
— Oi, Santos, o que houve? — atendi preocupada, pois sabia que o Santos, meu grande amigo, só ligava quando fosse urgente.
— A sua mãe está passando muito mal, estou a caminho do hospital, te espero lá.
— Tudo bem, já estou indo. Muito obrigada, Santos.
Desliguei o celular, ainda mais preocupada com a minha mãe. O peso da preocupação era constante, e a incerteza em relação ao tratamento me deixava angustiada. Decidi que precisava conversar com meu chefe, que sempre foi muito compreensivo e estava ciente do estado de saúde dela.
Esperava impaciente um táxi, mas, àquela hora da noite, era difícil. E com o frio que fazia, eu estava quase congelando. Cruzava os braços, tentando amenizar a sensação gélida, enquanto a frustração de não conseguir um táxi e a preocupação com a minha mãe me consumiam. Logo, lágrimas começaram a brotar, e eu chorei muito.
De repente, um SUV parou bem à minha frente. Abaixei a cabeça para secar as lágrimas, tentando disfarçar a vulnerabilidade que me dominava. A porta do carro se abriu, e uma figura masculina saiu, envolta em um casaco escuro. Ele se aproximou com um olhar atento, e, apesar da sombra que o cercava, reconheci o olhar penetrante que me deixara intrigada.
— Está tudo bem? — Aquela voz grave me era familiar. Quando levantei o olhar, vi que era o homem de olhar triste.
— Sim, está — menti, mas a minha voz trêmula e os olhos vermelhos de choro me entregavam.
— Mente muito mal — ele disse, notando claramente que eu estava chorando.
— Está muito frio e a essa hora é impossível aparecer um táxi. Vem, eu te levo até sua casa— ele me ofereceu carona.
— Eu não o conheço, então não posso aceitar a sua carona — falei, mas no fundo eu sentia confiança nele, e ele tinha razão. Eu não conseguiria um táxi àquela hora, e precisava ir ao hospital para ficar com a minha mãe.
— Eu não mordo, não sou um maníaco e prometo te levar a salvo ao seu destino — ele falou, esboçando um sorriso pela primeira vez.
— Tudo bem, eu aceito, mas não estou indo para casa, preciso ir até o hospital — respondi.
Ele abriu a porta para que eu entrasse e logo se acomodou ao meu lado.
— Vamos deixar a moça no hospital, Juarez.
— Sim, chefe — seu motorista respondeu, dando partida.
No caminho, eu o olhava de canto e percebia que ele também me observava. De repente, me dei conta de que não sabia o nome dele, e, após pensar um pouco, decidi perguntar.
— Eu ainda não sei o seu nome.
— Ramon Castell.
— O senhor é o Ramon Castell, das redes Castell Enlatados? — perguntei surpresa.
— Sim, eu mesmo — ele respondeu, achando engraçada a minha cara de espanto.
— Tentei várias vezes um emprego na fábrica que tem na minha região, mas não tive sucesso. Vocês são bem exigentes! — falei sem pensar, e logo me dei conta do que disse, ficando envergonhada.
— Me dê o seu número e mande o seu currículo em PDF. Se eu aprovar, terá um emprego — ele disse, e eu não pude conter e sorri sem acreditar de que o que eu acabei de ouvir era verdade.
— Sério? — perguntei. Conseguir um emprego fixo mudaria minha vida, e eu teria mais tempo para cuidar da minha mãe doente.
— Sim — ele confirmou, e eu abri um sorriso.
Ele pegou o celular, desbloqueou a tela e me mostrou para que eu digitasse o meu número. Com tudo de ruim que estava acontecendo ultimamente, conhecer esse homem foi como uma luz no fim do túnel, uma corda que me ajudaria a sair do poço.
— Chegamos! — ele disse.
— Muito obrigada, senhor Ramon.
— Foi um prazer ajudá-la. A propósito, como vai voltar para casa?
— Meu amigo Santos está aqui com a minha mãe, ele nos levará de volta — expliquei.
— Sua mãe, o que ela tem?
— Câncer. Ela está em tratamento, e às vezes se sente muito mal — falei, e ele me olhou por um momento como se refletisse minhas palavras.
— Não deve ser fácil, mas agora não vou tomar mais o seu tempo, sua mãe precisa de você.
— Mais uma vez, obrigada!
— Não precisa agradecer — ele disse com um sorriso gentil.
Corri para dentro do hospital e logo encontrei Santos na recepção.
— Ai, Santos, eu demorei muito, né? Como ela está?
— Fique tranquila, ela já está sendo atendida.
— Muito obrigada. Eu não sei o que seria de mim sem a sua ajuda.
— Não precisa me agradecer, faço de coração.
Enquanto isso, na minha casa, eu estava deitada ao lado da minha mãe, com o coração cheio de esperança, pensando também em Ramon. Ele era um homem difícil de decifrar, mas, por alguma razão, eu confiava nele. Esperava ansiosa pela manhã, torcendo para que ele me mandasse uma mensagem pedindo o currículo. Seria um sonho ter um trabalho fixo de carteira assinada, algo que me permitiria cuidar melhor da minha mãe.
As noites eram longas e exaustivas, mas eu sempre encontrava forças para continuar. O sorriso da minha mãe, mesmo debilitado pela doença, era o que me motivava. Cada dia, ao vê-la sentada no sofá, envolta em cobertores, eu sentia um misto de esperança e desespero. O tratamento estava custando mais do que eu imaginava, e a pressão financeira pesava em meus ombros.
Abracei minha mãe com carinho, pedindo em meu coração para que ela fosse curada. Já fazia um ano que ela lutava contra o câncer. Para pagar o tratamento, eu trabalhava como faxineira durante o dia e, à noite, como garçonete em eventos ou no restaurante, quando precisava cobrir algum funcionário que faltava.
Pela manhã, enquanto faxinava uma casa, eu olhava o celular de vez em quando, esperando por uma mensagem. Quando estava quase terminando, o celular começou a tocar. Era um número desconhecido. Pensei que poderia ser Ramon e atendi rapidamente.
— Alô! — respondi.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Claudia Oliveira
já tive um câncer sei como é difícil /Cry/
2025-02-21
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Gislaine Duarte
gostei dela ela é uma moça muito guerreira 😍
2025-01-20
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Cleide Almeida
nossa q barra ela tá passando 😥
2025-03-09
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