Roubada

Ponto de vista de Ágata

Respiro rápido quando chego em casa.

- Isso não pode estar acontecendo comigo!

Recebi uma mensagem do meu gerente no banco falando sobre a hipoteca da casa.

Aquele desgraçado hipotecou a casa primeiro, depois, antes de dar entrada no divórcio, ele praticamente raspou as contas conjuntas. Assim que o divórcio foi homologado e entraram em contato com o banco, Conrad me avisou.

Pierre encerrou as contas dele no banco, que era pra não correr o risco de ser barrado facilmente.

Entro no banheiro e pego um comprimido de calmante, preciso me acalmar antes de mais nada.

Antes que o remédio faça efeito eu grito de um jeito forte pra extravasar, eu não posso acreditar que depois de todos esses anos ele foi capaz de fazer isso comigo.

Meu telefone toca e eu vejo o número de Leon na tela.

💭Ah, dá um tempo!💭

Jogo o celular de lado e me sento no colchão pensando no que vou fazer agora, quando meu celular toca de novo eu viro a tela e vejo que é Marise.

Atendo chorando e ela logo se mostra preocupada comigo.

📲🔊 - O que está acontecendo amiga?

Dou um suspiro.

📲🔊 - Pierre hipotecou a casa há um ano e meio atrás e pagou as prestações até sair de casa, assim que foi morar com Sophie ele raspou as nossas contas, me deixou praticamente sem nada e deixou de pagar o empréstimo. Meu gerente do banco mandou a mensagem pra dizer que a financeira está quase executando a hipoteca.

Ela solta um palavrão do outro lado da linha.

📲🔊 - Qual é o valor dessa hipoteca?

Aperto meus olhos de um jeito forte.

📲🔊 - Dois milhões e duzentos mil euros. Esse desgraçado fez isso pra comprar um apartamento, o mesmo em que ele se enfiou com aquela vagabunda. Ele fez isso comigo, já não bastava a humilhação da traição, ele ainda me roubou desse jeito.

Marise tenta me acalmar.

📲🔊 - Amiga, me escuta, eu vou entrar com um recurso de emergência. O banco não vai executar essa dívida assim, vamos provar a má fé dele e vamos dar um jeito dele te pagar o que deve.

📲🔊 - Ai Mari, de onde eu vou tirar esse dinheiro? E mesmo que o banco seja obrigado judicialmente a me deixar parcelar, eu tenho certeza de que o valor vai ser absurdo. Pierre ganhava muito mais do que eu, sempre ganhou, eu aposto que meu salário vai ser o suficiente apenas pra pagar essa dívida, sem contar nos juros absurdos que vão correr com o parcelamento. Vou trabalhar até meu ultimo dia de vida pra pagar essa merda, a casa agora é minha. Dever ao banco é o mesmo que dever ao diabo!

Isso é uma merda, e das grandes.

📲🔊 - Amiga, eu vou conversar com François, vou pedir a ele pra te ajudar, sabe. Tanto no jurídico quanto no financeiro, nossos recursos são todos investidos, vai demorar um pouco, mas podemos te emprestar se ele concordar. Você nos paga de pouco em pouco, não se preocupa.

Desabo na cama com o telefone na orelha.

📲🔊 - Ai Amiga, eu te agradeço, mas não estou precisando de dois euros pra comprar um croissant. É uma quantia muito alta, François vai ter um ataque quando você disser isso a ele, eu não quero causar estresse entre vocês dois. Aceito o apoio jurídico, mas não precisa se incomodar com o resto.

Encerro a ligação com ela e choro ainda mais, não sei o que fazer da minha vida.

********

Peguei um atestado com Jaqueline, eu não tenho condições de pensar em nada. Ela me forneceu oito dias pra colocar a mente no lugar.

Quando iniciei esse processo de divórcio eu não tirei uns dias pra isso porque o trabalho era bom pra distrair, mas agora eu tenho um problema de olhos azuis acinzentados e cabelos marrons lá que não me deu sossego no restante da semana em que fui.

Tenho pensado no que fazer enquanto François movimenta o embargo da execução da hipoteca.

Pego meu telefone e ligo pra Anabeth.

Talvez se eu dançar algumas vezes na semana eu consiga fazer o dobro do meu salário. Não tirei uma grana ruim estando lá, pode ser uma boa alternativa.

📲🔊 - Oi, Ági, você sumiu!

📲🔊 - Oi Ana, eu estou com alguns problemas, mas não quero falar sobre isso agora, quero fazer uma pergunta: você acha que Lumier me deixa voltar a dançar? Mas eu agora preciso ir mais vezes que o final de semana só, pensei em ir de quarta a sábado.

📲🔊 - Claro que deixa, mas por quê? Está precisando de grana?

Inspiro e expiro com força.

📲🔊 - Estou sim, aquele maldito do Pierre me deu uma rasteira, estou quase perdendo o meu teto.

📲🔊 - Que droga, hein?! Eu vou falar com ele e pedir pra te fazer algo legal, quem sabe um show no palco principal? Mais gente vai te ver e mais dinheiro vai entrar.

📲🔊 - Isso! Ai, fala com ele pra mim, por favor.

********

Marise e eu viemos até a sala de François.

- Bom Ágata, foi difícil, mas eu consegui fazer o processo de execução parar. Vamos agora negociar com o banco, vou tentar diminuir os juros, Mari me falou sobre o que Pierre fez com você e vamos te ajudar. Você nos paga sem correções monetárias.

Ah, que alívio!

