CAPÍTULO 3...

KILIAN...

Me senti tocado com a história do pequeno Pedro, o pai dele parecia estar desesperado. Fui transportado para dois anos atrás, quando o meu sobrinho passou por isso... A minha irmã Joe quase sucumbiu...

Confesso que nem pensei direito antes de aceitar ir até o Brasil salvar esse menino. Quando saí do hospital algumas horas depois, a primeira coisa que fiz foi ir até o cemitério, eu sei, não ajuda em nada com a minha depressão, mas... A Mel não está enterrada aqui, os pais dela pediram que cremasse e levaram as cinzas, eu já disse que eles me culparam por tudo? Pois é...

Chego no cemitério e vou até o mausoléu da família, foi uma coisa que os meus bisavós mandaram fazer antes de falecerem, pois, segundo eles, a família era grande e todos sabíamos que um dia o pior aconteceria, e nada seria mais "reconfortante" — e como... palavras do biso Ed — do que estarem todos reunidos.

Os meus avós Ed e Mag se foram no mesmo dia... A minha vó teve uma complicação cardíaca e teve que ser internada com urgência, o meu avô ficou ao lado dela o tempo todo, foi... Lindo e triste demais, assistir à cena deles dois se despedindo, meia hora depois que os aparelhos da minha avó apitaram, o meu avô se foi. No relatório de óbito, a causa foi literalmente "coração partido", pois um não suportou ficar sem o outro.

Os outros dois... Bruce e Corina... Faleceram em casa, dois meses depois dos melhores amigos Ed e Mag, foi uma dor sem igual, pois eles se foram no meio da noite, estávamos todos dormindo, não tivemos como nos despedir como dos pais da minha mãe...

Me sento no banco que tem ao lado das tumbas deles quatro, e sinto os meus olhos arder, queria tanto voltar no tempo...

— Vovós... Vovôs... Estou indo para o Brasil... Vocês com certeza sabem o que pode acontecer lá, já aconteceu várias vezes na nossa família... Por favor... Cuidem de mim daí de cima...

Já faz 15 anos que eles se foram, e mesmo assim... Ainda venho conversar com eles pelo menos uma vez no mês. Eu amava os meus bisavós, eles eram tudo pra mim.

Saio do cemitério e decido passar na casa dos meus avós Josh e Nique, não fui para o jantar ontem, quero me desculpar e também... Estou precisando de um colo de vó. E só a dona Nique pode me dar isso agora, já que a minha outra avó mora na Itália.

Paro o meu carro na garagem enorme e sigo até a entrada da casa, assim que entro, noto tudo o maior silêncio. Essa casa não é tão silenciosa assim, procuro pelos meus avós e encontro os dois na varanda, observando o jardim.

Ambos já tem os cabelos brancos feito neve, meu avô diz que isso é estilo e a prova de que tem experiência de vida. Não julgo. A minha vó... Bom, ela continua sendo a mesma mulher doce que sempre foi, os seus olhos verdes como a primavera no seu auge, sempre me arrancou sorrisos.

Abraço os dois assim que me aproximo e deixo um beijo em cada um.

— Meu netinho querido... — a minha vó fala, carinhosa como sempre.

— Oi vozinha — o meu avô tem um sorriso largo no rosto — oi meu coroa...

— Me respeita garoto, se eu bater a minha bengala nas suas canelas, você fica sem andar por um bom tempo.

Ele fala nos fazendo gargalhar, abraço os dois e me sento aos seus pés, cruzando as pernas, a minha vó faz carinho nos meus cabelos, segundo ela, sou a cópia do meu pai, na personalidade e fisicamente.

— O que está te afligindo, querido? — eu não disse que essa mulher é o máximo?

— Vou tirar as minhas férias... Adiantei elas — o meu avô levanta a sobrancelha — surgiu uma cirurgia importante... E... O responsável pelo paciente me ligou implorando para ir até lá opera-lo.

— Qual a gravidade do paciente?

— Em estado agravante... Cada dia que se passa, pior ele fica. É uma criança, vô... Brasileiro — os dois trocam um olhar — dá pra parar vocês dois? Eu não consigo ouvir vocês por telepatia — cruzo os braços feito criança emburrada e eles dão risada de mim.

— E esse coraçãozinho, filho? — oh vó...

— Se curando... — dou um pequeno sorrisinho, mas é claro que não convenci eles.

— Tô vendo, Kilian! Tô vendo — meu avô, como sempre — bom, está na hora dos meus remédios, Kilian, me acompanha, filho?

Levanto a sobrancelha e vou com ele, a minha vó continuou sentada na varanda, olhando para o jardim dela. Acompanho o meu avô que mesmo sem aquela bengala estilosa dele, anda normalmente, acho que ele só usa ela para se sentir mais velho e bater nos netos, outra coisa não é, tenho certeza.

— Me diga, meu neto — me atento as suas palavras — porque aceitou tão fácil, essa cirurgia no Brasil?

— Não foi lá que os meus pais se conheceram?

— Você espera encontrar um amor assim como eles, lá no Brasil, ao "acaso"?

Paro no meio do caminho e encaro o meu avô, será que eu estou indo para o Brasil, apenas por ter essa esperança de encontrar a minha alma gêmea lá? Não acredito que seja isso... Faz apenas sete meses que perdi a Mel. E eu não sou tão sem coração assim, não sou um cafajeste...

Entramos no escritório do meu avô, ele vai até o cofre e eu levanto uma sobrancelha, ele não ia tomar os remédios? Fico esperando para saber o que ele vai tirar do cofre, e quando ele volta, tem um objeto coberto por uma pequena flanela preta.

Ele me entrega e eu toco o tecido com cuidado, parecia ser algo de metal envolto pelo pano, a julgar pelo tilintar da peça, abro o tecido e dou de cara não com apenas um anel, mas dois e um relógio de bolso.

— Era dos seus bisavós. Os anéis... Do meu sogro, o pai da sua mãe, e o relógio... Do meu pai. Você era o mais apegado a eles, e sei o quanto eles sempre acreditaram em você.

— Porque tá me dizendo isso, e me dando essas coisas, vô?

— Você tinha que puxar a lerdeza do seu pai — fala revirando os olhos — eles me pediram para te entregar, Kilian. E que fosse, de preferência, num momento importante da sua vida, para você sentir a presença deles com você — assinto ainda um pouco confuso — ouça... Sei que nesse momento, tudo o que você menos quer, é se relacionar outra vez, acredite, não preciso que você me diga com todas as letras, mas só pelo fato de você mesmo acreditar que pode encontrar a sua alma gêmea no mesmo país que os seus pais... Só isso já mostra que esse seu coração não só quer, como precisa de alguém que cuide dele.

Fico calado, olhando para os três objetos na minha mão, até parece que o meu avô adivinhou que eu tinha vindo do cemitério. Dou um sorriso para ele e coloco os anéis, guardo o relógio no meu bolso e abraço o meu avô.

Saio do escritório dele e vou dar um abraço na minha avó, ela sorri quando deixo um beijo na sua bochecha, vou para a minha casa pensando em tudo o que o meu avô disse, sei que não estou pronto para um novo amor, mas o meu coração está implorando por alguém que o ame.

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