A manhã passa rapidamente, e meu avô me buscou junto com meu irmão:
- E aí, como foi seu dia maninho?
Alan:
- Foi legal, briquei com meu amigos. E você?
Eu:
- Foi normal que nem todos os dias.
Edgar:
- Sua mãe ligou, e amanhã ela vai vir buscar vocês.
Eu:
- Já? Eu não queria voltar pra lá.
Alan:
- Ah não Milena, volta com a gente.
Eu:
- Desculpe, maninho. Mas, eu vou voltar sim.
Alan:
- Eba.
Eu:
- Mas o velho já melhorou?
Edgar fica com uma cara triste, e responde:
- Sua mãe vai explicar tudo direito.
Eu:
- Tá bom.
Chegamos em casa, e vejo minha mãe com uma cara bem abatida. Vestindo um vestido preto, um salto preto, descemos do carro. Dona Ceci se aproxima:
- Preciso conversar com vocês, principalmente o Alan. Mas, quero falar com você antes.
Eu:
- Que cara é essa?
Minha avó pega o pequeno, e o leva para o andar de cima. Cecília fala:
- Houve uma complicação na cirurgia dele...e...e ele não resistiu e morreu.
Eu:
- O quê?
Cecília se emociona e responde:
- Sim, Milena. Eu perdi o meu amor pra sempre!
Ela chora bastante, e diz:
- Não sei como vou falar isso pro Alan, ele ama tanto o pai.
Eu:
- Mas precisa contar, se não ele vai descobrir da pior maneira possível.
Cecília:
- Sim, eu vou contar.
Eu:
- Marina foi ver ele?
Cecília:
- Foi sim, mas depois que contei sobre a morte. Ela ficou em estado de choque e disse que viria para o velório.
Meu avô se aproxima e abraça a filha:
- Meus pêsames, minha filha.
Cecília:
- Obrigada, pai.
Eu:
- Vou entrar, com licença.
Entro e subo pro meu quarto, troco de roupa, visto um macacão preto, e continuo com o mesmo tênis. Desço, e vejo meu irmão chorando e minha mãe em prantos também. Ele corre e abraça minhas pernas:
- Milena...eu...eu perdi meu pai, agora eu não tenho mais pai...não tenho.
O abraço, e digo:
- Olha, seu pai foi um homem muito bom e tranquilo. Ele nunca vai te abandonar, já viu a noite estrelada?
Alan:
- Já.
Eu:
- Uma daquelas estrelas é seu pai, quando sentir saudades, olhe para a estrela que é ele.
Alan:
- Sério?
Eu:
- Sim, Alan.
Ele me abraça e continua chorando baixinho. Me dói muito ver meu irmão assim, inconsolável e triste. Perder um pai deve ser horrível para quem tem pai presente. Confesso que nunca saberei o que é isso; meu pai sumiu, isso explica muita coisa.
A minha mãe nos chama:
- Vamos, pessoal.
Minha avó diz:
- Oh minha filha, nos vamos levar vocês lá.
Cecília:
- Obrigada, mãe.
Todos se reúnem, e entram no veículo. Após alguns minutos, chegamos na capela. Descemos e entramos lá, minha mãe cai no choro novamente.
Marina estava lá junto com o namorado rico, calada e chorando bastante. Me aproximo, e a abraço:
- Meus pêsames, Marina.
Marina:
- Obrigada, Milena.
Eu:
- Você não tem culpa de nada viu, foi uma fatalidade. Acontece, sabia disso.
Marina:
- Eu sei, mas não consigo parar de sentir culpa.
Eu:
- Não carregue um fardo que não é seu, ele poderia ter morrido mesmo, se não tivesse ocorrido aquela briga.
Marina:
- Ai, dói demais. Ele morreu me odiando, nem tive a chance de ser perdoada.
Ela se emociona, e me abraça novamente:
- Ai, Milena não sabia que isso aconteceria.
- Não tinha como prever, Marina.
O namorado dela chama ela:
- Marina, sua tia estar te ligando.
Marina:
- Não vou atender, ela me detesta desde que eu nasci. E agora tem mais motivos, Pedro.
Ah o nome dele é Pedro, e ele a responde:
- Ok, ah não me apresentei, sou Pedro Mendonça. Prazer conhece - la.
Eu:
- Um prazer, sou Milena. Sou filha da madrasta dela.
Pedro:
- Ata, Marina o meu celular estar a tocar, preciso atender.
Se afasta, e pergunto:
- Onde conheceu ele?
Marina:
- Num bar chique que fui com Taissa, minha amiga rica.
Eu:
- Como foi que o seu pai descobriu tudo?
Marina:
- Foi a Helena, uma agora ex-amiga. Ela me chantageou, e não cedi. E aí ela me fodeu.
Eu:
- Vish.
Marina:
- Você sabia?
Eu:
- Sabia sim, por causa da tia de Alicia que é sócia num clube. Vi você e ele juntos, mas nunca contei pra ninguém, não era da minha conta. Cada um com a sua vida.
Marina:
- Eu não mereço nenhuma bondade sua, mas você mesmo assim nunca me entregou. Te agradeço, Milena.
Eu:
- Não devolvo o mal com mal, pode ficar tranquila.
Marina:
- Entendi.
Eu:
- Não vai se aproximar do caixão?
Marina:
- Não posso, não tenho mais esse direito.
Eu:
- Entendo, mas você não tem culpa.
Marina:
- E você?
Eu:
- Antônio não gostava de mim, era indiferente.
Marina:
- Verdade, estar aqui pela sua mãe?
Eu:
- Por ela e Alan, olha como ele estar. Alan!