- Enquanto a negociação de juros acontece eu vou mexer em uma das minhas contas e levantar o dinheiro.

Marise e o marido tem uma excelente vida financeira, ele é um advogado de prestígio e ainda trabalha há muito tempo pro senhor Duran, então eu sei que possuem recursos pra isso. Estou agradecida por eles me emprestarem esse dinheiro, melhor eles do que o banco, mesmo ainda levando a minha vida toda.

- Eu nem sei como agradecer vocês dois.

- Não pensa nisso agora, pensa no que vamos fazer com Pierre. Eu não quero te desanimar, não mesmo, mas é bem provável que ele tenha tirado tudo do próprio nome, se tiver algo vai ser coisa boba. Só o fato dele ter encerrado a conta no banco que vocês tinham, já indica isso.

Mas é claro que ele faria algo desse tipo.

- Vai ser difícil arrancar algo dele, é bem capaz que tenhamos que entrar com uma penhora de salário.

Que ódio que eu estou desse homem!

********

Confiro meu visual no espelho. Vou solar pela primeira vez aqui, e estou usando uma fantasia sexy de piloto de avião. Uma música vai ser no palco, depois eu me concentro nas danças, seja pelo salão ou nas cabines.

Giro pelo mastro principal quando River começa a tocar e sensualizo ao máximo, ganho uma boa grana no meu decote, mas só vou contar no camarim.

Assim que a minha dança acaba eu saio do palco pela cortina de trás e Lumier vem atrás de mim.

- Troca de roupa rapidinho, tem gente que já pagou por você em uma mesa no salão e tem fila de espera.

Ótimo!

Guardo minhas notas em um armário com cadeado e deixo no guarda volumes. Me livro da fantasia e coloco uma roupa nova combinando com uma nova máscara, um conjunto de paetês curtinho.

Ando pelo salão sorrindo e chego na mesa que me contratou. Tem até mulheres no meio.

Aqui eu ganho mais dinheiro, são seis pessoas e estão bem animados.

Danço em mais duas mesas pelo salão e quando são quase uma da manhã eu tenho o último cliente. Sei que a quinta vai ser pesada no escritório, mas não posso dispensar ninguém.

- O que tem pra mim agora?

Lumier abre um sorriso.

- O senhor Duran.

Aaaah, cacete!

- Você avisou pra ele, Lu?!

Ele faz um beicinho.

- Ele paga muito pra te ver, a comissão boa que você ganha vem daí, a minha também, colabora comigo e a minha aposentadoria.

Respiro fundo e ando até a cabine.

- Oi, senhor Duran.

- Só Leon, Ágata.

Faço um gesto de cabeça.

- Tudo bem... Oi, Leon.

Ele está bem vestido, blazer bem cortado e camisa social branca aberta no colarinho expondo a corrente de ouro no pescoço.

- Se senta aí, vou dançar pra você.

Ele nega com a cabeça.

- Eu não vim aqui pra te ver dançar, eu vim pra conversar. Você tem fugido de mim, voltou ao trabalho e não me deu oportunidade alguma de estar perto, ao menos tira essa máscara, me deixa te olhar.

Solto o ar com força e tiro a máscara do rosto.

- Por que resolveu voltar a dançar? Disse que não viria mais.

Me sento no sofá ao lado dele.

- Precisva distrair.

Ele parece não acreditar.

- Você dançava uma e ia embora, está aqui a noite inteira, eu tive que te esperar até agora. Está precisando de dinheiro?

Muito, mas ele não tem que saber disso.

- Não, eu só queria algo diferente mesmo.

Sou surpreendida por um carinho no rosto.

- Me deixa te beijar de novo.

Fecho meus olhos e subitamente sou tomada por um cansaço na alma, não seguro a lágrima solitária e Leon enxuga.

- Falei algo de errado?

Abro meus olhos e o encaro vendo que me olha preocupado.

- Leon, você parece ser um homem incrível, aquele beijo que nós demos aqui foi perfeito, mas não posso te dar o que procura. Eu estou cheia de problemas, não sirvo pra trocar nem meia dúzia de palavras.

Ele se aproxima bem de mim no sofá e afasta uma mecha de cabelo minha.

- Isso quem decide sou eu!

Ele me beija com tudo, enfia as mãos na raiz do meu cabelo e eu acabo soltando um gemido baixo quando Leon me deita no sofá se deitando de lado comigo.

Quando ele me solta eu estou respirando rápido, Leon suga meu lábio inferior devagar e olha bem nos meus olhos.

- Me deixa te conhecer um pouco mais, eu tenho pensado muito em você. Se é solteira e eu também eu não vejo motivos pra me afastar assim.

Balanço a minha cabeça de leve pra fazer meus pensamentos se organizarem.

- Quer conhecer melhor uma dançarina de Pole Dance? Acho que isso vai pegar mal pra você.

Ele faz uma careta enquanto afasta uma mecha de cabelo minha.

- Não ligo para o que os outros possam pensar. Escuta, sai pra jantar hoje comigo?

Ain... sair com esse homem deve ser o sonho de qualquer mulher, mas não dá, preciso dançar hoje.

- Final de semana é complicado pra mim.

Tenho apresentações marcadas ate sábado.

- Lumier me falou que você está fixa aqui de quarta a sábado, por quê?

Empurro Leon de leve pra que ele saia de cima de mim e eu converse com ele em uma posição decente.

- Já te disse, eu queria algo diferente.

Ele estreita os olhos pra mim.

- No domingo então?

Aaaah, meu Deus!

Ele é insistente.

- Eu te mando uma mensagem, pode ser?

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