Ele se aproxima:
- Marina, você veio?
Marina:
- Vim pirralho, por nosso pai.
Alan:
- Quer um abraço?
Marina:
- Quero sim.
Se abraçam, e o namorado dela retorna. E me pergunta:
- Aquele é Alan?
Eu:
- Sim, o meu irmão por parte de mãe. E irmão por parte de pai da sua namorada.
Pedro:
- Ela sempre fala dele, é um garotinho muito gentil.
Eu:
- Sim.
Alicia, Talita, Dona Sônia e Juliano chegam, falo com Pedro:
- Com licença, vou falar com os meus amigos.
Pedro:
- Tudo bem.
Os recebo, e digo:
- Vocês vieram, que bom. Oi, amor.
Juliano:
- Como você tá?
Eu:
- Bem, só um pouco triste.
Alicia:
- Meus pêsames, amiga.
Talita:
- Meus pêsames, Milena.
Sônia:
- Sinto muito, Milena. Cadê a sua mãe?
Eu:
- Tá inconsolável.
Sônia:
- Imagino.
Eu:
- Assim ali, lista de presença no velório.
Assinam, e entram no recinto. Alicia e Talita foram falar com Marina, e Juliano me agarra:
- Aqui não, Juliano.
Juliano:
- Verdade, desculpa. Como foi isso?
Eu:
- Houve uma complicação na cirurgia dele, e ele foi de comes e bebes.
Juliano:
- Vish.
Um padre surge para fazer a extrema unção dele, e chama todos. Compareceram além dos meus amigos, Dona Sônia, uma prima de Antônio chamada Pilar, e a irmã dele Ana, uns amigos dele, Marina, Pedro e a mãe de Marina. Cristina Feitosa, acompanhada com a sua acompanhante e cuidadora, Jussara.
O vigário solicita que todos rezem um pai nosso, ave - maria. Em seguida, recita um Salmo que esqueci o número. E a minha mãe lê uma carta deixada por ele:
- "Querida Cecília,
Pensei em não escrever isso, mas foi necessário. Sabia que você e os meus filhos Alan e Marina são os maiores amores da minha vida, nunca amei uma mulher como eu te amei. Nunca esperei encontrar um amor, mas quando te vi naquela loja, tive a certeza que não ia te largar nunca.
Mesmo sabendo que já tinha uma filha, Milena, não me importei, posso ser padrasto dela. A sua filha é uma menina boa e gentil, mesmo ninguém merecendo essa bondade e gentileza. Se algo ocorrer comigo ou eu morrer primeiro, sabia que a nossa casa é sua, meu negócio também, estar tudo no testamento que fiz no dia 20 de maio de 2019, uma semana após o nosso casamento.
Eu te amo muito, amo meus filhos, amo minhas irmãs Ana Isabel e Íris, e todos os meus parentes, amigos e familiares. Vou sentir muita falta, muita mesmo, mas sabiam que estou num lugar melhor.
Sabiam disso e nunca se esqueçam de mim, que nunca esquecerei vocês. Foi ótimo viver, esses anos todos na companhia de todos.
Com amor e saudade,
Antônio Fontes Almeida."
Todos se emocionam com as palavras escritas por Antônio, Marina estar em prantos, sendo consolada por seu namorado. Após isso, Marina lê uma carta, que escreveu para seu pai no dia anterior:
- "Pai,
Sei que o senhor não quer me ver, ou falar comigo. Mas, saiba que amo muito o senhor, apesar de tudo. Perdoou o senhor, mesmo que não se importe com isso, comigo. Sei que não lerá isso, sei que me ignorará, mas escrevo mesmo assim. Te amo mesmo que não esteja mais aqui, mesmo sem ter tido a oportunidade de me despedir do senhor. Me dói demais, é uma dor dilacerante. Onde estiver, te peço perdão do fundo do meu coração. Te amo pra sempre, pai.
Com amor,
Marina F. Fontes Almeida."
Todos aplaudem, e o caixão é levado para o carro funerário rumo ao cemitério da cidade. Depois de vinte minutos, chegamos para o enterro, no mausoléu da família Fontes Almeida.
A minha mãe joga a aliança de casamento no caixão, um pouco de terra e uma rosa, meu irmão e Marina jogam uma rosas-brancas, e eu um girassol. Em seguida, todos jogam rosas-brancas na cova. Os coveiros colocam a terra, e após uma hora tampam a sepultura com um mármore branco. E todos começam a aplaudir. Na saída, Marina vê a mãe dela:
- O que você tá fazendo aqui, Cristina?
Cristina:
- Vim saber como estar?
Marina:
- Estou bem melhor, quando estou longe de você. Vamos, Pedro quero ir pra casa.
Pedro:
- Claro, amor.
Marina avisa pra mãe:
- Some da minha vida, entendeu Cristina Feitosa. Esqueça que sou sua filha, adeus.
A filha de Antônio se despede de mim, Alan, mãe:
- Espero que um dia me perdoe, Cecília. Tchau, Milena mantenho contato, tchau pirralho. Até logo, Cecília.
Cecília:
- Tô muito magoada, Marina. Mas, mesmo assim, quero que seja muito feliz. Até logo.
Me sinto triste, e com aquela mesma sensação de estar sendo observada. Devem ser devaneios fruto do cansaço.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 58
Comments
Lucilene Palheta
ela sabe que tem um assassino a solta ,se sente vigiada constantemente e não fala nada ,poxa ,deveria falar pra alguém, mas só de pensar que somos assim TB ,sempre achando que pode acontecer com os outros mas nunca conosco é terrível . só paramos quando já é tarde pra qualquer coisa 🙂
2024-11-11
3